25.5.08

dia de ventania

Odeio o vento.
Quando vou na rua e o cabelo vem todo para a cara. Quando se cola à boca quando acabei de por batom para o ceeiro que é, já agora, de 10 em 10 minutos. Mais pelo hábito que pelo ceeiro que, coitado, nem chega a ter hipóteses de aparecer.
A maneira como o vento é tão insistente, como não pára mas, acima de tudo, como está tão fora do meu controlo. O barulho que faz a noite inteira a passar pelo bocadinho da janela que deixei aberto e que tenho preguiça de me levantar para fechar porque, quando estou deitada, parece que a janela está a quilómetros de distância e não a 10 centímetros.
Odeio.

Só não odeio o vento quando me apetece estar ao vento. Um dia de Inverno, um passeio a pé por qualquer lado. Uma fita no cabelo e um casaco quentinho. Uma companhia boa e nem me importar com as lágrimas que me saltam dos olhos por causa do ar frio que lhes bate. Verdade seja dita, radiantes ficam as lágrimas por finalmente terem uma razão para saltarem, tão empilhadas que andam sempre atrás dos meus olhos à espera de uma desculpa para descerem pelas minhas bochechas redondas abaixo.

E odeio a chuva.
Naqueles dias em que parece que os guarda-chuvas desaparecem todos cá de casa, apesar de serem todos meus. Ou quando tenho pressa e aqueles 3 segundos entre fechar o guarda-chuva e fechar a porta do carro são suficientes para ficar ensopada. Quando acabei de esticar o cabelo e mesmo apesar de não apanhar nem uma gotinha de água ele sabe, pura e simplesmente, que aquele é um óptimo dia para ficar em pé de manhã à noite.
Quando os sapatos ficam molhados, pior, quando as mãos ficam molhadas e já nem conseguimos tocar em nada!
Odeio.

Só não odeio quando gosto. E quanto gosto… adoro. Quando não me importo de ficar com os meus caracóis no ar, quando estou com alguém que olhe para mim e se desfaça a rir e me diga que bom, finalmente me vê de caracóis. Porque fico tão mais gira. Porque verdade seja dita, uma pessoa que não goste dos meus caracóis… até me pode achar uma princesa mas para mim é irrelevante. É o mesmo que me dizerem “és giríssima, mas gosto mais de te ver toda pintada de azul”.
Mas não há nada melhor que um bom passeio à chuva, com umas botas confortáveis por cima das calças, com um guarda-chuva gigante que não tenha que partilhar porque, e isto é muito sério, não há nada pior que partilhar guarda-chuvas! Não resulta para ninguém!
E quando não há guarda-chuva e não há onde me abrigar. E a chuvada é tanta que já me pingam gotas das minhas pestanas gigantes. Quando a única solução é rir às gargalhadas e o que mais apetece é dar voltas e voltas de braços estendidos.
Aí é perfeito. Adoro a chuva.

Acho que o que eu quero dizer é que por muito que goste de todas as situações em que me possa encontrar, odeio sentir que estou nelas sem as conseguir controlar. Faz-me confusão encontrar-me num sítio em que tudo o que me rodeia está fora do meu controlo, em que não consigo tocar no interruptor que desligue tudo e em que não sirva de nada eu gritar “Chega! Não quero mais! Chega de chuva na minha cara neste momento!”.

Mas ultimamente acho que sinto isso em relação à minha vida.
E daí, se calhar é por isso mesmo que não tenho escrito.
Porque estou a passar tanto tempo a olhar à minha volta e a tentar perceber o que se está a passar, à procura dos interruptores de cada situação para ver se ganho controlo de alguma coisa… Mas a verdade é que não percebo nada. Todos os dias mudo de ideias em relação a tudo. As certezas de uma manhã não são as mesmas à noite. As vontades que tenho de lutar por uma coisa ou de lutar por mim desvanecem-se num segundo e volto a ficar insegura.
Porquê escrever se me vou arrepender passadas algumas horas?
Não faz sentido.

Mas também não faz sentido esta fase que estou a viver.
Não faz sentido não saber o que sinto em relação a coisas importantes na minha vida. Não ter certezas. Das poucas certezas que tenho, não as conseguir interpretar, compreender, controlar.
Faz-me confusão.
Eu sei que a vida deve ser feita de surpresas, de indecisões, de momentos inesperados que nos fazem tomar decisões todos os dias. Mas eu não tenho decisões para tomar porque está tudo fora das minhas mãos. A minha opinião não interessa. A tua, nunca ma dirias.
E eu só queria um bocadinho de lucidez.
Uma certeza qualquer que me mostrasse onde estou. Onde me encontro. Para onde vou. Que fase é esta que estou a viver. Quando é que vai acabar? Já é esta a fase final ou vem lá mais qualquer coisa?
Eu acho que não, que não vem lá mais nada. E tenho a certeza que tu também achas que não.
Mas isso não me deixa nem melhor nem pior. Continuo neste limbo em que estou há meses sem conseguir descrever se isto me faz bem ou me faz mal. Quando ponho tudo na balança o resultado é injusto porque, verdade seja dita, não temos propriamente coisas más para pesar. As coisas más, a existirem, resolvo-as comigo própria ou com quem me queira ouvir.

Acho que o que me faz parar para pensar é realmente a falta de controlo que sinto. Tanto me fascina, como me assusta.
Tanto me põe a pensar que mereço tão mais, porque mereço, como me faz ver que neste momento não tenho paciência, energia, vontade de controlar mais do que isto.
Tão estranho.
E é tão estranho não falar nisto.

Tanto és o meu passeio perfeito ao vento em que nada me preocupa e nada me incomoda como és a ventania que eu não consigo controlar e não consigo fazer parar para te perguntar o porquê disto tudo. Para onde é que vais e se me estás a levar contigo ou não.
E eu, será que queria ir?