18.4.11

ponto de ebulição

Perdi as forças.

Sei que é temporário, que elas já voltam. Mas neste momento, perdi-as.

Apetece-me gritar, barafustar, bater em alguém.

Em vez disso? Continuo aqui sentada, calada e com um ar calmo e sereno. As lágrimas que caíram silenciosas enquanto ouvia a notícia de que afinal não era esta semana o seu regresso, essas lágrimas fui à casa de banho limpá-las. Mas foram tão calmas que nem marcas deixaram. Nem a cara encarnada, nem os olhos esbugalhados. Ninguém deu por nada.

Falam comigo e ninguém percebe nada.

O que é que eu posso fazer?

Podia fazer uma birra tremenda. Podia descer as escadas, tenho a sorte de ter a minha melhor amiga no mesmo edifício que eu, podia-me fechar com ela na casa de banho e chorar nos seus braços até isto me passar.

Podia explodir, mas não quero. Porque sei que ainda não acabou, que o tormento ainda vai a meio, que ainda vou estar mais perto do ponto de ebulição do que aquilo que estou agora, apesar de agora isso não me parecer possível!



A minha mentalidade de pessoa educada na religião católica leva-me a assumir cada obstáculo na vida como uma consequência de algum erro meu. Ou então cada dificuldade que se me depara como sendo responsabilidade minha, que não estava preparada, que não merecia ainda a coisa boa que desejava.

E então, como querida menina habituada a carregar as suas cruzes às costas, já tentei tirar todas as lições de vida possíveis e imaginárias desta situação.

Porque se, na verdade, tudo o que eu mais queria no mundo era ver o meu namorado à frente. Se tudo o que eu fiz para que isso acontecesse da melhor forma foi, na minha opinião, um batido de preparativos perfeitos e meticulosamente organizados de forma a que tudo o que eu mais queria no mundo corresse da melhor forma possível. Se mesmo assim ele não conseguiu vir, então é porque alguma coisa estava mal.

Dei voltas e voltas à situação.

Foi porque me preparei de mais, foquei-me mais nele e em tudo o que ele poderia querer ou gostar. Então fiz por me preparar menos, deixei certas coisas caírem fora do sítio e pensar mais noutros assuntos.

Foi porque estava mais centrada nele do que em mim. Achei que era normal, não o via há 2 meses. Então foquei-me totalmente em mim, vou ao ginásio diariamente e giro a minha vida de uma forma perfeitamente saudável e equilibrada.

Foi porque quis tanto que ele voltasse. Então agora finjo que não quero assim tanto, que aguentava até mais dois meses se necessário fosse. Mas é mentira mas enfim, vivo nesta mentira e tento-me enganar a mim própria para ver se consigo também enganar os astros que o mantêm longe de mim.

Não conto a ninguém que estou ansiosa, não posso! Sonho mentalmente com o seu regresso mas guardo esta ânsia só para mim porque se Deus, os astros, a TAP ou o consulado Angolano sonham sequer que estou tão ansiosa, pode ser que a coisa dê para o lado contrário.

Então fico assim. Sem desabafar. A engolir. Afinal era hoje, afinal era quarta-feira, afinal é só Sábado. As férias que tirei para namorarmos, passei-as sozinha na praia. O fim-de-semana de Páscoa em família, cancelei-o para o passar com ele, mas ele já nem a tempo da Páscoa vem.

E eu continuo aqui sentada. Com trabalho de menos para me entreter, horas a mais para pensar no que finjo não pensar. E o ponto de ebulição a subir lentamente.

As forças voltam, já me sinto melhor. Ainda não é hoje que vou explodir. Rezo para que ele volte antes que chegue o dia em que as forças já não voltam… Se calhar é egoísta da minha parte, mas essa é só mesmo uma infinita parte das razões pelas quais o quero ver à minha frente… todas as outras já nem pela cabeça me passam, escondo-as cá dentro só para mim, onde ninguém sonha que elas existam, não vá o destino continuar a gozar connosco…

14.2.11

worst valentine ever

A solidão é uma coisa estúpida. Aparece de repente e quando se instala na nossa cabeça, é impossível de limpar. Transforma o mais simples dos dias no mais infernal de todos. E então se o dia já não era simples… imagine-se o resultado.

A solidão é infernal.

E coloca-nos questões estúpidas, nas quais nunca ninguém se lembraria de divagar. Qual das duas hipóteses a pior: não ter namorado no dia dos namorados ou ter o melhor namorado do mundo a milhares de quilómetros de distância?

Pronto, eu refaço a pergunta. Obviamente ter o melhor namorado do mundo é sempre melhor que não ter namorado nenhum, não quero parecer ingrata ou inconsciente da minha sorte.

O que pergunto é: qual das duas hipóteses torna mais difícil o dia dos namorados?

Porque para uma pessoa que não tem namorado, este é um dia piroso, de incentivo desnecessário ao consumismo, onde os namorados deviam ter vergonha de sair à rua porque não vêm que vítimas da sociedade que estão a ser. É infantil, forçado e tonto.

Já para quem tem o namorado por perto, tudo é indiferente. Sendo piroso ou não, comprando chocolates e flores ou não, basta esticar a mão e o namorado está lá. E quando está, e quando se troca aquele sorriso especial que diz “que bom que é ter namorado no dia dos namorados”, todas as críticas e gozos são desnecessários porque o que interessava era só isso: só esse sorriso, só essa companhia, só esse beijo.

E é por isso que eu chego a esta conclusão. Provavelmente não há nada mais difícil no dia dos namorados, pelo menos para o coração de uma romântica incurável que aproveita cada pequena ocasião para celebrar as coisas boas da vida, nada mais difícil do que passar o dia dos namorados corroída de saudades do namorado.

E corroída de saudades não é só cheia de saudades. É mesmo a rebentar, é mesmo a pensar que este dia é para esquecer, só quero que acabe.

Mas há sempre Deus, ou o Universo ou alguma força superior que tem a capacidade única de me surpreender e mostrar-me que eu estava a ser egocêntrica. Que podemos sempre bater mais fundo. Que não é preciso grandes mudanças melodramáticas como ser teletransportada para a Somália e transformada numa criança com fome ou ser despedida e despejada de casa num só dia, para conseguir ter um dia ainda bem pior do que imaginámos à partida.

Não. Deus, ou o Universo ou alguma força superior, sabe sempre como jogar com pequenos detalhes que me fazem querer voltar atrás a não me queixar tanto da minha infelicidade. Mostrar-me que o dia não é assim tão mau. Ter o namorado a milhares de quilómetros de distância, sem saber onde esta relação vai parar ou se tem sequer futuro mas a saber que era ele a nossa pessoa, tudo isso de nada serve. E para mo provar: que tal um dia inteiro de chuva interminável, com a nova franja virada para cima para infernizar cada encontro com o espelho. Não chega? Que tal todas as chamadas telefónicas para África estarem com eco e não se conseguir comunicar. Not enough… que tal bater com o carro a caminho de casa? Já fica mais perto.

Nada no meu dia correu bem. Tenho saudades de viver em casa dos meus pais, quando o gás se acaba logo pela manhã a meio do banho e eu podia seguir o meu dia já consciente de que aquilo não ia correr bem.

Maldito gás natural que me tirou esta premonição de uma utilidade extrema e que agora me faz enfrentar cada dia na inconsciência absoluta do que ele me vai trazer.

Só quero que o dia dos namorados acabe, só me quero esquecer que tenho um namorado lá longe que hoje especialmente me tem ligado muito pouco. Só quero esquecer que existo, que me sinto a falhar em tudo o que me interessa. Que estou gorda, que sou feia, que ando desmotivada para trabalhar. Que só consigo ver televisão.

Quero-me esquecer que se eu fosse o meu próprio namorado, também ia para África e me deixava para tras.

11.2.11

Estavas cá

Devia pensar em ir dormir mas sinto um vazio enorme. Cortar a franja em acto de rebeldia não me deu assim tanta força quanto isso.
Não sei de ti. Onde estás, se estás a dormir. Se sim, estás a dormir bem? Se não… onde andas? Não tenho bateria no telefone mas nem o quero por a carregar porque já não tolero mais que não toque. Dói-me o silêncio e a forma como a música do teu toque simplesmente não se ouve. Nem uma mensagem eu sei que lá tenho. Nem um mail. Nem um beijo que me venha parar de qualquer forma possível e imaginária.
Estás a sonhar comigo? Nem sei bem o sítio onde dormes. Um estrado e um colchão numa sala de um apartamento. Uma televisão ligada a um computador e séries até adormecer. Sentes a minha falta? Quanto? Cem, mil, dois mil? Eu sinto milhões.
Durante o dia é mais fácil. A trabalhar, com pessoas, ocupada. Há sempre programas. Queixo-me de que nunca consigo estar sozinha em casa a relaxar quando na verdade tenho sorte por ter tanta gente na minha vida, pessoas com quem nem combino nada, simplesmente fazem parte dos meus dias. Mas os meus dias não estão completos sem ti e quando chega uma hora em que finalmente me encontro sozinha o suficiente para pensar melhor em tudo, quando nem a televisão me consegue distrair… aí sim, dói-me a falta que me fazes.
Se estivesses aqui agora, só o teu sorriso iria conseguir aquecer-me. Não pedia mais nada. Talvez um beijo, assim ao de leve. E a seguir adormecer nos teus braços e dormir agarrada a ti como naquelas noites em que está tanto frio que fingimos que é o amor que nos faz dormir colados como peças de Tetris à beira de congelar.
Mas já não está assim tanto frio, sabes? A caminho de casa pela marginal vim de janela aberta e senti o cheio a maresia a entrar pelo carro. Uma delícia. Um sorriso inesperado numa viagem em que as saudades tuas me ocupam os pensamentos. Será que também cheira a maresia em Angola? Será que vês o mar todos os dias? Será que te lembras que é mesmo oceano que me espreita pela janela do carro todas as manhãs?
Adorava ter-te ao meu lado para não ter que te contar estes pormenores tontos do meu dia-a-dia. Adorava que estivesses dentro do carro quando entrou o cheiro a maresia, que eu pudesse apenas sorrir esse sorriso inesperado mas nem ter que dizer nada porque simplesmente… estavas cá.

The Black Swan

Se calhar tinhas razão. Sempre que uma mulher faz uma grande mudança de visual, é porque está a passar por uma qualquer mudança na vida dela.

E é por isso que tens sempre tanto medo das minhas mudanças de visual, bem sei.
Mas às tantas já era hora de admitir que esta é realmente uma fase de mudança. Chega de fingir que a minha vida continua a mesma mas sem ti. Tudo é igual, a casa está igual, o trabalho está igual, o caminho não mudou. As ruas que estavam em obras continuam em obras e o mar continua a sorrir-me todas as manhãs.

Mas eu estou diferente. E como poderia não estar?
Num momento em que todos os meus planos de vida já eram pensados contigo ao meu lado, compreendo que estes planos eram apenas uma ilusão e que tu vais viver para África, tomando essa decisão em três segundos sem sequer me incluíres na equação. E eu já percebi, não fizeste por mal. Nem por bem. Não pensaste. Não achaste que houvesse assim tanta importância a dar à situação.

E foste.

E eu fiquei.

Mas era suposto ter ficado igual?
Morro de saudades tuas, mas se calhar ainda não morro assim tanto. Volto a descobrir-me, a encontrar-me nos pequenos pormenores, que é sempre onde me perco.
Volto ao cinema, volto a pensar, compreendo que parte de mim está adormecida há meses, desde o fatídico telefonema em que me anuncias que te vais embora.
Ainda me lembro das palavras, mas estranhamente o que mais me marca foi a sensação que me ficou na barriga. Um vazio. Fiquei literalmente doente, ou já estava? Nem sei. Deve ter sido dos piores momentos de que me lembro. Toda essa noite, o jantar a fingirmos que estávamos bem, a jantar em família mas a querermos ambos explicar o que sentíamos, os dois em lugares tão diferentes apesar de sentados um em frente do outro. Eu a arder em febre, a pensar se estaria a viver um pesadelo.
Durante muito tempo achei mesmo que não era disso que passava, um pesadelo do qual iria acordar eventualmente.
De pesadelo passou a realidade, com mais pormenores mas menos negra. Lá foste, ficámos bem. Estamos bem, somos óptimos.

Mas era impossível dizer que eu não podia mudar. Vou ter que mudar, não percebes?
Tenho que ser mais forte, tenho que me agarrar a mim própria quando antes me encostava tão facilmente a ti. Estavas cá!
E agora estou sentada nesta cama enorme onde vejo agora que tão poucas vezes dormi sozinha.

E portanto cheguei a casa e, qual cisne branco que tenta desesperadamente soltar-se da bolha de tensão e procura de perfeccionismo em que vive, peguei numa tesoura e cortei a franja. Peguei numa escova e fiz risca ao meio. Mudei o meu visual! Mudei-me.
Uma mudança mínima, eu sei. Mas é o significado que interessa. Preciso de me ver ao espelho e ver outra pessoa. É ridículo continuar a ver a pessoa que acorda para passar mais um dia à espera do momento em que vai estar contigo. É ridículo ver a pessoa que tenho sido nos últimos meses porque já não o consigo ser mais!

Chega de esforço, chega de contar os dias que faltam para tu chegares, que são cinquenta sem tirar nem por. Chega. Sabes porquê? Porque quando chegares vais-te embora novamente. E depois novamente. E eu fico sempre aqui a contar os dias até vires. A contar semanas que equivalem a quilos que quero perder. Sete semanas, sete quilos, seis semanas, seis quilos.


E não digo que não continue agradecida por te ter na minha vida. Continuo. Sinto-me uma pessoa abençoada por ter alguém como tu ao meu lado. Cada vez que vejo nos teus olhos que gostas de mim tal e qual como eu gosto de ti, penso que não preciso de mais nada no mundo inteiro para ser feliz. E não preciso mesmo!
E sim, prefiro ter-te longe e quem sabe perder-te por estarmos longe, do que nunca te ter tido.
Mas isso não implica que esta distância não me mude como pessoa. Que não me faça pensar, sentir, avaliar. Em certo momentos desesperar e gritar, noutros simplesmente chorar.

Sabes? Sinto-me como as quatro estações por dia nos Açores: em cada dia sinto tanto e tão diferente, como é que era possível chegar ao final do dia a mesma pessoa que acordou de manhã? Depois de sol, de chuva, de frio, de humidade. Depois me caírem folhas, depois de nevar, depois de um sol tórrido e de mergulhos em mares de lágrimas.

Alguma coisa tinha que mudar e tu tinhas razão!, uma rapariga muda de visual quando sente que muda mais qualquer coisa…

Mas há coisas que nunca mudam. Já passa da meia-noite… já só faltam 49 dias.

24.7.09

bambu

O fundo do meu Hotmail são bambus.

Nos últimos dias, tenho guiado mais afastada do carro da frente. Se ele travar de repente, já não lhe bato por trás.

O porta-chaves que estou a usar, encontrei-o na semana passada em cima do capô do meu carro, a unir miseravelmente um raminho das flores mais bem cheirosas de sempre.
Tem um cheiro estranho. Não posso dizer que cheire bem, está longe de estar perfumado. Mas tem um cheiro característico. Cheira a Opel Astra misturado com fato de surf salgado, cheira a bolsos cheios de tralha, cheira ao pratinho castanho de guardar as chaves, na prateleira branca por cima da cama cor-de-laranja.

Tenho dor de barriga amarela.
Já estou optimista.

Sinto-me como aquelas pessoas que vemos nos filmes que são internadas num manicómio apesar de não estarem doidas. E quanto mais vezes dizem que não estão doidas, mais doidas parecem. E tal é o esforço e a frustração de tantas tentativas em vão, que já ninguém acredita que não estejam realmente dementes.
Não que eu me sinta doida mas sinto que sempre que tento explicar esta situação a alguém, recebo imediatamente aquele olhar. O olhar. Que diz, inevitavelmente: burra.

Enfim, tal como os doidos que se deixam internar porque perdem a força para continuar a defender-se, também eu às tantas deixei de tentar explicar que nem tudo o que se passa comigo tem que ser interpretado por toda a gente à minha volta.

Teorias fora. Relações típicas para o lixo.
Uma pausa.

E volta o sorriso.
Dor de barriga amarela.
Saudades, tantas.

No fundo, não interessa mais nada.
A ver vamos.