13.3.08

x+7

Há qualquer coisa de engraçado no facto de eu recomeçar a fazer uma dieta.
Não que eu queira que isto seja um tema de conversa constante mas a verdade é que apesar da minha vasta experiência e falta de interesse nesta área, sinto sempre que é uma decisão que, quando tomada de corpo e alma, deve ser encarada como uma coisa minimamente importante.
E, assim sendo, decido logo que não posso começar uma coisa tão difícil, porque para mim implica sacrifícios diários, sem que tudo o resto que me diga respeito estar tão perfeito quanto a situação actual o permita.
Portanto hoje, oficialmente o dia de mudança, foi dia de preparação física e psicológica.
Do ponto de vista psicológico passou apenas pela despedida de algumas coisas boas, como um bom jantar de almôndegas com puré, um dos meus pratos preferidos e pela escolha pormenorizada de alguns artigos que irei ter que consumir ao lanche e ao pequeno-almoço.
Isto para não falar do grande passo que é oficialmente acordar uma hora antes de sair de casa porque a todos rituais crescentes que nascem como cogumelos nas minhas manhãs, o pequeno-almoço não fazia parte deles há muito tempo. Mas agora é obrigação e pronto.
E de seguida a preparação física.
A questão que me passa pela cabeça é a seguinte: de que é que me serve estar tão preocupada com emagrecer se tudo o resto no meu corpo está uma trapalhice?
Não que eu alguma vez chegue ao ponto da trapalhice, aliás não chego nem perto porque para dizer a verdade sou um bocado obcecada, mas há certas coisas que não estão todas perfeitas ao mesmo tempo e isso é uma coisa que, apesar de uma pessoa não pensar nisso durante o dia, está lá sempre no fundo da cabeça, como um reminder de que nem tudo está perfeito.
E esse reminder estragaria todo um início de uma dieta.
Seria do género de: "Oh, porque é que eu não hei de comer arroz se afinal as minhas unhas também estão péssimas?".
Portanto, não tendo eu dinheiro, idade ou tempo para me enfiar num Spa a ficar perfeita nas mãos de outra pessoa, tive que dedicar toda a minha noite a mim própria. Pelo menos tudo o que consigo tratar sozinha, deixando tudo, apesar de pouco, do resto para a hora de almoço de amanhã.
É como se seguisse os conselhos que a minha mãe me dava quando era pequenina e ela me dizia: "Que vergonha andar com umas cuecas tão antigas. Já viu se lhe acontece alguma coisa e vai para o hospital, já viu que vergonha terem que a despir e ser vista assim?".
Depois admiram-se que eu ande com a roupa interior a condizer, com uma educação destas!
Mas continuando, agora a nova filosofia é: Se este fim-de-semana aparecesse um príncipe encantado, mas tão encantado que me levasse ao ponto de cometer uma qualquer loucura, eu estaria perfeita.
Ainda com X+7Kg mas, fora isso, perfeita.
E isto dos x+7 (lê-se "xis mais sete") é porque o meu objectivo é alcançar o meu peso x, ou seja, o meu peso ideal de Rita-Normal. Neste momento estou no x+7, ou seja, para quem ainda não percebeu, 7kg acima do que devia.
Também convém dizer que há 4 meses engraçados atrás eu estava no x+10 e que há duas semanas atrás estava no x+5. Ou seja, engordei 2 kg nestas semanas simplesmente porque sim. O que vale é que sei que perco perfeitamente 1kg por semana portanto daqui a 2 semanas já estou outra vez no x+5 outra vez... Espero eu.
Vamos ver.
Vamos ver disso e do príncipe que é certo que não vai aparecer este fim-de-semana mas sim num dia em que eu esteja a abarrotar de coisas erradas. É das tais coisas que são tão certas como o Pudim só andar a 140km/h quando eu não tenho pressa e só ficar na reserva quando eu estou sem dinheiro.

this is it. just me.

Se há viagens que não valem a pena, que são inúteis ou desnecessárias, há outras que apesar de inúteis e enervantes acabam por valer a pena.
Foi como esta viagem a Lisboa à hora de almoço. Nada mais enervante, perceber que fiquei com o cartão do Sporting do meu irmão e que ele precisa dele para ir hoje ao jogo. Enervante sobretudo porque já estive com ele várias vezes desde que eu fui ao jogo e cheguei a casa decidida a escrever um texto inteiro em inglês de rajada.
20 minutos ir até Lisboa.
20 minutos voltar até ao fim do mundo, à esquerda.
15 minutos almoçar.
5 minutos para toda a logística de entrar e sair dos sítios.
Mas acabou por ser perfeito. Sobretudo a viagem para cá.
A banalidade da viagem até Lisboa e do almoço a correr acabou por ser compensada por uma viagem de sonho de Lisboa até Tires.
Pela auto-estrada, com as duas janelas abertas como se fosse Verão, para compensar a torreira que estava dentro do Pudim, com música aos altos berros e eu a cantar ainda mais alto. Como se fosse um dia de Verão e eu fosse a caminho da praia.
O cabelo bem preso para não me vir para a cara, o Pudim armado em mau e a dar o que de Ferrari há em si, andando a 140km/h, o meu rádio novo que até parece que toca melhor que o anterior.
E eu baixo a pala do sol e vejo-me ao espelho. Um hábito tipicamente feminino que, de tão piroso que é, até é quase razão de vergonha. Vejo-me ao espelho e penso: “Isto sou eu, sem tirar nem pôr.” A maquilhagem hoje ficou em casa, tenho um olho inflamado de tanta coisa que tem sido aplicada à sua volta. A minha pele está naquele tom maravilhoso que só ganha quando o sol lhe está a bater e, do nada, chego à conclusão que não mudaria nada na minha vida, na minha pessoa.
Sem máscaras, sem vergonhas, sem ninguém ao meu lado para me julgar. Era só eu. Eu e o Pudim. Ou o Pudim e eu, mas isso é um hábito que já se perdeu e eu já sou a única pessoa abaixo dos 50 anos que ainda põe o “eu” no fim das frases.
E hoje até me sinto mais eu que o normal porque passados 4 meses a emagrecer calmamente e ao ritmo natural do meu corpo, decidi que estava farta de esperar e que hoje é um óptimo dia para começar uma dieta. Mas também claro que quando cheguei ao restaurante para almoçar e tinha que escolher o prato do dia, em vez de pescada com legumes escolhi canelones de espinafres… Just me. Tão eu.
Claro que me arrependi logo.
Até fui em remorsos e de consciência muito pesada até ao carro mas, felizmente, a viagem correu tão bem que me esqueci rapidamente.
Enquanto vinha de franja ao vento, a reparar em como estava um dia lindo de morrer, dei por mim a lembrar-me do meu salto de pára-quedas. Deve ter sido num dia como o de hoje. Com vontade de ser um dia perfeito de Verão mas encaixado na época errada do ano.
E cheguei à conclusão que não quero nunca deixar de ser aquela pessoa que saltou de um avião sem olhar para trás. Não quero deixar de ser eu. Não quero deixar de cantar sozinha no carro a pensar que se alguém conhecido me visse eu iria morrer de vergonha mas a saber que a pessoa que um dia se apaixonar por mim me vai adorar por eu ser assim.
Não quero ter que crescer já tudo de uma vez. Só porque tenho tido mais responsabilidade, mais peso do que o que tinha há um ano atrás. Não me quero transformar já numa pessoa que de tão adulta que é, deixou de ser o que de melhor tinha.
Nem agora, nem nunca.

Sorry

Sorry.
Sorry.
Sorry.
Totalmente descontextualizada aquela mensagem.
Tinha escrito aquilo no mesmo dia em que tinha escrito o meu penúltimo texto mas pelos vistos o youtube, que na altura me fez acreditar que não funcionava, demorou 3 semanas a por aqui a minha música.
Mas entretanto nada daquilo fazia sentido já.
Que monguisse.
Nem queria acreditar quando hoje entrei no mail e vi um comentário da Dani àquele texto.
Espero que ninguém tenha conseguido ler.
Acho eu.
Já cá estava ontem, quando não estive em Lisboa?
Ou foi só hoje?
Apaguei tão depressa que nem vi os pormenores.
Ainda por cima estavam três videos seguidos, de tão enervada que eu estava no dia em que tentei por aquilo no meu blog que desatei a clickar desalmadamente no botão.
Não sei.
Quem viu?
Sorry.

9.3.08

no reason whatsoever

Por razão nenhuma que me passe pela cabeça conseguir explicar, ando a passar uma fase assim diferente do normal nos últimos dias.

Por razão nenhuma ando sempre de rastos e com uma soneira inacreditável.
Não paro de dormir, de pensar em dormir, em quanto tempo falta para ir dormir.
Para não falar do acordar... tem sido um pesadelo. Ponho o despertador para uma hora mais cedo só para poder ouví-lo tocar centenas de vezes e no final acabo por me levantar meia-hora mais tarde do que era suposto.
O resultado? Uma manhã em que faço tudo a correr e em que o tempo não chega para os pequenos hábitos que já tornei obrigatórios na minha rotina.
Para não falar do facto de agora ter um creme fantástico específico para este rabo gordo que não tenho conseguido usar porque implica usar um outro creme para o resto do corpo e isso já são mais 5 minutos de tempo que eu não deveria ter ficado a dormir.
No final, quando já consegui finalmente decidir qualquer coisa para vestir que seja própria o suficiente para ir trabalhar mas não chique demais para depois aparecer nas aulas e não me sentir totalmente descontextualizada, quando finalmente já consegui disciplinar minimamente esta trunfa de arame farpado, lembro-me que falta sempre aquele novo hábito ao qual me tem ido tao difícil habituar-me: The Makeup (referência óbvia à grande marca que é, e que uso diariamente e com todo o zelo fervoroso de quem abomina qualquer concorrêcia, Shiseido The Makeup).
Tem sido difícil adaptar-me à maquilhagem pelo simples facto de cada vez perceber mais e mais do assunto e chegar à conclusão que ainda não percebo o suficiente de uma coisa que aparentemente é complexa de mais para uma pessoa tão pouco experiente. Pelo que aprendo, tenho os olhos descaídos, vá-se lá saber se isso é bom, mau ou simplesmente uma característica como outra qualquer. O que vale é que recentemente me disseram que gostavam dos meus olhos por isso nem fiquei muito em baixo. Mas parece que o formato do olho influencia o tipo de maquilhagem, as cores e outras tantas variedades de questões técnicas que não domino e que, por isso mesmo, fazem com que me sinta o dia inteiro uma palhaça, apesar de tentar ser sempre o mais discreta possível.
Vá lá, nem tudo são más notícias. Já faço parte dos 3% da população mundial de países desenvolvidos que dominam substancialmente o eyeliner.

Também por razão nenhuma, e já que me estou a alongar neste tema que é o meu aspecto físico, ontem fui cortar o cabelo.
Já não o cortava desde o corte mítico que fiz em Agosto e em que o cabeleireiro gay que estava a substituir o Dado decidiu que o volume do meu cabelo era simplesmente psicológico e então escadeou-o tanto que fiquei a parecer um cogumelo durante o verão inteiro.
Traumatizada e com razão, esperei 7 meses até achar que as pontas estragadas eram tantas e o aspecto já tão ridículo que ou era ontem ou eu não conseguia viver nem mais um dia. Era uma questão de vida ou morte!
E pronto, não pareço um cogumelo mas pareço a Branca de Neve, de tão mais pequeno que ficou, para infelicidade minha. Mas tinha que ser e até acho que tem o seu "quê" de fashion e que me vou habituar rapidamente.

Mais uma vez, por razão nenhuma, ontem não fui à festinha de anos Disney.
Estava marcada há meses e eu ia, com umas amigas, de fadinha da Bela Adormecida. A encarnada. Mas para mim o dia 8 de Março parecia sempre a quilómetros de distância na minha cabeça e ando tão ocupada com o trabalho e com tudo o resto que tento enfiar à força na minha vida que me dei conta que o dia 8 tinha chegado e eu nem tinha preparado nada.
Com a vontade de ir muito em baixo e tendo percebido que as outras fadinhas também já não queriam ir de fadinhas, pura e simplesmente soube que era impossível sair de casa nessa noite.
E não tinha razão nenhuma, juro que não tinha. Acho que se calhar até preferia ter. Apetecia-me poder ter dito: "olha hoje é impossível porque estou na merda porque discuti com não sei quem e estou farta de chorar" ou "olha estou sem vontade porque não paro de estudar e fui correr mil quilómetros e estou tão de rastos que acho que vou morrer".
Mas não.
Não havia razão nenhuma.
Acho que estava na merda simplesmente para dar uma boa desculpa a mim própria para não sair de casa e então inconscientemente pus-me na merda e, com as capacidades únicas que tenho, fiquei realmente na merda sem razão nenhuma, e não me levantei do sofá das 7h da tarde até à 1h da manhã a não ser para atender o telefone de casa e ouvir a minha mãe aos berros: "O TELEMÓVEL É PARA LIGAR JÁ E LIGUE JÁ ÀS SUAS PRIMAS A DIZER QUE NÃO VAI À FESTA NÃO ME OBRIGUE A SER EU A DIZER!". Sou tão criança. Já não me dava uma crise destas há anos. Que vergonha!

Também sem razão nenhuma, a semana passada e este fim-de-semana comi que nem uma alarve e não pus os pés no ginásio.
Acho que tem a ver com estar com a história.
Na terça-feira era dia de mau humor mas por acaso isso nem aconteceu. Deu-me só uma impossibilidade física extrema de ir ao ginásio fazer a minha adorada aula de Step. A partir de quarta-feira é sempre a mesma conversa, aparece um apetite incontrolável por coisas que só fazem mal e a partir daí já penso que qualquer ida ao ginásio é inútil porque nem consigo levantar o rabo do chão.
Mas não faz mal, ao menos sei que é uma coisa que passa rapidamente ao Sábado mas cujas regalias alimentares prolonguei até Domingo porque almoço de família sem pastéis de Belém é quase considerado crime.

Com certeza que também sem nenhuma razão maléfica, um ladrão simpático decidiu arrombar o meu carro, levar-me o rádio e, depois de o avariar irremediavelmente, devolvê-lo. Achei simpático. Também achei simpático ter-me estragado totalmente a fechadura e ter-me levado as minhas raquetes novas de praia.
Um brincadeira que chega quase aos 300€ que, pelo menos para mim, fazem totalmente toda a diferença.
Sobretudo quando ainda devo mais de 200€ à minha mãe e quando decidi, num momento altamente estúpido da minha vida, que apesar de estar sem dinheiro precisava de comprar calças e vestidos porque estou farta de toda a minha roupa e não tenho roupa para trabalhar.
O resultado? Apenas mais uma ajuda para não por os pés fora de casa porque estou sem um tostão e não me apetece ficar a dever mais dinheiro por isso vou-me aguentar com o que tenho até ao final do mês. Sem me queixar, claro está.



Milhentas coisas sem razão têm vindo a acontecer e que salpicaram esta semana como uma semana menos boa deste ano. Semana essa que, por sua vez, foi sem dúvida salpicada por momentos óptimos mas lá está, não tenho tempo nem cabeça para escrever sobre tudo e se misturar tudo no mesmo texto fica tudo muito incoerente.
Mas a verdade é que tenho tido tão pouco tempo para lutar contra estas coisas que vão acontecendo que me tenho deixado envolver e deixado ir um bocadinho abaixo.
Mas acho que esta fase já passou.
Amanhã começa uma semana nova e, já com as hormonas no lugar, acho que tudo vai voltar ao normal.

6.3.08

read me

Fase estranha.
Não posso dizer que esteja tudo perfeito, mas também é difícil de explicar aquilo que não está. Tenho medo de ser eu que estou a ficar exigente de mais, que esteja a perder a noção daquilo a que tenho direito para ser feliz, ou não.

Acho que tendo em consideração que o meu trabalho era a minha principal prioridade neste momento da minha vida e que eu já sabia que ia influenciar tudo o resto, assim sendo está tudo perfeito. Às mil maravilhas.
Dou o meu melhor e acho que isso se tem visto e tem sido apreciado. Felizmente trabalho com pessoas que conseguem demonstrar, de uma maneira ou de outra e nem sempre explicitamente, que estão satisfeitas com o meu desempenho.
Mas isso não tem sido suficiente.
De um dia para o outro, a motivação em tudo o resto na minha vida já não é a mesma. Quer comigo, com os meus cuidados comigo própria, com as aulas onde não me consigo concentrar, com o meu quarto cor-de-rosa que está todo desarrumado...

É sobretudo a maneira como tenho feito tudo à última da hora e dando apenas o suficiente de mim própria em tudo aquilo em que toco para sentir que não estou a falhar. Mas isso para mim não é suficiente, porque sei que sou mais que isso, que consigo tão melhor.
Mas tenho andado decepcionada, desmotivada.
E tenho que admitir que acho que o que me desmotiva são as pessoas que me rodeiam no meu dia-a-dia.

Eu sei que é só trabalho e que são só aulas, não são pessoas de quem eu tenha que exigir nada ou de quem tenha que esperar determinados comportamentos ou atitudes mas, como ingénua que sou, se calhar acabo mesmo por esperar. E não consigo evitá-lo.
De uma forma estranha, sinto que o meu quotidiano é rodeado de pessoas que não me conhecem minimamente. Não sabem nada sobre mim, quem sou, o que quero, para onde quero ir.
E não é que eu não faça por isso, mas no fundo também reparo que quando começo a falar mais do que um minuto seguido consigo olhar para elas e ver-lhes no olhar, por um milésimo de segundo que seja, que não lhes interessa. Que eu não interesso. Sou só uma colega, não sou uma peça-chave das suas vidas cheias de amigos e famílias que já lá estavam antes e que vão continuar lá depois, que o que quer que seja que me está a sair da boca a mil à hora, porque falo sempre rápido de mais para quem quer que seja que está à minha volta, não tem relevância nenhuma e não passa de uma canseira.
E depois é aquele olhar que se segue sempre que sou simpática, aquele olhar de quem tem a certeza absoluta que sou uma tonta. Tenho tanta, mas tanta certeza de que as pessoas que actualmente fazem parte do meu dia-a-dia me acham uma parvinha, uma tonta, uma querida e ingénua.

E olham para mim e falam comigo e é como se nem falassem português. É como se me conseguisse dissociar de mim própria e olhar para elas a falarem comigo e fico parva com as coisas que me dizem. Páro e penso: "O que é que será que ando a dizer, que tipo de pessoa será que sou, para acharem que esta conversa me interessa?".
Falamos de roupa e recomendam-me coisas que nunca vestiria, falamos de música e associam-me a estilos que nunca me disseram nada. Vêm rapazes e decidem que vão ser o meu futuro namorado, quando a última coisa que me passa pela cabeça é que o meu futuro namorado me seja apontado pelo dedo de alguém que não sabe nada, mas nada sobre mim.

E se calhar a culpa é minha, se calhar faço por isso, por mostrar uma pessoa que é menos do que é. Mas é tão, tão enervante.
E mais enervante é sentir que naquilo que eu me empenho para tentar mostrar aquilo que sou, sou recompensada com uma barreira constante de distanciamento e de frieza.
E é tão desesperante darmos a pessoas que mal conhecemos uma parte boa de nós e recebermos em troca desconfiança ou mesmo superioridade.
Vejo isso em toda a gente à minha volta.
Toda a gente.
Pessoas que dão menos de si do que têm para dar. Pessoas que têm medo de ser simpáticas de mais com medo que isso resulte nalgum compromisso estranho do qual não consigam sair mais tarde.
Que canseira que deve ser ter que medir com tanto rigor uma relação que à partida se poderia criar com tanta facilidade.
Que canseira que deve ser viver na ilusão de que eu não percebo essas atitudes e que sou uma tonta qualquer que cai perfeitamente na história do "isto correu mesmo bem durante uns dias, deixa-me cá afastar durante um ou dois não vá a miúda ficar com esperanças e depois está tudo estragado porque tenho que aturá-la".
Chega de tanta canseira! De tanta ilusão, de tanto esforço, de tanto orgulho.


É desmotivante!
Assim como é desmotivante ver pessoas a dizerem mal umas das outras nas costas, a não ajudarem os outros só porque não são melhores amigos ou porque não vão receber nada em troca. Mas se são elas as primeiras a virar as costas quando se tenta conhecê-las melhor, qual o critério para não passar a pertencer imediatamente ao grupo dos excluídos e gozados?
E apesar de ter sorte e de, pelo menos em relação às pessoas com quem me dou, não me sentir nem excluída nem gozada, tenho que admitir que tantas atitudes negativas me desmotivam e me influenciam.

Tanto cansaço, tanto stress, tantas dores, tantos incómodos com pessoas que nem conhecemos, tantos comentários sobre coisas que não nos dizem respeito. Mas sobre nós, sobre coisas que poderíamos partilhar, coisas sobre as quais já temos o direito de falar e deveríamos ter o interesse de querer ouvir, sobre nós já não dizemos nada. Não vá haver a obrigação no futuro, num dia em que estejamos de mau humor, de ter que fazer um sorriso a uma pessoa que no fundo só se senta na mesa ao lado da nossa, que não passa de um colega.

E eu, lá está, uma tonta, não me consigo adaptar a estas relações de gente adulta que são mais falsas que sinceras e mais planeadas que uma peça de teatro.
Não têm nada a ver comigo e não percebo como é que as pessoas crescem para se tornarem assim.
E como tonta que sou, vivo na ilusão de que comigo será sempre diferente. Agarro-me se calhar a bocadinhos de relações que vou criando com pessoas que até me parecem passíveis de se virem a tornar mais próximas de mim, pessoas com as quais até me poderia identificar, apenas para depois perceber que isso nunca irá acontecer. Que aquela janelinha de proximidade que até pareceu surgir, durante apenas dois segundinhos, pelo canto de um olhar, se fechou tão depressa quanto se abriu.
Que pena que é. É a única coisa em que consigo pensar.

E sim, isso deita-me abaixo.
Porque nem sempre estamos no nosso melhor, nem sempre estamos a passar uma fase óptima connosco próprios.
E nesse momento, há sempre alguém que em tom de gozo e sem saber deita sempre um bocadinho mais abaixo.
Acho que o desesperante é chegar a passar os 5 dias da semana sem me cruzar com um amigo que olhe para mim e me consiga perguntar logo o que é que eu tenho.
Uma pessoa que seja, que me diga qualquer coisa boa, uma coisinha que seja e por muito insignificante que pareça, que me faça sorrir de cá de dentro em vez de sorrir para agradar. Que me faça ficar contente por um minuto do meu dia.
Gostava que houvesse alguém com quem me cruzasse que me fizesse ver que é parvo odiar-me. Alguém que ficasse contente com a minha chegada não porque sou a sua melhor amiga nem porque está apaixonado por mim, mas só porque é bom eu chegar. Tal como acontece em casa, tal como acontece com os nossos amigos.

Mas não. É tudo tão frio. As pessoas são tão frias.
Um elogio, uma palavra simpática, é tudo tão difícil. Quando no fundo até um comentário sobre o tempo seria suficiente, desde que eu visse que era uma tentativa de conversar comigo, de me fazer falar.
Mas não, nem uma tentativa se vê.
E eu puxo conversas aqui e ali, porque ficar calada para mim é difícil. As tentativas, da minha parte, nunca faltam. Mas é tão raro levarem a algum lado, a uma troca de mais do que 7 palavrinhas puxadas a saca-rolhas.
E os temas de conversa, por muito variados que sejam pelos meus esforços inúteis de mostrar que até posso ser uma pessoa interessante, acabam sempre no mesmo. Que falo muito depressa, escrevo muito depressa, trabalho muito depressa. Tenho que me acalmar porque sou uma pessoa muito rápida. E que sou uma criança, claro está. Devia ter vergonha na cara quando sorrio a dizer que nasci em 1984. E que tenho caracóis quando não estico o cabelo e tenho o cabelo liso quando o estico.

E se calhar é assim que é ser adulto. Se calhar faz parte, desligarmo-nos das pessoas com quem convivemos e darmos apenas aquilo de nós que nos é exigido socialmente, sem tirar nem por. Estranhamente, para mim é difícil. Não consigo não perguntar pelos filhos gémeos de 6 anos, pelo cão que não pára de largar pêlo, pela bolha que cresce no meio da perna, pelas entrevistas de novos empregos.
E é invevitável ficar triste, ou se calhar até decepcionada, quando das pessoas pelas quais passo a saber tudo porque gostam de ter alguém que as oiça, recebo um interesse tão vago e tão nulo sobre o que quer que seja que me diga respeito que quase me faz pensar se faria alguma diferença se eu fosse um diário de papel em vez de uma simples miúda que parece que gira mais rápido que a terra.

Enfim, o que vale é que quando chegam estes dias que nos dão mais que pensar há sempre aqueles momentos ao fim do dia em que uma ida ao Mac a falar sobre baratas e ratos parece que salvam o mês e mesmo as trocas de e-mails sobre os assuntos mais horríveis possíveis que me possam passar pela cabeça (e que me possam fazer ser despedida se forem descobertos) fazem-me sorrir no meio de pilhas de trabalho acumulado.
E isso ajuda sempre.
É bom não precisar de dizer a ninguém que hoje é um dia em que estou um bocadinho em baixo, porque esse é um assunto que já morreu há muito tempo e pelo qual já ninguém tem interesse. É bom bastar ir dar uma volta e ver finalmente um sorriso sincero para saber que não faz mal, nada disto interessa. O fim-de-semana está quase a chegar.

Em relação ao resto, acho que me resta crescer e começar a aprender como é a vida no mundo real. Não esperar de ninguém nada que não nos queiram dar e fazer força para conseguir continuar a dar de mim o mesmo que sempre dei sem me chatear por não receber o mesmo em troca.
Por algum lado se tem que começar... porque não eu?

3.3.08

Too many times before

So, the thing is I’ve never smoked. Not once, not for one time. I’ve never even tried. And I’d like to say that it never happened just because of my fierce convictions about how stupid smoking is. But I’d be lying. To tell the truth, most of my life I think that I didn’t smoke not only because I hated it’s simple existence as the most stupid act someone could ever do but also because I was scared of trying. I think that most of my life I missed out on lots of things just because I was afraid of experimenting. I’ve never been a fan of anything new and I’ve always been terrified of making a fool of myself for being so explicitly naïve about things I didn’t know.
Anyway, thank God for my fear of new things, which kept me away from being even if just a little bit curious about things I always saw happening around me but that I always kept at a safe distance.
Nowadays that I consider myself quite the fearless girl about mostly everything, I’m proud to defend my convictions not only with the stupid excuse that I never had the guts to try something new but also with that wonderful credibility that is given only to those who can defend their beliefs by telling they’ve never, ever, crossed them and that they most probably never will. And this, regarding the smoking situation, is as true as can be when it comes to my personal beliefs.
And this is not a subject I like to refer to very often. As a matter of fact I find it quite rude to explicitly talk about things that happen everyday and with everyone around me as if they didn’t exist nor feel uncomfortable by my opinions.
I’m not against smoking. I’m not against being in places where people are smoking.
What use would it be? I think most of the people I care about still smoke. And I don’t mind, I think it’s up to them.
But I’ve had this opinion though, that deep inside, if you smoke, you have to be a little, even if just a little tiny bit, stupid. And I don’t mean to offend anyone, mostly because lots of dear smoking friends of mine will be reading this if they have the patience to read a text in English, which by the way has no plausible explanation besides the fact that I’m tired of officially not having anyone in my life to practice my English with.
Moving on, the thing is, smoking doesn’t make any sense.
At least voluntarily. I mean, probably my lungs have had just about as much smoke inside them as the regular next door girl’s lungs who happens to smoke every once in a while.
Just this evening on a football match I think I’ve inhaled just as much smoke as the guy sitting next to me who was supposed to be smoking but who actually forgot it every time something deeply unfair happened on field. Which, by the way, happened every 3 seconds. And I have to admit that when it comes to football I can recognize all the players by their names and I can keep up with most of the game by myself without having to recur to neighborly explanations, meaning mostly my brothers who sit next to me. Still, I have to admit that there are some of those moments when all the stadium just seems to be ready to burst out in fury about something terribly horrible that just happened on field, most of the times some unfair decision or lack of it made by the referee, and when these things happen the truth is I most often just turn my head in deep disapproval so that everyone around me doesn’t get how much I’m not understanding what all the fuss is about.
I’m great at it, by they, way. I nod my head with just the perfect depth and speed as if I’m really focused on what’s happening. I’m great at clapping every once in a while as well just because everyone around me is clapping. I’m just not so great with the whistle thing. I’d love to whistle, that’s a fact. And I’ve tried really hard, like forever, to do so. But I think I’ll actually give up on it. Those are the kinds of things that most often get me obsessed during a match. I love to watch how everyone behaves. When they stop singing, why they start when they start and what gives them the strength to cheer so loud on one second and then turn into real destroying monsters just the second after. I think that’s why I really don’t get some of the things that happened, I think I distract myself with the wonderful human component that exists inside a football stadium.
Not that I think that a stadium filled with 50.000 people is half as complex as my own mind. No. That would be reducing myself to a simplicity that I can only dream of achieving while a live my life with this perfect certainty that I might be just as complex as one of those impossible math puzzles that I will always hate.
Going back to that smoking situation, I think I was just spilling out some of this mismanaged anger I’ve had inside for a while. Nothing personal, I swear. On top of it, my attitude concerning this new found cancer situation in my family, which I think I’m handling quite well considering it’s the third time we’ve been through something like this in the 21st century, has been described by my mother as the worst ever and as being typically my father’s daughter.
One would reckon a marriage mustn’t be in it’s most happiest days when a wife decides to argue with her own daughter for growing up to be like her husband.
But anyway, I’m being accused of acting somehow insensitively about this situation, and by insensitively she means by not crying day and night and still having my hopes up on a recovery that still seems quite possible to me.
I’m not insensitive. I just think I’ve been here too many times before. It’s just disgusting how we already have our own routine for these situations. The hospital visitations, the family dinners with a certain tone of voice, the concerned look on everyone’s eyes and the way the phones ring ten thousand times more often that usual but with nothing new to say. It’s as if we already have this “cancer mode” button we can just turn on and play this all situation all over again. It’s sick. I’m sick about it. But it doesn’t mean I’m insensitive, though. I’m not.