29.7.08

Diz-se que é em Junho!


Primeiro esboço do vestido de casamento da loira e do seu formiguinha!
Toalha de mesa da Portugália, segunda mesa a contar da janela na zona dos fumadores.
Ontem.


Ela vai com um vestido cai-cai, feito com o tecido mais leve e simples possível! Com uma faixa abaixo "do peito", para fazer corte imperial, mas isso do corte imperial já tivemos que lhe dizer que ela não sabia que tinha esse nome. Também só aprendi isso quando casou uma cunhada minha, ou um irmão meu, pronto, que casou com ela e ela tinha que levar um vestido com corte imperial para disfaçar a pequena Beatriz que já se adivinhava, mesmo que com apenas 3 meses de gestação.
Mas haver um bebé em gestação não vai ser o caso, em princípio, neste casamento.

No cabelo, uma coroa de flores mas também uma renda espanhola. Eu cá não sei o que é renda espanhola mas acho tudo muito giro. Ainda falta mais de um ano por isso não sei se o vestido fica igual. De qualquer forma, o que é certo são os All Star brancos para bailar até ao amanhecer. E porque All Stars e ténis confortáveis, ou roupa confortável na generalidade, agora que penso nisso, são a imagem de marca da nossa Matilde!
Ele? Ele leva um chapéu para ver se fica da altura dela, pelo menos antes de ela calçar os seus ténis que depois aquilo fica ela por ela.

Já faltou mais!

happy vu-day

É certo e sabido que qualquer rapariga nova, e como nova defino entre o pós-adolescência e pré-idade de já ser mãe de filhos, sonha certo dia ser como qualquer uma das personagens do Sexo e a Cidade. Talvez sem uma vida íntima tão visivelmente exposta ao mundo exterior mas eventualmente cada uma de nós, a dada altura, já sonhou em ter aqueles sapatos perfeitos, aquele emprego de sonho, aquele estilo único e, como é óbvio, viver em Nova Iorque e casar o Mr. Big.


Ainda assim, e sem saber o que a esperava naquela noite, não era nisso que ela pensava. Até porque já tinha decidido que já tinha perdido tempo de mais do seu dia a pensar em roupa e outras futilidades materiais, após chegar à conclusão que valia a pena gastar muito mais dinheiro e levar o seu próprio carro para as férias de Verão, apenas para poder levar todas as malas que quisesse sem ninguém a julgar. As raparigas são assim, e ela não era diferente.


Mas como já disse, já não eram esses assuntos que ocupavam a sua cabeça. Era o final do dia, mais um dia que tinha corrido bem, embora com bastante trabalho mas isso é sempre bom e sempre melhor que trabalho nenhum para fazer, e a viagem ao longo da marginal, a caminho de Lisboa, parecia melhor que nunca.


Ao chegar aos Meninos do Rio, ainda ninguém tinha chegado. A menina dos anos e a noiva estavam atrasadas. Mas não faz mal, pensou ela para com os seus botões, é de maneira que consigo ler um bocadinho. Até porque tinha decidido que tinha que acabar aquele livro antes das eminentes férias, o que dava uma média calculada de 61 páginas por dia e, às 7h30 da noite, ainda não tinha lido nem uma. Ia ser uma noite longa se não pegasse já no livro!


Por muito cliché que possa ser o sítio, cheio de gente com bom aspecto e que tira as medidas a tudo o que por ali se passeia com uma minúcia assustadora, é realmente um sítio perfeito para se passar o fim de tarde e esperar pela meia-noite para dar os parabéns à menina dos anos. E ainda bem que ela organizou esta festa, senão a menina dos anos nunca o teria feito, com a mania que agora fazer anos não é nada de especial quando se trata, veja-se bem, do único dia do ano em que podemos exigir para nós próprias todas as atenções possíveis e imaginárias!


Elas lá chegaram quando a organizadora do festa, ou vá lá, do pequeno encontro, estava entretida entre frases soltas do livro e mensagens que não paravam de chegar ao telemóvel. Não deve ter adiantando grande coisa nos 20 minutos que esperou e o mais certo é que não se deite muito cedo até por a leitura em dia. Ninguém percebe porque é que ela impõe regras a ela própria, sabendo à partida que ninguém estará preocupado, senão ela, em saber se ela as cumpre. Mas infelizmente, porque ela não deve bater bem da bola, essas acabam mesmo por ser as regras que ela mais cumpre. Todas as outras, ela tem uma habilidade nata para as conseguir ignorar quando mais lhe convém.


Quando a menina dos anos e a noiva chegaram, ela pensou na sorte que tinha em ter as amigas que tinha. No meio de tanta gente gira, elas eram, de longe, as mais giras! As amigas dela! Uma sorte. E era uma sorte também acharem que ela ficava bem de cor-de-rosa e que parecia tão gira nesse fim de tarde. Nada poderia correr melhor quando, do nada, surge uma garrafa de champanhe em cima da mesa. Cortesia dos senhores da mesa ao lado, diz o empregadito, e até insiste em dizer-lhes que a garrafa custava a módica quantia de 58€, não fossem elas achar que os senhores eram uns forretas e tinham escolhido qualquer coisa abaixo de Moet&Chandon que era, de facto, o caso.


Que alvoroço e que nervoseira miúda pois nenhuma delas sabia o que fazer. Dirigiram pequenos sorrisos de agradecimento aos dois senhores, que até nem tinham mau aspecto, mas ficaram sem saber se haveria alguma etiqueta específica a seguir em situações como aquelas. Era uma estreia! Será que os deviam convidar para a mesa delas? Será que lhes deviam só dizer obrigada e ignorar totalmente a situação? Mas 58€ eram 58€!


Eventualmente conseguiram dizer ao pequeno empregado de mesa que lhes dissesse que fossem brindar com elas e passado um momento de cerimónia, lá veio o senhor mãos largas, de seu nome Diogo, brindar com elas. Rapidamente o seu amigo se juntou à festa e ficaram a saber que apesar de se chamar Fabrício tinha uma alcunha muito chique, da qual se esqueceram rapidamente.


Duas imperiais e duas garrafas de champanhe depois, a animação era total. Já se sentiam melhores amigas dos novos amigos e até já estava prometido que seriam convidados para o casamento da noiva! E lá chegou a quarta amiga, para se juntar à festa. À partida poder-se-ia pensar que ela não iria aderir muito à estranha novidade de ter dois estranhos sentados na mesa que a esperava, até porque nenhuma das suas amigas se encontrava totalmente sóbria, como seria de esperar. Mas não, rapidamente entrou na conversa e deliciou-os a todos com as suas habituais histórias e aventuras que envolvem assaltos à mão armada e raptos de crianças inocentes. E é impressionante como de cada vez que ela conta as suas histórias, tem o dom de fazer parecer com que seja a primeira vez que as conta, fazendo-nos rir como se nunca as tivéssemos ouvido na vida!


Discretamente, a organizadora da festa deu-se conta de que um dos amigos novos, o tal Diogo, que a cada momento que passava dava conta de ser uma pessoa igualmente simpática mas também estranha e reservada, se preparava para pedir a terceira garrafa de champanhe. Que exagero, já eram 10 horas da noite! Mas ela é incapaz de ser desagradável, de maneira que consegue sussurrar à menina dos anos: "Olha! Não o deixes pedir a terceira garrafa… estou cheia de fome!". E ela lá o impediu a tempo, felizmente.


Como era de esperar, não se podiam pura e simplesmente levantase e ir jantar ao restaurante ao lado sem convidarem os novos amigos, de maneira que eles lá as acompanharam num belo bife na Portugália, bem servido com o típico molho e cheio de batatas fritas. Escusado será de dizer que as três amigas que estavam nos Meninos do Rio desde as 7h30 da tarde estavam mais bêbedas que sóbrias e que o mais certo é terem sido uma companhia maravilhosamente divertida para os dois fulanos que nem perceberam a sorte que lhes caiu em cima para jantaram com quatro beldades sem igual!


A questão aqui é a seguinte: onde é que já se viu programa mais inesperado mas, ainda assim, mais divertido? Aqui é certo, já não há nenhum cliché e nem o maior habitué dos fins de tarde à beira do rio Tejo poderia prever tal desfecho para uma noite calma entre amigas que aguardavam ansiosamente a meia-noite para salpicar a menina dos anos de beijinhos repenicados.


O jantar decorreu animadamente e a meia-noite lá chegou, entre vários desenhos nas toalhas de mesa do vestido de sonho da noiva e entre o escrever apressado de moradas dos amigos que ficam agora a esperar ansiosamente um convite para o casamento de uma pessoa com a qual tiveram apenas umas horas divertidas de um dia de Verão bem passado. Mais inesperado, não podia ser!


Depois de terem cantado os parabéns por cima de um pudim da casa iluminado com vários isqueiros, a noite deu-se por terminada. Após imperiais, muito champanhe e ainda um insistente Licor Beirão depois do jantar, já estava tudo entornado de mais para se conseguir abstrair do facto de que já não faltavam assim tantas horas para voltar ao trabalho. Os novos amigos trabalhavam ora na banca ora no sector imobiliário. E ainda bem que assim o era porque fizeram questão de oferecer tudo às encantadoras senhoras ao longo de toda a noite e elas, ainda jovens e na casa dos 20 e poucos, não são conhecidas por chegarem àquela época do mês, mesmo os últimos dias, cheias de dinheiro para gastar em jantares, de forma que se deram por bastante satisfeitas.


De volta ao carro e agora dando boleia à noiva até casa, ela não conseguia parar de pensar, e comentar!, o quão engraçado e mesmo surreal tinha sido todo aquele episódio. Nunca, jamais, se viu um desfecho tão engraçado para aquilo que era apenas um simples encontro entre quatro amigas que queriam por a conversa em dia e dar um beijinho de parabéns à meia-noite à menina dos anos.


Se os rapazes tinham outras intenções, isso elas vão ficar sem saber. Ninguém deu a entender nenhum interesse especial por nenhuma delas mas elas, espertas que são, não deixaram passar despercebida a oportunidade de virem a obter bilhetes gratuitos para o Sudoeste, festival ao qual nenhuma faltará certamente.


Foi resumidamente, uma noite inesquecível e que será, sem dúvida, repetida vezes e vezes sem conta entre gargalhadas únicas e repetições de todos os momentos hilariantes. Ela deixou a noiva em casa e antes de a noiva sair, ainda lhe disse "vou para casa escrever isto no meu blog!", ao qual a noiva respondeu: "faz isso faz, para eu me poder rir amanhã!".

E assim foi, uma noite muito mais interessante que qualquer noite passada em Nova Iorque no enredo do Sexo e a Cidade.

Quando ela voltava para casa, já sozinha e novamente a percorrer a marginal em direcção a Lisboa, deu por si a rever todos os momentos da noite desde que saíra do escritório. Há realmente momentos inesquecíveis e tão imprevisíveis que só de pensar na probabilidade de eles algum dia se virem a repetir chegamos mesmo a acreditar que não chegaram a acontecer.


24.7.08

A night in Paris

Uma noite em Paris dava para escrever um livro.

Mas agora, neste momento, se calhar até me ocupava com escrever um livro inteirinho sobre a maravilha que é o meu novo Word 2007 saber escrever artigos de blog (ou blogue, melhor dizendo) directamente para dentro do meu blog sem eu ter que me incomodar.

Mas não seria tão relevante. Ou pelo menos nunca tão relevante quanto Paris. Também, para dizer a verdade, quase nada o é.


Mas se houve algo de absolutamente maravilhoso nesta viagem, começou pelo facto da sua existência só por si. A escolha da miúda que só lá trabalha há 7 meses, deixando a miúda que lá trabalha há 4 anos extremamente incomodada e, verdade seja dita, com umas trombas inacreditáveis até Deus sabe quando, deixou-me absolutamente extasiada de felicidade e até mesmo com algum orgulho em mim própria.


Deixando de parte o facto de ir a Paris receber formação para algo que adoro e que, agora que já passou, confirmo que adorei aprender e que estou ansiosa por começar a trabalhar neste projecto, o meu projecto, há qualquer coisa de absolutamente glamoroso numa miúda gira (?) com um ar empresário e de sucesso a ir apanhar o seu avião em horário empresarial, com o seu trolley atrás e num fantástico vestido ao estilo dos anos 50.


Fora este pormenor, que tem apenas a importância suficiente para influenciar o decorrer de tudo o resto, correu tudo na perfeição.


Também acho que é sempre uma questão de atitude, a forma como as coisas correm. Se começam por mim a chegar ao aeroporto a achar que esta experiência é o máximo e a lembrar-me que, de facto, a única vez que andei sozinha de avião tinha sido também para Paris mas com 6 anos de idade para ir ter com uns tios que me iam levar à EuroDisney, se me sinto radiante com tudo à minha volta e ansiosa por tudo o que me espera, então é porque é certo que nada poderá correr mal.

Nunca, jamais, nenhum avião ousou despenhar-se com uma pessoa tão feliz com a sua própria vida lá dentro. Disso tenho a certeza.


Chegada a Paris após uma viagem não muito confortável em que fui enfiada na última fila mas que, ainda assim, não foi suficiente para me por de mau humor porque ao menos fiquei à janela e sem ninguém no resto da fila, porque estou a adorar o meu livro e porque encontrei os phones do ipod mesmo antes de sair de casa, porque gosto das "refeições ligeiras" da TAP porque são sempre sandwiches quentes e é certo e sabido que eu odeio comida fria, seja ela qual for, meti-me num táxi e pus em prática o meu enferrujado francês.

Tenho pena de não falar francês melhor, ou pelo menos como já falei. Quero lá eu saber que adorar francês me faça parecer com não sei quem que aparentemente é parecida comigo em tudo e mais alguma coisa, ou então sou eu parecida com ela, porque sou para aí 15 anos mais nova, ou seja lá qual for a diferença entre a minha idade e os 20 e quase todos. Mas ainda assim desembaracei-me bastante bem. Aparentemente, não o suficiente para dar a entender ao taxista que sou uma parisiense à séria, até porque pedi para ele me levar para um hotel, porque ele achou por bem andar por aí a passear-me às voltas e cobrar-me quase um ordenado mínimo, dos portugueses, pela viagem.


Cheguei ao hotel que era pura e simplesmente de sonho e decidi que estava com energia a mais para me esparramar em cima daqueles edredons perfeitos a ver televisão e a desfrutar do meu inseparável portátil. Impossível. Podem ser 10h da noite em Paris mas em Lisboa ainda são 9h e eu estou cheia de energia. Ainda nem é de noite e só tenho pena é de estar em Boulogne e não no centro da cidade, senão ainda dava uma volta gira. Mas vou à mesma e fica já aqui prometido a mim própria que se vir um M de Metropolitan salto lá para dentro num abrir e fechar de olhos. Nada me impedirá!


E nada me impediu, até porque estava sozinha com os meus pensamentos e com o meu ipod. Deparei-me com um gigante mapa de Paris salpicado de centenas de linhas de metros de todas as cores e números possíveis e cheguei à conclusão que nem sabia em que canto de Paris se encontrava Boulogne, sabendo apenas que era um banlieue bem agradável. Ora perguntei ao rapaz dos bilhetes que me diz "en bas, à gauche!". Lá encontrei a minha estação e eis que tinha uma linha directa para os Champs Elysés. Queria dois bilhetes se faz favor. Vous ètes ravissante! Responde-me ele. Não consegui não sorrir e não lhe dizer merci beaucoup e dá-me cá os meus bilhetes de aller et retour antes que eu fique com medo e perceba que sou uma miúda inconsciente a passear-me pelo metro de Paris, à noite, com um esvoaçante vestido à anos 50.

O metro, nojento de fazer impressão, ainda se passeou por umas 10 estações até à minha e, chegando lá, ainda tive que atravessar a pé até outra, cheirando tudo igualmente mal ou ainda pior, para chegar à saída número um. Estava quase, mas quase a pensar que isto tinha sido uma asneira. Eram quase 11h da noite e o último metro de regresso era pouco depois da meia-noite mas, verdade seja dita, subir as escadas do metro e encontrar-me no meio do Champs Elysés compensa todo e qualquer esforço possível.


Não me vou por a descrever as centenas de pessoas a passear, as lojas todas abertas e salpicadas de gente a entrar e a sair, os piropos constantes (conquistei Paris!) e o crepe que comi enquanto subia e descia aquela rua única no mundo inteiro. Para isso escrevia o tal livro inteiro sobre uma noite em Paris e não apenas um textinho no blog.

Óbvio que quando acabei o meu smoothie de morango e me voltei a enfiar no metro já não achei tanta piada à coisa. Tinha as indicações todas bem decoradas na minha cabeça para não me perder mas claro que o encanto de um metro mal cheiroso e mal frequentado em direcção aos subúrbios depois da meia-noite se desvanece rapidamente. Na altura já desejei ter um jeans e uns ténis calçados em vez de um vestido esvoaçante e umas sabrinas amorosas que já me magoavam os calcanhares e não vou exagerar se disser que olhei umas 5 ou 6 vezes para trás nos 5 minutos que tive que andar a pé da estação de metro até ao meu hotel de sonho.

Mas, como é previsível pela calma com que escrevo isto, correu tudo bem e lá me atirei para cima dos edredons para ver um filme em inglês com legendas em francês o que, parecendo que não, é muito interessante.


Podia-se dizer que a viagem perfeita tinha acabado ontem à noite e que hoje tinha sido a parte chata, mas não! Paris é assim! Se eu lá morasse, acordava sempre à primeira quando toca o despertador em vez de acordar, em média, 2 horas depois do primeiro toque como acontece aqui em Lisboa. Talvez seja por ser diferente, talvez seja por me sentir importante a viajar sozinha em trabalho, mas dei um salto da cama esta manhã com o maior sorriso de felicidade de sempre e vesti-me a correr para viver esse grande, grande momento que é um bom pequeno-almoço de hotel.

A conta já tinha sido tratada, disseram-me eles, mas isso já eu sabia, fazia parte de ser uma viagem de sonho. Isso e estar a 2 quarteirões dos escritórios e estar uma manhã absolutamente fantástica, nada tão quente como tem estado por Lisboa, num bairro amoroso cheio de cafés de esquina com mesinhas montadas e croissants a serem servidos a pessoas com bom aspecto. (Os croissants estou a exagerar, não vi nenhum, mas acho que foi mais falta de concordância temporal do que imaginação pura.)


Após uma manhã de formação que acabou por ser uma reunião entre mim e uma pessoa com quem falo quase semanalmente por e-mail, fomos almoçar as duas a um restaurante japonês extremamente fashion daquela zona de Paris onde, de facto, se encontravam mesmo os directores japoneses da minha empresa na Europa. Mas não houve interesse entre nenhuma das partes em que fossemos apresentados. Para não ser previsível de mais, não vou dizer que o almoço estava maravilhoso, que estava, e que o ambiente de todo o dia foi óptimo, conversei imenso (já em inglês!) e que o almoço foi, claro está, oferecido pela empresa. Podia quase dizer que a Beatrix e eu ficámos quase amigas e que vamos trocar imensos e-mails porque temos imensas coisas em comum, mas antes de me vir embora tive que lhe dizer: "Sabes Beatrix, foi bom conhecer-te mas já não tenho 18 anos, não faço mais amigos. Adeus e falamos quando precisar da tua ajuda com este projecto". Kidding, óbvio. Mas também não ficámos propriamente amigas, estou a exagerar. Mas fiquei com óptima impressão dela porque, até à data, a única Beatrix que havia na minha vida era a Beatrix Lestrange do Harry Potter que é má para caraças e portanto achava que esta também seria meia louca e, quem sabe, também um bocadinho bruxa.


Já não posso é dizer que tenha adorado a ala Oeste do aeroporto de Orly, repleta de espanhóis a viajarem de regresso para Sevilla e Madrid após uma viagem desenfreada com os miúdos à EuroDisney. Era nitidamente uma população espanhola de classes D e E para baixo. Barulho, gente, todos muitos grandes e com muitos fedelhos à volta. Uma dor de cabeça. E eu não costumo ser assim, juro que não.


Mas viagem a Paris à parte e espanhóis à parte, o livro que eu gostaria mesmo, mesmo de ter escrito, era um livro que contava a história de como, mesmo antes de embarcar, me aproximei da emigrante portuguesa que mora em Paris e que visita a terrinha uma vez por ano, mais ou menos a 24 de Julho, e puxei da minha pistola com silenciador aplicado, encostei-a à sua malinha azul e dei um tiro no pequeno cãozinho que saltava lá dentro e dava gritinhos insuportáveis.

E eu sei, eu sei. Que muita gente adora muito cãezinhos e as lambidelas deles e até dorme com eles na cama e outras coisas que tal. E eu não odeio, aliás é certo e sabido que quero muito ter um cão. Mas um cão pequenino, nervoso, enervante, irritante, dentro de uma mala azul e, acima de tudo, dentro do meu avião, isso é que não.


Mas esse livro não poderei nunca escrever por diversas razões: não tenho uma pistola nem um silenciador. Aliás, só sei o que é um silenciador por causa da televisão.

E não posso escrever um livro sobre uma viagem de sonho a Paris porque o horror do cão me estragou o sonho todo e ladrou a viagem toda para cá, coitadinho, porque tinha dores de ouvidos.

22.7.08

Just perfect

Ri & Jaime
13 Julho

14.7.08

Uma laranja, meia laranja.

Vinha com a minha avó ontem de carro para Lisboa. Tão querida, não se importa nada de andar num carrinho sem ar-condicionado e que, verdade seja dita, é quase um carro a pedais de tão devagar que anda.
Estávamos a falar de namoricos e casamentos, numa fase em que estes últimos abundam cada vez mais, tanto na minha família como fora dela, quando a minha avó partilha comigo a visão dela do amor. Diz-me que Deus, lá em cima, parte milhares de laranjas ao meio e atira todas as metades ao calhas cá para baixo. E que nos cabe a nós, meras metades de Vitamina C, encontrar a nossa metade certa.
Podia ajudar termos sido cortados, cada laranja, com uma faca com uma serrilha diferente, tornava tudo mais fácil. Ora encaixa ora não encaixa, percebe-se logo e não se perde tempo com a metade errada.
Mas acho que faz parte que assim não seja e faz parte que cometamos erros atrás de erros.

Não sei se eu pessoalmente vejo bem assim as coisas. Mas também acho que, até encontrarmos a nossa metade certa, faz parte não acreditar nesta teoria porque as probabilidades à partida parecem baixíssimas.
Ainda assim, tenho que ter em conta a opinião de uma pessoa com um bocadinho mais de experiência nesta área do que eu.

De qualquer forma, e acho que é isso que tenho tido dificuldade em explicar, não sei até que ponto é que devemos andar à procura da laranja-metade.
Eu, para ser sincera, não ando.
Se penso nela? Evidentemente, espero que faça parte do meu futuro. Mas também sei, acho, sinto, que saberei quando a encontrar.
Não acho que seja uma metade qualquer, que seja algo que eu consiga forçar.
Não acho que olhe para alguém e pense “Sim senhor, tu serias uma metade fantástica. Gomos do tamanho certo, nível de acidez semelhante ao meu, casca no mesmo tom, quantidade de concentração de sumo absolutamente compatível. Vou investir nisto apesar de nem te achar grande graça e quem sabe um dia não me apaixono por ti e fazemos uma bonita laranja inteira?”.

Não.
Não consigo explicar as centenas de razões pelas quais isto não faz sentido.
I'm sorry...

Em primeiro lugar, sendo fria e dura, que é coisa que não sou, se não estamos apaixonados neste momento, querida laranjinha, é porque o mais certo é nunca virmos a estar.
Depois, e falando da tal solidez que supostamente se alcança quando tudo o resto faz sentido menos essa dita paixoneta, pura e simplesmente não é uma prioridade para mim.
O que é que me interessa a solidez de uma relação quando o que procuro é alguma coisa que me tire os pés do chão de felicidade?
Aliás, porquê supor que a próxima metade de laranja a aparecer na minha vida vai já ser a metade ideal? E porquê supor que já deveria estar a procurar a última metade? E se não estiver?

O que quero dizer é que não, no fundo nem sou uma pessoa muito exigente. Até dou por mim a estabelecer critérios muito elevados (literalmente) e a ignorá-los totalmente quando chega a hora da verdade.

Mas se é para aparecer alguém na minha vida, se é para por sequer a hipótese de existir alguém em quem eu queira pensar mais do que o normal, então aí, há um mínimo que eu exijo.

E esse mínimo não é nada mais, nada menos, do que o estômago aos saltos quando o telefone toca, estar nervosa antes de cada encontro, contar os minutos até já poder voltar a telefonar sem parecer ridícula de mais.
É ficar obcecada com a roupa, com o que fica bem e com o que fica mal a achar que cada pormenor conta. É passar dias inteiros a construir sonhos na minha cabeça e passar as noites a vivê-los na minha imaginação.
Esse mínimo é estar apaixonada sem pensar no futuro, se vai correr bem, se vai resultar, só porque naquele momento tudo parece possível mesmo que seja tão evidente que não o é. É ter a solidez do futuro como última prioridade possível na minha vida.

É tão simples. Talvez seja pedir de mais mas ainda vou ficar à espera disso um dia.
Até lá, prefiro viver apaixonada por tudo o resto na minha vida. E eu sei que é deprimentemente positivo da minha parte dizer isto, mas até estou.

Porque esse tal mínimo, essa tal condição quase insignificante, neste momento não existe. Sabemo-lo muito bem! Porquê forçar?
(É uma pergunta retórica não preciso de resposta.)