30.11.07

Tão feliz

Ultimamente tem-me custado imenso a levantar, não sei porque será. Sei que ando cansada e que esta época de exames tem dado cabo de mim. Não que tenha estudado por aí além e que vá ter as melhores notas de sempre, mas a verdade é que é mais complicado conciliar trabalho com exames do que eu estava à espera.
Hoje achei que me iria levantar num ápice, sendo um dia tão importante, mas acabei por ficar a molengar até ao último minuto possível à mesma, como nos últimos dias. Estou de rastos e este fim-de-semana vou dormir como nunca.
Levantei-me, bem nervosa, e preparei-me para a fatídica reunião que me esperava às 11h para os lados de Manique. Ainda vim trabalhar um bocadinho mas a minha cabeça já estava bem mais para os lados da linha que para os lados de Lisboa.

O caminho para lá foi um suplicio de nervoseira e só me apetecia poder falar com alguém que me relaxasse e me desse imensa força, mas não havia ninguém a quem eu pudesse ligar. As poucas pessoas que eu esperava que me dessem boa sorte já o tinham feito, mesmo que desejar boa sorte fosse contar o trânsito e perguntar se eu estava histérica com hoje... só soube agora que a pergunta nem estava relacionada com a entrevista.
Mas não estava, não estive histérica nem estive elétrica. Estava só preocupada com poder estar novamente com esperanças numa coisa que não se concretizasse, daí nem querer falar do assunto a mais ninguém.
Não vou dizer que eventualmente na viagem de carro até lá não me fez confusão não ter "aquela" pessoa a quem pudesse estar a mandar mensagens e que estivesse eventualmente tão nervosa quanto eu por saber o quanto isto significava para mim. Mas se estas coisas não me passassem pela cabeça, não seria eu!

Cheguei lá e pediram-me para esperar. Fiquei de pé a olhar à minha volta e a absorver tudo quanto possível e tão depressa quanto possível apesar de ser a 30ª vez que ali estava. Vi calças de ganga e fiquei contente mas depois lembrei-me que hoje é 6ª-feira e pode não ser hábito nos outros dias um dress code tão casual.
Passados 15 minutos alguém deve ter dito alguma coisa porque de uma janela de vidro que dá para a recepção vi imensas cabecinhas a espreitar a tirarem-me as medidas. Mas nada... eu continuava ali, de pé e nervosa como nunca.

Cabelo perfeito. Maquilhagem perfeita. Roupa perfeita. Resultado final? Razoável.
É inevitável, não me consigo classificar a mim própria acima disto, para isso é que servem as outras pessoas todas que me rodeiam!
Espero mais uns minutos e vem, de lá do fundo, a Directora da marca, com quem eu iria ter uma reunião. Dá-me dois beijinhos e diz-me que espere mais um bocadinho que está atrasada.
E eu espero.
Vem a Directora de Marketing, com quem eu também iria ter a reunião, a dizer que está tudo um bocadinho atrasado, se quero um café? Um bolo? Nada obrigada, estou bem assim. Estava era gelada ao pé da porta para a rua mas isso não me pareceu relevante.
Finalmente decidi sentar-me, estava a ser ridícula de pé à horas mas a verdade é que os sofás eram daqueles muito muito baixinhos e ia ficar com as pernas para cima, o que nunca dá muito jeito estando de saia.

Como sempre, mal me sentei, lá aparecem elas as duas. É como aquelas pessoas que fumam e que sempre que acendem o cigarro aparece o autocarro. Nunca percebi porque é que nunca acendiam o cigarro mais cedo. Talvez se eu me tivesse sentado logo não tivesse esperado 50 minutos.

A reunião foi rápida até porque elas já me conheciam bem. O resultado foi bom e eu nem queria acreditar.
Acabou o horror deste gabinete amoroso e à minha medida onde me sinto totalmente enclausurada num trabalho que não me preenche. Acabou-se esta rotina chata e acabou-se escrever, escrever e escrever sobre todas as variáveis possíveis de tratamento, cosmética, maquilhagem e perfume que possam ser aplicadas no corpo humano.
O busto, a celulite, as estrias, o banho, as mãos, os pés, os cabelos, o rosto com lábios e olhos muito sensíveis e todas as outras dimensões possíveis e passíveis de serem analisadas ao pormenor... vão passar a sê-lo por outra pessoa. Quem? Nem me interessa saber!

O que me interessa é que a partir de 2 de Janeiro estou com os pés assentes numa das empresas de que mais gosto e a trabalhar com uma marca que pura e simplesmente adoro.
A viagem de regresso foi a loucura dos telefonemas a todos quanto pudessem estar minimamente interessados. Nem dei conta do tempo passar em toda a viagem pela A5 fora até Lisboa e agora cá estou eu, em cima dos meus tapetes às riscas com ar confortável e a contar os dias que faltam para nunca mais os ver à frente!

Gostava de conseguir resumir isto em imensas palavras e explicar ao pormenor tudo o que estou a sentir mas resume-se a uma coisa tão simples: estou tão feliz!

28.11.07

Diário interactivo!

Às tantas há pessoas com quem apetece partilhar tudo e não há nenhuma razão especial para que assim seja. É pura e simplesmente porque é assim e porque já o é há uns anos.
Pessoas como tu que, uns dias mais perto e outros dias mais longe, tornam sempre fácil de mais desabafar. Porque me ajudas a raciocinar muito antes de eu saber que tenho que o fazer e porque me mostras logo outro ponto de vista muito antes de eu saber que podia haver sequer o meu próprio.
E não é por seres mais amiga que outras amigas, melhor amiga que outras amigas, apesar que melhor que milhares já nós sabemos que és, é porque é sempre com naturalidade que és a segunda parte de cada pensamento que tenho. Inevitavelmente, tudo o que vivo acaba por passar por ti mais rápido ainda do que passa por todas as partes de mim e por isso, quando passa, acaba por até já ser influenciado por ti.
Não que isso seja mau. A verdade é que são muito poucas as opiniões que se calhar eu tenho em consideração, apesar de as ouvir a todas mais do que devia. Mas as tuas oiço. Não que as siga sempre e não que de tempos a tempos não me exalte ligeiramente com essa tua tendência para dares conselhos mesmo quando eu não quero, ou não fosses tu tão tu própria e tão certa das tuas ideias, mesmo que vão contra tudo e todos.
Mas o que acontece é que me lembrei disto agora porque me tem acontecido ultimamente cada pensamento que me surge, por mais pequeno que seja, ir partilhá-lo contigo. Como se fosses uma segunda parte da minha vida, um diário interactivo.
E o mais engraçado é que já foi assim tantas vezes e o mais certo, e é o que eu espero, é que acabe por ser tantas mais ao longo da nossa vida. Claro que há sempre aquelas partes mais distantes em que oceanos ou namorados se atravessam entre nós mas acho que isso faz parte de tudo na vida.
E há amigos que não temos em comum, ideias com as quais não concordamos, pessoas que não toleramos que a outra até gosta e se calhar quem sabe muitas vezes nem nos queremos tolerar uma à outra, se bem que isso não tendência a acontecer porque somos rápidas de mais para darmos importância a isso.
Mas ainda assim é muitas vezes o teu pensamento frio que me acorda para a realidade e me faz andar em frente ou a tua força e incentivo absolutamente motivadores que me dão coragem para seguir em frente com coisas para as quais às vezes não me sinto preparada.
A verdade, afinal de contas, é que há intimidades que não se perdem mesmo quando se passa muito tempo sem se desfrutar delas e há pessoas que realmente desempenham um papel importante, presente de mais para poderem ser substituíveis.
Obrigada por me aturares e aos meus devaneios constantes!

Para quem ainda não percebeu para quem escrevi isto, dou as seguintes pistas: leitora nº1 do(s) meu(s) blog(s), dos mesmos livros que eu e companheira inseparável de eternas e memoráveis viagens pela A5, entre muitas outras viagens que estão para vir, com certeza.

27.11.07

Só rir

Vou mudar as regras.
Do nada, única e exclusivamente porque me apetece e porque em mim só eu mando, não vou seguir os mesmos passos de sempre, percorrer o mesmo caminho de sempre, as mesmas pegadas gastas das quais estou farta.
Não que não as volte a procurar mais tarde, até porque sei que são as pegadas certas, mas este não é o momento de seguir já por esse caminho, tão sério e previsível que neste momento me parece assustador. Aborrecido.
Apetece-me quebrar tudo. Fugir ao que sempre defendi, por um dia que seja, e fazer tudo ao contrário. Tudo de pernas para o ar. Não pensar tanto. Ou não pensar nada, em nada mesmo. Não medir as consequências, não tentar prever o futuro, as razões pelas quais nunca fui assim, sempre sabendo que estava bem e agora posso estar errada.
Porque sei que não estou. Só não quero é pensar nisso!
Apetece-me seguir os meus instintos. Por de parte as minhas ideias preconcebidas que se calhar até já defendi tantas vezes com unhas e dentes e que muito provavelmente vou voltar a defender daqui a uns tempos e, por um espaço de tempo que só eu saberei definir, porque só eu sei porque é que me apetece viver este momento e mais ninguém à minha volta, ser uma pessoa desprendida, solta.
E não serve de nada dizerem-me que sim, que assim é que é miúda, vais no bom caminho e não ligues tanto a coisas insignificantes que não têm valor... porque isso não é verdade, claro que têm valor, só não têm é tanto valor neste momento específico da minha vida.
Neste momento não me interessa nada. E é tão bom estar a viver uma fase em que não há ninguém que me julgue, ou pelo menos alguém à minha volta que eu reconheça como tendo o poder absolutamente estúpido de me fazer sentir mais pequena e por isso mesmo mais susceptível de ser julgada e minimizada. Porque essas pessoas, que julgam para pisar e não para ajudar, são pessoas que não fazem falta na vida de ninguém.
É como se a vida que me espera fosse um rio enorme... um rio que eu quero percorrer porque apesar de cheio de surpresas, boas e más, é o rio que eu tenho que descer. E eu não me importo, é o rio que eu escolhi. Mas talvez neste momento, por um momento que seja, me apeteça parar numa ilha e fazer uma pausa. E uma coisa é certa, vou aproveitar essa pausa ao máximo, rir-me como nunca e viver cada segundo como se fosse o último, porque se calhar até é!

22.11.07

No! (Updated)

Às vezes pergunto-me porque será que me custa tanto dizer que não.
Uma coisa tão simples e que oiço tantas vezes e que ainda assim evito ao máximo dizer.
Não sei se é insegurança, se é medo de desapontar ou se é simplesmente vontade de agradar toda a gente. A verdade é que são raras as vezes em que me pedem alguma coisa e eu nego.
Não que não tenha noção de quando estou a ser absolutamente explorada, que de estúpida eu até acho que tenho muito pouco. E nem estou a dizer que nunca diga que não a nada porque digo imensas vezes que não a muitas coisas, mas fico sempre com este aperto cá dentro, com medo de estar a decepcionar, com medo que fiquem chateados comigo!
Mas tenho que compreender que aprender a dizer que não é uma coisa importantíssima. Define os limites que permito que as outras pessoas passem, ou não, na relação que criam comigo e, acima de tudo, define as minhas escolhas e aquilo que eu aceito ou não aceito, o que eu quero ou que não quero.
E se calhar é isso que muitas vezes torna o não tão difícil. Saber que tenho que escolher. Que de tudo o que me aparece à frente, por muito inesperado que seja e por muito bem que me faça sentir, vou ter que tomar uma decisão e rejeitar uma de duas coisas incompatíveis.
Não que a escolha seja difícil, raramente é. Sempre que tenho que escolher entre duas coisas a resposta está sempre à minha frente, de uma clareza óbvia. Mas ainda assim custa sempre. Mesmo que essas coisas não tenham significado nenhum ou que não esteja sequer importada com o significado que possam vir a ter porque não estou sequer a pensar nelas.
É sempre preciso escolher.
E a escolha não tem que ser a mais pensada nem a que faça mais sentido. Não tem que ser medida com todos os prós e contras nem tem que ser uma escolha para sempre. É simplesmente aquela que nos apetece naquele momento e que nos faz avançar, dizer que sim, sem um piscar de olhos, sem hesitar.
Porque se há alturas da vida em que podemos dizer que sim a umas coisas e que não a outras, esta é uma delas. Se há momentos em que posso decidir atirar-me de um avião porque não me importo de partir uma perna quando aterrar, este é esse momento. E eu vou vivê-lo ao máximo. Porque prefiro partir uma perna a saber que nunca saltei.
Acredito que o que interessa é ir em frente e não olhar para trás, para o que poderia ter corrido de maneira diferente, para o que se perdeu ou não, para o que se podia ter aproveitado, para o que poderia ter sido se tivesse tomado a decisão contrária, ido pelo caminho oposto.
O que interessa é saber escolher entre as várias opções que a vida nos apresenta, sejam A, B ou C (mas C não!), e seguir apenas aquela que mais nos apetece. Sem pensar nas consequências, enquanto ainda tenho idade para isso. Sem olhar para trás.

(Nunca tinha escrito um texto que tivesse tantos assuntos metaforizados num só.)

Update: Cheguei à conclusão que este texto podia ser terrivelmente mal interpretado. Não é para ser, basicamente.

19.11.07

Lufada de ar fresco

Eu sei que não tenho escrito nada e a pressão já se tem feito sentir ultimamente. Entre pequenos comentários que quase se assemelham a verdadeiras ameaças à minha integridade física e entre cafézinhos à noite no Bairro Alto em que percebo que a minha Tarte está em primeiro lugar logo a seguir à consulta diária de e-mail de tanta, tanta gente, sinto-me forçada a escrever com uma certa frequência de modo a não decepcionar os meus ansiosos leitores.
E desde sempre prometi a mim própria que nunca iria ter um blog em que pedisse desculpa por não escrever ou em que falasse do facto de lá escrever como tema determinante da minha escrita mas a verdade é que mais cedo ou mais tarde este tema teria que ser abordado.
E desta vez é abordado não para pedir desculpa pela demora nas novidades, até porque no meu blog não há democracia e as regras são minhas e, por isso mesmo, não devo desculpas a ninguém, mas sim para dizer que não tenho escrito nada porque não há nada de concreto para escrever!
Estou a passar a fase mais estranha da minha vida dos últimos tempos e por muito que tente, e acreditem que tenho tentado bastante, é bastante difícil descrevê-la.
Ah! Mas está alguma coisa diferente? Mudou alguma coisa? Até me pareces igual!
Sim eu estou eu própria e está tudo igual mas ao mesmo tempo está tudo a mudar ao mesmo tempo e eu não estou a fazer nada por isso.
Será que não sentem também? Será que não reparam? Porque esta mudança parece-me toda tão grande, apesar de não se traduzir em nada específico, que acho difícil que não se sinta no ar, que não seja visível aos olhos de todos!
De um momento para o outro, sem ter feito nada por isso, consegui-me soltar de tudo o que ainda me atormentava e finalmente a vida à minha frente já se apresenta outra vez, como sempre se apresentou, como um sem número de hipóteses com as quais sempre sonhei e pelas quais vivo maravilhosamente angustiada na expectativa da sua concretização.
E a verdade é que esta prespectiva soturna e melancólica de mim própria era algo que não me deixava em paz já há coisa de um ano ou mais, de maneira que esta lufada de ar fresco não poderia ter vindo em melhor altura.
Começou devagar e muito antes de ser uma grande lufada já eu a sentia ao longe, como uma pequena brisa que só se fazia sentir quando eu acreditava com muita força que estes dias iam chegar. Depois começou a ser mais evidente, até que já não é possível disfarçar que perdi totalmente as rédeas do rumo da minha vida e que tudo está finalmente a mudar à frente dos meus olhos sem que eu possa fazer nada em relação a isso. Aliás, até posso. Posso ir atrás e aproveitar ao máximo estes dias, apesar de ter um pequeno pressentimento que eles vieram para ficar, tal e qual como cá tinham estado durante anos e anos sem fim em que eu não lhes dei valor porque sempre me pareceu tão normal eu ser tão feliz.
Portanto se me perguntarem o que é que mudou, a verdade é que tanto mudou tanta coisa e tão drasticamente como no fundo não mudou nada e sou só eu que me sinto outra vez tão, tão eu passado tanto tempo.
Bem sei que aproveitei ao máximo cada fim-de-semana de Verão possível e imaginário, que fui a todo o lado e com toda a gente, que conheci Barcelona de um canto ao outro e todos os bocadinhos de Portugal que me interessavam. Mas a verdade sempre esteve estampada e toda a gente sempre o soube. Com ou sem férias, até porque não foram as férias que me fizeram falta e o Verão acabou por ter mais férias, de certeza absoluta, que alguns dos últimos anos, estes últimos meses foram de longe os meses mais difíceis da minha vida e eu não consigo, por um segundo que seja, esquecer-me do quão feliz estou, pura e simplesmente, por eles terem acabado. Só mesmo porque finalmente parou a avalanche de tormentos que só me empurravam cada vez mais para baixo e que tornavam cada dia mais difícil a simples perspectiva de que tudo se pudesse vir a endireitar outra vez.
E podem tentar encontrar mil explicações para isto tudo se ter passado agora e não em Julho ou em Agosto. Podem até tentar procurar pessoas que achem que foram determinantes para isto tudo ter corrido como correu, tanto as partes boas como as partes más. Mas a verdade é que afinal de contas eu tinha razão e ia ser eu, só eu sozinha, quem tinha que percorrer todo aquele caminho e saltar dele para fora antes de ser tarde de mais e eu me tornar na pessoa menos empolgante do mundo, em que o único interesse iria ser sem dúvida um blog deprimentemente divertido.

15.11.07

Boneca Fútil

Acho que tenho chegado a imensas conclusões sobre mim própria ultimamente.
A ideia de começar um projecto de vida novo, neste caso a Pós-Graduação mas podia ser outra coisa qualquer, dá-nos sempre a ideia de que vamos poder ser quem quisermos. Vou conhecer pessoas novas, que não sabem nada sobre mim e vou poder aproveitar para ser apenas aquilo de mim própria que mais gosto e mostrar a pessoa que sempre quis ser.

Passado dois minutos isto é uma ilusão pegada.
Não sei ser nada que não seja eu própria e tudo de mim acaba por vir ao de cima tão depressa como azeite em água. Seja bom ou seja mau, fosse o que eu quisesse ou não.
E a verdade é que não faz mal. Para quê fingir? Para quê mudar? Aliás, se eu pudesse mudar, o que é que eu mudaria?
Por um lado não saberia por onde começar mas por outro... sou só eu. E eu sou assim. E estou a chegar à conclusão que se calhar nem faz mal ser assim. Vai haver sempre quem goste e quem não goste.

Mas a parte boa de conhecer pessoas novas é voltar a ouvir primeiras impressões sobre mim própria. Acho que todos gostávamos de saber o que é que verdadeiros estranhos pensam de nós e a verdade é que essa oportunidade só aparece raramente. As opiniões são variadas e a verdade é que, no entanto, aquelas que mais me interessavam se calhar nunca as vou ouvir.
Ainda assim, já tenho umas luzes sobre a imagem que transmito à primeira vista e aquilo que sou para algumas das pessoas que me conhecem há um mês.

"Uma boneca fútil."

Vou ficar encravada nesta definição que, para mim, é relativamente perjurativa. Compreendo que não o seja para muita gente cujo objectivo é precisamente passar essa imagem, mas não era propriamente o meu objectivo de vida.
Esta foi a opinião de uma pessoa que me viu pela primeira vez entrar na sala de aula no meu vestidinho amarelo. Mas vá lá, sempre tenho o consolo de saber que esta opinião mudou mal eu "abri a boca".
Comunicadora, dinâmica, despachada. Uma óptima pessoa para me juntar num grupo de trabalho. Inteligente.
Estas foram as ideias seguintes. Nada mal.
Adoro que, desde que nasci e até aos dias de hoje, continuem a confundir a minha fluência de palavras, tanto faladas como escritas, com inteligência. Não há nada a fazer e o único resultado é a decepção, mais tarde, quando afinal a inteligência não é assim tanta e 300 entrevistas de trabalho não dão em nada.

E depois veio o comentário inevitável que falo depressa de mais.
Adoro esta parte.
Sobretudo porque quando me dizem que estou a falar depressa de mais é porque sei que estou à vontade e estou a ser eu própria. "Parece que estás a dizer uma coisa mas a tua cabeça já vai 3 frases à frente e estás com medo de te esquecer de tudo!". Foi a melhor definição até hoje desde o dia em que fiquei de castigo 15 minutos sem poder falar e não me calei a dizer que nunca mais ia falar na vida.
E a verdade é que é mesmo assim. Quando realmente sei que tenho coisas para dizer e que me estão a ouvir, todo o tempo é pouco para deitar tudo cá para fora antes que me mandem calar. É inevitável e tão difícil de controlar quanto a minha caligrafia que tento mudar desde sempre e que tenho que finalmente aceitar que, se é igual à do meu pai e à do meu avô e se eu não consigo mesmo escrever de maneira diferente, deve ser por alguma razão.

O pior é que, quando falo, só digo 1% das coisas que penso e, quando digo, só o devo dizer a 1% das pessoas que conheço. Mas se ainda assim já falo isto tudo, que seria se dissesse tudo o que pensava?
Não só seria a pessoa mais chata do mundo porque provavelmente não diria coisa com coisa como ainda mais provavelmente me arrependeria de quase tudo o que dissesse no segundo seguinte a dizê-lo.
Mais vale escrever.

Fighting the storm




Esta musica e, de longe, a banda sonora desta fase da minha vida. Por fase de vida defino antes de ontem, ontem, hoje e se calhar amanha ja nao.

(A falta de acentos nao e culpa minha)

13.11.07

Stop making a fool out of me




Give it up for the girls... the winettes!

8.11.07

As manhãs são o pior

As manhãs são, de longe, a parte mais difícil do meu dia. Acordar, ainda na minha cama e saber que por mim não saia de lá o dia inteiro. Não me mexia.
E não é que tenha sono. Não tenho!
É o pensamento, a simples ideia do que me espera. A rotina assustadora que passa invariavelmente por fazer dezenas de coisas que me revoltam.
Levanto-me como um robot e as minhas manhãs são todas iguais. Não posso ficar a dormitar porque sei que o trânsito só piora e fica impossível estacionar.
E a mota parada na garagem porque não tenho tempo de ir tratar da papelada e do seguro.
Chego sempre a horas mas ninguém dá por isso. Se chegasse atrasada já reparavam. Não que me dissessem, mas há um olhar que eu sinto quando atravesso o corredor até ao meu escritório, um olhar escrutinoso de quem pensa que realmente grande lata que ela tem, acha que é melhor que os outros aqui dentro e que pode chegar mais tarde, como se nós também não tivéssemos sono!
E a rotina de dizer bom dia, tão forçada que era preferível nem dizer nada. E hoje reparei, aqui no meu escritório do canto, que só me diziam bom dia porque tinham que passar por aqui para ir dizer bom dia ao patrão, que está mesmo em frente a mim. Hoje ele não está cá e ouvi apenas uns gritos ao longe, umas desculpas abafadas que provavelmente as deixam com a consciência apenas tranquila o suficiente para não acharem que foram mal-educadas.
E a mim pouco me importa. Prefiro nem ter que fingir, nem ter que forçar um sorriso. Sim, porque forço sempre um sorriso. E ainda bem que forço, já chega de melancolia aqui dentro sem um sorriso de vez em quando, seja ele forçado ou não. Mas a verdade é que se eu não o forçar, mais ninguém o faz. Seja sincero ou não.
E depois estou aqui sentada, no meu escritório perfeito com os meus tapetes novos, às riscas encarnadas, cor-de-laranjas e brancas, e só conto os minutos que faltam para sair daqui.
Até tenho trabalho para fazer. Aliás, estou cheia de trabalho! Mas é tão desmotivante, tão pouco gratificante, tão monótono... É um desespero.
Sinto-me mal porque sei que sou uma mimada mal agradecida. A verdade é que sempre fui, não há muito a fazer em relação a isso. E quanto mais me mimam, mais mal-agradecida sou.
Talvez não quisesse mimos. Talvez quisesse um trabalho árduo onde nem tivesse tempo para pensar nas riscas do tapete. Onde não estivesse sozinha um dia inteiro, sem ninguém falar comigo nem controlar se o trabalho que faço, o faço em 3 horas ou em 3 dias. Desde que o faça. E isso faço-o sempre.
Adorava que alguém entrasse aqui dentro, de rompante, e me desse uma descasca de todo o tamanho por me apanhar a escrever no blog. Que me dissesse a falta de respeito que é eu estar ocupada com os meus próprios pensamentos quando as pessoas à minha volta estão todas a trabalhar. Que sou paga para fazer o que me mandam e não para fazer o que eu quero. Óbvio que neste ponto eu iria dizer que me pagam miseravelmente e que tenho direito a pelo menos uns momentos do meu dia para fazer o que quero.
Enfim, dá Deus nozes a quem não tem dentes. Eu tenho uns dentes enormes e neste escritório não entram nozes porque o director é alérgico e se as comer vai directo para o hospital.
Tanta gente por aí que deve sonhar com este pequeno gabinete iluminado pelo Sol, com tempo e tempo para pensar na vida e para dedicar ao mundo ifinito da internet. Eu só queria estar mais ocupada.

2.11.07

Os últimos momentos

Sempre tive um sério problema com saber dar uma resposta exacta quando me perguntam qual o meu tipo de música preferida. Em primeiro lugar nunca gostei do mesmo tipo de música que as meninas da minha idade deviam gostar e por outro, ainda pior, sempre odiei que as meninas da minha idade ouvissem as mesmas músicas que eu porque depois as cantavam imenso e lhes tiravam o significado especial que eu lhes tinha atríbuido.
Ainda assim, adoro música. Não me parece, no entanto, que se algum dia realmente me desse ao trabalho de elaborar uma resposta coerente sobre o tipo de música que mais gosto, coisa que seria complicada e bastante improvável, eu fosse dizer que o meu tipo de música favorito seria a música clássica.
Não, não me parece sequer que essa ideia me surgisse.
Não sou conhecedora, não sei o nome das músicas, não consigo associar uma música ao seu compositor, quanto mais ao seu nome!
Ainda assim, devo admitir que a música clássica cresceu dentro de mim. Ou melhor, eu cresci com ela. Todos os dias, pela hora de jantar, o meu pai escolhia um CD para ouvirmos. Fazia parte do ritual maravilhoso que eram estes jantares cá em casa, em que ainda eramos invariavelmente 5 ou 6 à mesa e em que os jantares duravam sempre para cima de uma hora. Mais de uma hora, todos os dias, a ouvir música clássica. De Beethoven a Chopin, de Mozart a outro qualquer cujo nome não me ocorre neste momento.
Sempre que ouvimos um instrumento diferente, o meu pai diz-me sempre: "Rita, devias aprender a tocar piano!", "Rita, devias apender a tocar saxofone!", "Rita, devias aprender a cantar ópera!".
Escusado será de dizer que a única coisa que eventualmente aprendi a tocar foi flauta e que mesmo assim já só sei tocar o Hino da Alegria.

Mas a verdade é que o concerto de Maria João Pires a que fomos assistir em Macau foi absolutamente mágico. De uma forma inexplicável, aquelas músicas estavam cá dentro. Se tivessem letras, eu saberia cantá-las de cor.
Foi um sonho ver aquele um grupo tão grande de pessoas a conseguirem coordenar-se e fazerem-me reviver anos e anos vividos na minha sala de Algés, aqueles jantares à mesa onde o assunto não faltava, onde se contavam os dias passados e se discutiam as vezes de arrumar a cozinha e levantar a mesa.
O momento, só assim, já seria mágico o suficiente. E por isso mesmo é difícil de explicar o que senti quando, ainda por cima, senti o meu adorado adorado sobrinho Jaime, ainda dentro de uma barriga constantemente crescente, a dar sinais de vida e a mostrar que também ele estava a adorar a música e a sentir o quão maravilhoso aquele momento estava a ser!

Disseram-me entretanto que a Maria João Pires é uma pessoa insuportável, antipática e anti-social. Fiquei chateada, gosto imenso de gostar das pessoas e fico sempre triste quando me tiram isso de mim. Fazem-me sempre isso. Se acho que alguém é bom actor, ele é gay. Se a Judite Sousa era óptima professora, era drogada. Se a Maria João Pires toca piano de forma absolutamente inacreditável, então é porque é mal-educada e arrogante. Mete-me pena. Acho que nunca vou conseguir idolatrar ninguém. Vem sempre alguém por trás, muito feliz, desfazer-me as minhas ilusões, rebentando-as muito rapidamente como quem fura um balão com uma grande agulha de tricot.

Voltando à minha viagem pelo Oriente. Nesse mesmo dia do concerto tivemos o tal almoço. É uma refeição chamada Yam-Cha, que em chinês significa beber chá. Para eles é apenas um pequeno-almoço durante o qual se bebe essa bebida à qual me forcei a tolerar durante esta viagem, apenas para não lhe voltar a tocar tão cedo. Mas a comida é tanta, mas tanta, que a refeição foi adaptada ao almoço ou jantar para os meros ocidentais que não percebem nada daquilo. Gostava de conseguir explicar o que comemos mas seria impossível porque me esqueci do nome de tudo no momento em que ele saía da boca de quem mo dizia.
Sei dizer que foi maravilhoso, num restaurante fantástico no casino Wynn. A comida era tão, mas tão deliciosa que vou com certeza ficar a sonhar com ela durante muito tempo.

Durante a tarde demos mais umas voltas e visitámos os pontos de culturais de Macau que ainda faltavam para depois irmos para casa para nos prepararmos para o concerto. Depois do concerto fomos novamente a um restaurante tailandês, ao qual toda a gente gosta de chamar Bangkoke, apesar de ele ter um nome bem mais complexo do qual também já me esqueci.

O último dia (ontem) foi passado a acabar as últimas compras e a tentar enfiar tudo dentro das malas. Almoçámos ainda com o Quico e a Mary num restaurante italiano muito simpático mesmo no centro de Macau e no final do dia eles foram-nos levar ao ferry para o início de uma viagem de regresso que eu ainda nem acredito que acabou.

Não consigo explicar as saudades que já sinto, o bom que foi, o difícil que vai ser não estar presente quando nascer aquele bebé que eu já sei que é tão, tão querido e ainda nem o vi fora da sua barriguinha.
Também não consigo agradecer o suficiente por tudo isto. Por esta viagem maravilhosa, pelos mimos todos, por nos terem feito sentir em casa e nos terem mostrado o quanto gostaram da nossa visita.
Quem me dera voltar já daqui a um mês.