28.4.08

Diário dos meus dias sem pi

(Escrito na sexta-feira, 25 de Abril)

Pi,

Se não te dei mais notícias até hoje, se não te mando mais mensagens, é porque tenho sempre aquela tendência de passar para a vida dos outros aquilo que imaginaria como ideal na minha. E a verdade é que, se fosse eu a ir para África durante 2 meses, provavelmente ninguém saberia de mim durante todo esse tempo e o meu telemóvel ficaria, mais uma vez, fechado na mesa de cabeceira cá em Lisboa.

Este fim-de-semana grande pensei em deixá-lo lá, assim como tinha pensado fazê-lo na Páscoa. Mas imagino sempre aquela comichão constante que me ia perseguir o fim-de-semana inteiro. Talvez seja o meu único vício… o telemóvel, claro.

Estou sentada na casa de jantar da Casa da Boiça, onde passámos tantas tardes a descascar avelãs, num Verão em que não parámos de nos matar uma à outra, dia após dia, com tanta discussão inútil. Lembro-me de acordar e pensar que ia tentar não discutir contigo, que ia fazer um esforço enorme.
Mas sempre foi assim! A ideia que tinham de nos colar uma à outra durante meses e meses de férias nunca tinha bom resultado. Parecidas de mais em tanta coisa e diferentes noutras tantas, com 10 anos de idade, a mistura era explosiva. Hoje já não sei se seria, mas já não temos meses e meses de férias para fugirmos juntas…

A primeira vez que vejo um computador nesta casa onde parece que o tempo parou. E só o trouxe porque o meu pai precisa dele para estudar para o seu curso de patrão de alto mar. No chão, ao meu lado, está a minha filha de aluguer.
Trouxe a Beatriz comigo, a pensar que seria tarefa fácil tratar de uma princesa como esta, mas afinal, nada disso. Princesa como é, que come tudo e dorme como um anjo, ocupa-me todos os segundos do meu dia e mesmo escrever-te este texto implica ter um olho a olhar para o monitor e outro a olhar para ela, sentada no chão a tocar no seu xilofone colorido.
Ontem à noite, só para teres uma ideia, chegámos por volta das 10h e a minha prioridade número um era por o telemóvel a carregar, pois estava há umas 3 horas incomunicável. Quando finalmente consegui deixar a Beatriz a dormir e desci as escadas para encontrar o carregador, passava da meia-noite! Nem queria acreditar.

Mas isto tem sido uma animação. Ias adorar. Às 8h30 da manhã já estava na cozinha a fazer o biberon da Beatriz a fazer torradas com manteiga para o António e para a Teresinha. O Tiago e o Filipe já andavam por aí bem acordados e de pequeno-almoço tomado e mais tarde chegou o Baltazar. Uma balbúrdia total em que a única paz é o teu adorado Zé, que só dorme, come e sorri como um anjo. Ele é lindo. Espero que tenhas recebido o meu MMS com a fotografia dele.



De resto pouco tenho para te contar. Acabei os exames e nem acredito que tenho uma semana sem aulas para descansar. Se cá estivesses ia ter contigo todos os dias e paravas de te queixar da minha ausência constante. Estou ansiosa por acabar esta Pós-Graduação.
A minha mãe anda histérica com as centenas de pessoas que se lembraram que hoje faz anos. Aquele telemóvel que, num dia normal, já é perfeitamente insuportável, hoje atingiu um limite que me dá vontade de atirar o meu para a lareira. Sim, lareira, apesar de estar finalmente um tempo óptimo, dentro de casa estão provavelmente menos 5º que lá fora.
Mas continuando, a minha mãe repetiu a mensagem da sua adorada afilhada a toda a gente que lhe deu ouvidos. Eu, a antipatia constante, a cada vez que ouvia a mensagem, que já sei de cor quase, “gostava de lhe dar um beijinho enorme mas trato disso quando chegar. Um dia de anos óptimo, à altura da minha madrinha!”, repetia que não era assim nada de especial, a Madalena está em Moçambique mas não está dentro duma cela longe de qualquer indício de civilização. Não me ligou, claro está. Anda tudo morto de saudades tuas. Mas olha que isso do “à altura da minha madrinha” tem muito que se lhe diga porque a minha mãe pode ter imensas coisas impecáveis, mas lá altura… não é uma delas!

Gostava de saber tudo sobre ti, além de que nadaste com tubarões baleia. Ainda fiquei a pensar no que significa que te lembraste de mim. Porque achas que eu ia amar nadar com o que quer que seja, que ia de certeza, se foi porque viste seres quase baleias e achaste que foi nesse estado que me deixaste antes de saíres de cá, que foi! Como calculas, aqui na Boiça, dieta é coisa que fica na rua. A minha mãe e a avó, rodeados de centenas de crianças, não acharam nada melhor do que esgotar todo o stock de bolachas, gomas e bolos de todos os supermercados desde Lisboa até aqui onde estamos, seja lá onde seja.
Gostava de saber como vai o namorico, ou os namoricos, à distância, como te estás a dar com a Ana, com os miúdos subnutridos mas gorduchos que já devem fugir de ti à distância com pânico desses beijos redondos com que os deves devorar.

Também gostava de falar contigo, de desabafar. Fazes-me falta. Não que não tenha com quem desabafar, claro que tenho. Aliás, nem tenho assim tanto que precise de desabafar. Só as conversas normais, os pormenores, os segredos, que eu sei que ouves com uma atenção especial. Mas quando tiver alguma novidade interessante, se tiver alguma novidade interessante durante a tua ausência, ligo-te logo a contar.

Até lá, Pi do meu coração, ficas a saber, quando fores a um computador em que a Internet fique ligada o tempo suficiente para conseguires ler isto, que te adoro mais que tudo no mundo e que conto os dias até chegares.

27.4.08

Depois dizes que não gosto de ti...

Ao que parece, continuando nesta vaga de mensagens escritas directamente para África, hoje faz 23 anos que fomos baptizadas.

A minha mãe decidiu vir partilhar isso comigo pensando, talvez, que esse facto devesse ser celebrado. Nunca tinha sabido de tal data na minha vida. Até tenho ideia de já ter perguntado e de não me terem sabido responder. Mas hoje ela lembrou-se e até achou que eu merecia um beijinho.

Toma lá tu um também. E aqui estamos nós. Lindas de morrer!

Quem não adivinhar que é óbvio que eu sou a gorda do lado direito, que nunca mais me fale!

21.4.08

um ano: sobrevivi?

É engraçado, porque há um atrás eu tinha uma agenda e agora, que penso bem nisso, nem me lembro de que cor era. Lembro-me que fiz uma birra tremenda para a ter.
Sempre na esperança inútil de voltar a ter uma agenda como a que tinha tido uns anos antes, provavelmente no meu primeiro ano ou segundo do curso, que me acompanhava para todo o lado e que quase fazia parte de mim. Um bocadinho como o que dizem desses miúdos agora com os seus telemóveis que são extensões deles próprios.
Toda a gente adorava a minha agenda. Tinha tudo colado lá, não me escapava nada, desde o mais simples bilhete de cinema até aos bilhetes de avião. Todos os trabalhos de grupo, todos os trabalhos de hospedeira, todos os anos de todos os meus amigos. Era única.

Inevitavelmente o ano acabou-se e, começando um ano novo, recebi duas agendas de sonho. Uma vinda do Brasil, trazida pela Vera, outra oferecida pelo André. Foi impossível escolher. Acabou-se a agenda na minha vida.

Mas no ano passado, início de 2007, eu decidi que queria voltar, ou pelo menos tentar a voltar ter uma agenda mítica.
Escusado será de dizer que não resultou. Há coisas que não se repetem.

Mas o que me fez lembrar agora essa agenda, que ainda está nos sacos que trouxe do meu escritório antigo e que estou apenas a adiar o tempo suficiente para os conseguir deitar integralmente fora sem lhes tocar, é a altura do ano em que estavamos há um ano.
Nem tanto o dia de amanhã, dia mítico na minha existência mas que, verdade seja dita, tive que ir ver à agenda do telemóvel que dia tinha sido o Domingo antes dos anos da minha mãe, que isto os dias do mês andavam todos meio enevoados na minha cabeça, mas mais o dia em que fazia um mês depois de amanhã, dois meses depois de amanhã.
Lembro-me de contar os Domingos.
Lembro-me de ter na minha agenda, acho que ela era cor-de-rosa, quatro Domingos depois deste Domingo que faz amanhã um ano, uma nota que dizia: um mês, sobrevivi?
E quatro Domingos depois dessa nota, tinha outra que dizia: dois meses, sobrevivi?

E eu sei que agora até pode parecer ridículo, e eu sei que a minha sobrevivência nunca esteve em causa. Mas lembro-me de pensar, de olhar em frente, e não me conseguir imaginar viva, inteira, passados um, dois ou mais meses. Nem passado uma hora, quanto mais um dia que fosse.
E agora, se ainda tivesse uma agenda, amanhã seria o dia em que diria:

um ano, sobrevivi?

E a resposta é óbvia de mais para ser escrita mas ainda me faz impressão pensar em tudo o que foi preciso para que voltasse a acreditar que era capaz de passar um minuto que seja sem pensar nesse assunto.
E na altura seria capaz de jurar que nunca chegaria esta data em que eu conseguisse passar até vários dias sem me lembrar de tudo o que se passou.
Mas, por outro lado, também me lembro de pensar que nunca iria parar de chorar. Lembro-me de achar que os soluços eram eternos.
Só chorava quando estava sozinha, no meu quarto, no meu sofá novo ao sol, onde quer que fosse. Felizmente deixavam-me estar sozinha e não me incomodavam.
Lembro-me que a cada momento em que estava sozinha me lembrava de uma altura diferente. Uma viagem, um passeio, um jantar.
Por cada coisa que me lembrava, chorava como um bebé de 3 anos até adormecer nos meus próprios soluços e nas minhas próprias lágrimas.
Nunca fiz nada para me controlar.
Sabia que por cada coisa só choraria uma vez.
E assim foi.
Chorei cada momento, cada beijo, cada abraço. Chorei tudo. Uma coisa de cada vez.
Nunca quis apressar nada, nunca quis deixar cá nada dentro para me lembrar com saudades mais tarde, nada que me pudesse atormentar ou perseguir quando eu julgava que teria esquecido.
Decidi que aquela era a época, o momento de sofrer. Que não havia ninguém que me tirasse esse direito.
Era a primeira vez na vida que me acontecia uma coisa assim e eu sabia que a única saída era mesmo pelo meio, mesmo descendo tão baixo que deixasse de ver a luz lá em cima. Ou cá em cima, dizendo melhor.

E lembro-me que o que mais confusão me fazia era a estupidez daquilo tudo. Era saber que, por uma vez na vida, me estava a acontecer uma coisa tão importante sem que sequer me tivesse sido dado a escolher se era isso que eu queria.
Era a impotência total.
A estupidez total de ter sido aquela pessoa que durante 2 anos e meio nunca, mas nem por uma vez, teve dúvidas. E eu sei, é inútil negá-lo, o quão raro isso é. Sei que isso não acontece com toda a gente. Nem sei se vai voltar a acontecer comigo, apesar de toda a gente à minha volta gostar de insistir que sabe perfeitamente que vou voltar a viver isso na minha vida.
Eu, neste momento, não sei.

Sei que sobrevivi. Que tento olhar para trás sem ódio nem rancor. Tento medir o que perdi com o que ganhei. Tento-me convencer a mim própria que na altura fez sentido abdicar de ir um ano para Paris, abdicar de voltar ao CISV ou de fazer o inter-rail dos meus sonhos.
Tento pensar que tudo teve uma razão.
Tento medir o que ganhei.
Mas agora passado um ano, acho que o que ganhei foi juízo.
E sinto que cresci mais este ano sozinha, vivi mais e diverti-me mais, vi mais do mudo e das pessoas do que naqueles dois anos e meio presa a uma realidade que afinal não tinha nada de real.

E sei que o pouco de irritação que ainda sinto quando penso que uma pessoa de quem tanto gostei se revela, afinal de contas, uma decepção a todos os níveis, é uma irritação que vai passar quando se instalar de vez esta tão aguardada indiferença total em relação ao que se passou.
Sei que há bocadinhos de irritação que já só passam quando aparecer outra pessoa que ocupe esse espaço dentro de mim.
Mas sei que a maior parte, fí-la sozinha.
E isso, era o melhor que me podia acontecer.

17.4.08

the day after

Ok, vocês conhecem-me. Quem não conhece, tem vindo a conhecer nem que seja através do meu polemicamente aborrecido blog.
E a verdade é que eu até nem sou a pessoa com pior feitio de sempre. A sério! Nem sou!
Eu sei que tenho mau feitio, daqueles que são chatos e até relativamente engraçados para quem me rodeia, desde que não seja o causador directo, porque me transformo numa criança mimada.
Mas a verdade é que essas minhas crises de mau feitio são muito raras hoje em dia.
A verdade é que sou assim esta pessoa calma, sempre em paz com tudo e com todos, que leva, leva e leva na cabeça e continua a dar, dar e dar sempre o mesmo, ou mais ainda.
Resumidamente, sou estúpida.
Mas quando, do nada, tenho uma crise de mau feitio. E atenção, normalmente estas crises são pura e simplesmente resultado de milhões de coisas parvas que me enchem a cabeça e me põem fora de mim, dá-me um ataque de sinceridade absoluto em relação a tudo e a todos.
Não que eu seja mentirosa. Não sou. Não digo mentiras sérias vai fazer este ano 8 anos.
Mas lá que sou uma pessoa contida no que toca a dizer coisas que possam magoar, um bocadinho que seja, que me ouve/lê... isso sou. E sou-o de propósito, gosto de ser assim e vou continuar a ser assim.
Por isso penso que é sempre bom quando chegam estas crises, porque há sempre qualquer coisa que salta cá para fora que não devia e que consigo sempre dizer no dia seguinte: "Olha não ligues, estava com o pior feitio de sempre!".
E vinha eu para casa, ensopada por ter deixado o carro no fim do mundo durante o exame, e essa foi uma das muitas razões para hoje ter ficado fora de mim, quando pensei: olha boa, vou-me sentar em casa e escrever no meu tão abandonado blog qualquer coisa que me apeteça imenso dizer.
Logo aí, deparei-me com dois problemas. Primeiro, não tenho nada que me apeteça imenso dizer. Segundo, não me apetece ir para casa.
E isto do não querer vir para casa está a ficar problemático.
Ao que parece, a Ritinha muito certinha, muito defensora dos valores de família, que adora o pai, a mãe, os manos, os sobrinhos e as mães dos sobrinhos, essa mesma Ritinha que defende convictamente a educação algo antiquada que recebeu e que acha, se bem que cada vez menos, que a vai dar aos filhos, está farta, mas mesmo farta, de casa.
E então transforma-se da pessoa faladora, comunicativa, até algo histérica ou infantil se estiver bem embalada, que consegue ser no trabalho, nas aulas, com os amigos ou com quem quer que a ature, na miúda calada, ou muda para ser mais precisa, que entra em casa com umas trombas do tamanho do mundo por ter que viver, dia após dia, a rotina desgraçada que é tão obrigatória nesta casa.
Gostava de conseguir explicar o quão maravilhoso seria para mim, pura e simplesmente, chegar a casa. Ponto final. Cheguei. A casa. E pronto.
Mas não. Cheguei a casa, vamos lá para a cozinha ajudar a acabar o jantar enquanto que conversamos animadamente sobre o dia, a família, as novidades do trabalho. Vai por a mesa? Vou. Adoro a pergunta. Adorava responder: NÃO, estou farta de por a mesa! Traz os pratos de sopa? Não! Estou farta desta sopa feita com mil batatas para cada cenoura! Vamos para a mesa? NÃO! Estou farta de estar sentada com as mesmas duas pessoas que não têm nada para me contar, quando tenho mil coisas para fazer que, para mim, são tão mais importantes. Entre elas encontra-se, sobretudo, aproveitar as poucas horas por dia em que tenho direito a não fazer absolutamente anda.
Mas pronto, como a casa não é a minha e as regras já cá estavam quando eu cheguei, eu obedeço.
Ponho a mesa.
Vou buscar os pratos de sopa.
Comemos.
Conversam.
Eu oiço.
Não tenho nada para dizer. Não tenho vontade de contar nada. Não conto nada! Amanhã janta? Não. Então? Tenho um jantar. E no fim-de-semana? Tenho programa. O que vai fazer? Não estou em casa.
Esta é a animação da minha noite. E quanto menos falo, mais perguntas destas oiço. E deixam-me fora de mim porque odeio que me arranquem palavras a saca-rolhas. Se eu quisesse contar, eu contava! Eu nem quero estar aqui sentada, quero estar no sofá sozinha a ver o que me apetecer, enquanto mando mensagens e tenho o computador ao colo!
E portanto estava eu a chegar a casa depois de um belo exame quando penso: não consigo. Hoje, não consigo. Já estive de mau humor, já me passou, já está tudo bem. Mas não consigo. Não posso. Ainda são 8h30, ainda não jantaram e eu pura e simplesmente recuso-me a subir aquelas escadas.
Não subi.
Fui dar uma volta.
Jantar fora.
Nem interessa onde.
Mas isto é mau, muito mau! É mau porque não estou bem no sítio onde devia estar melhor no mundo inteiro, que é a minha própria casa.
Mas pronto, eventualmente lá vim para casa, como é óbvio, porque ainda não faz muito o meu género dormir debaixo da ponte e não tenho dinheiro para mandar cantar um cego, quanto mais ir viver para outro sítio.
E vindo para casa, cá vim eu parar ao meu blog para escrever algo que tivesse imensa vontade de escrever. Ora, para dizer a verdade, não era nada disto que escrevi até agora que eu tinha vontade de escrever!
O que eu tinha pensado escrever, e que tenho imensa necessidade de o fazer, é que a razão pela qual não tenho escrito nada no meu blog é porque não tenho aguentado os day-after-emails.
E por day-after-emails não me refiro a mails com algum conteúdo matinal, que tanto adoro, e que referem "olha li o teu blog e claro que se precisares de alguma coisa eu estou cá", ou "li o teu blog, estás mesmo gira naquelas fotografias, mas porquê fotografias só do corpo?".
Pronto, esses eu não me importo. Tudo bem, é óbvio que eu adoro os comentários, aqui ou por mail, ou por mensagem ou pessoalmente.
O que eu não estou a aguentar são os conselhos.
Estão a condicionar toda a minha veia criativa para evitar escrever coisas que façam com que as alminhas tão minhas amigas decidam que o facto de eu desabafar é porque preciso que me digam o que fazer.
Não é. Nunca foi.
Quando preciso de ajuda, peço directamente.
Agora, os mails na ordem do:
- "Não sei até que ponto é positivo escreveres as coisas assim"
- "Li o teu blog e acho que tens que andar em frente, esse gajo é o maior deficiente mental e não te merece"
- "Estive a ler o teu blog e não concordei, acho que foste injusta quando disseste aquilo."
- "Olha acho que na verdade o que devias fazer era blá blá blá blá".

Não conheço nenhuma maneira simpática de dizer que isto não é um fórum, muito menos uma democracia. E portanto, como sei que as intenções são sempre as melhores e me estou a arriscar a nunca mais ter nenhum comentário no meu blog, sinto-me na obriação de dizer que, apesar de vos adorar, hoje estou de mau humor e tenho direito a dizer estas coisas da boca para fora.

Até porque, e tenho necessidade de deixar isto bem claro, o facto de eu escrever uma coisa muito feliz, ou muito triste, no meu blog, não significa que a sinta no dia seguinte. Ou no minuto seguinte.
Acho que a descrição melhor que ouvi sobre esta situação foi: "Não se pode levar a mal o que a Rita escreve. O que ela escreve é como ela pensa e nós estamos a ler o que está dentro da cabeça dela. Quando não se gosta, não se lê! Se se lê, já se sabe que é com aquilo que se pode contar".
Era algo deste género, não era? Isto já é para suavizar o facto de ires ficar chateada com a parte dos conselhos, estou-me já a desculpar...
E portanto, deixando este ponto assente e tendo a certeza de que não despoletei os mais terríveis ódios em ninguém, aproximam-se dias interessantes por estas bandas porque ando com certas teorias em desenvolvimento na minha cabeça que tenho vontade de partilhar.

rit curl

(Ri nos anos da Filipa. Praia de S. Pedro. 26/06/2006)
Quem diz que os meus caracóis não são giros?

Estou ansiosa pelo Verão, pelo sol, pelo bom tempo.

Ansiosa por ir dar uns mergulhos valentes e nadar horas debaixo de água de olhos abertos e a deitar bolhinhas pelo nariz.

Ansiosa!

Nunca mais é Verão.

11.4.08

not the same

- A Rita está diferente. – Diz-me a minha Directora de Marketing, assim do nada, apanhando-me em mais um momento de profunda contemplação para lado nenhum.
- Está tudo bem, estou só cansada. – Que voz tão falsa, nem a mim própria me engano, mas é a única resposta plausível!
- Sim, mas não é a mesma Rita de há duas semanas atrás. Alguma coisa mudou. Fala uma pessoa que sente que já a conhece um bocadinho.

Fico feliz por haver pessoas que me conhecem, um bocadinho que seja. E radiante por este ambiente de intimidade que tenho criado dentro deste meu escritório de mesa redonda, em que as três não temos outra hipótese senão enfrentarmo-nos umas às outras, dia após dia.
E em pouco mais de três meses, aparentemente, conseguem ler mais no meu olhar do que pessoas que me conhecem há, se calhar, tão mais tempo e que estão comigo e falam comigo sem repararem que há alguma coisa, um bocadinho que seja, que está mais vazia no meu olhar.

Mas depois a pergunta impõe-se, e precisa, como é óbvio, de uma resposta.
O que é que se passa?
Sinto-me especialmente cansada hoje. Ainda ligeiramente de ressaca, com trabalho para fazer mas sem cabeça para o fazer da forma que queria e com assuntos a mais a pairar na cabeça.
Acho que o problema é esse. Os pequenos dramas que nascem dentro da minha cabeça como cogumelos e que, por muito que eu os tente ignorar, acabam por ser incómodos pequeninos que, todos acumulados uns em cima dos outros, não me deixam descansar.
E eu sinto-me cansada, juro que sinto.

Queria-me sentar a conversar com alguém, queria contar tudo e deitar tudo cá para fora. Queria que a pessoa que me ouvisse simplesmente dissesse que sim, que concorda com tudo, que eu tenho toda a razão. Queria que me fizessem uma festinha, um toque que fosse para eu finalmente desatar a chorar tudo o que tenho acumulado atrás dos meus olhos e que está à beira de se transformar numa catarata imparável.

Mas não. As conversas, se não impossíveis, são inúteis. A primeira reacção das pessoas é apontarem logo tudo o que eu tenho feito de errado, fazerem-me reconhecer que todas as consequências advêm directamente dos meus próprios actos e que, no fundo, sempre me tinham avisado. Isto em relação ao que quer que seja. Basicamente, no que quer que eu diga, contradizer-me parece ser a primeira opção de quem me ouve.

E isso é bom, juro que é. Na maioria das vezes é óptimo. E na maioria das vezes eu até prefiro ouvir antes os outros, os seus dramas e as suas histórias. Adoro dar os meus conselhos e até acho que eles são quase sempre bem recebidos, falo sempre com um ar muito sabido.

Mas desta vez não. Só queria desabafar.
Só queria começar a falar e não parar até deitar tudo cá para fora. Mesmo coisas que nem sei que preciso de deitar cá para fora, que faço tanta força para não me lembrar.
Tudo. Queria conseguir dizer tudo o que quisesse sem ter que pensar no que a pessoa que as ouve iria pensar de mim.

Mas agora é impossível e, por muito que me esforce, essa é uma realidade à qual me vai ser sempre difícil adaptar-me.

9.4.08

tonight is the night







Peguei numa tesoura e cortei a franja sozinha. Foi a primeira vez e era uma coisa que queria fazer há anos. Tinha sempre medo. Ficou gira.

Comprei um anel. Comprado por mim, só para mim. Pedi para embrulharem e tudo, era um presente. O primeiro anel que uso depois de ter passado dois anos e meio sempre com o mesmo anel. De vez em quando tinha comichões no dedo, fazia-me falta qualquer coisa. Não era o anel que está fechado na sua caixinha, dentro da caixa cor-de-rosa de recordações em cima do meu armário. Era só um anel. E agora já o tenho.

Peguei em rolos e pus no cabelo. Nunca me tinha passado tal coisa pela cabeça. Nem por 10.000€ teria saído de casa naquela figura. Só ficaram meia-hora porque me fartei.
Tenho uma pessoa que acho que está apaixonada por mim e não sei como reagir. Não fiz click. Isto dos click's tem-me dado que pensar. Acho que tenho o interruptor avariado. Não sei gerir esta situação, sou simpática de mais, não tenho espaço na minha cabeça para viver isto neste momento.

7.4.08

such a fool

Há coisas que realmente nos fazem acordar, olhar à nossa volta e ver tudo com outros olhos. Como se até então houvesse uma nuvem à minha frente que me impedisse de ver tudo com clareza.
E impedia, tenho a certeza que sim. Daí eu nem escrever nada aqui. Não tinha nada para escrever porque não conseguia saber nada ao certo. E isso é estranho, quando estamos a falar de nós próprios.
Estava baralhada, confusa, confundida e todos os outros sinónimos que se possam aplicar neste caso.
Estava a evitar abrir os olhos tanto quanto costumo tê-los abertos e estava-me a deixar emaranhar numa teia criada por mim própria, feita de ilusões que nunca tiveram outra origem que não a minha própria cabeça.
Porque a realidade sempre tinha sido nua e fria desde o início. Não és nada. Isto não é nada. Isto não existe. Eram as regras e eu sabia-as. Não as quebrei, juro que não. Nada passou de nada e olhando para trás tudo o que já acabou foi um grande nada e tudo o que fica, e espero que continue a ficar, é tudo o que interessa que fique.
Fico uma ex-nada.
Mas uma ex-nada algo humilhada, claro está. Não vou fingir que não tenho orgulho. Não vou fingir que não sou miúda e que as miúdas, inevitavelmente, se envolvem sempre mais do que se esperam envolver, mesmo que não digam nada a ninguém.
E na minha cabeça este nada, que tinha começado não se sabe quando, porque nunca foi contabilizado, por não passar de coisa nenhuma, já tinha acabado centenas de vezes. Provavelmente todos os dias ou, no máximo dos máximos, de 5 em 5 dias. Criava tudo sozinha, os fins, os afinal-não, os nunca-se-sabe, os espero-para-ver.
Agora criei um fim, outra vez sozinha. Mas também pode sempre ser que não o seja. Mas como agora o meu orgulho está a voltar, eu acho que já é um fim mais certo. Mas nunca se sabe, talvez não, esperamos para ver?
E a pergunta regressa, como sempre: "acabou tutti?"
E na minha cabeça aparecem dois quadradinhos, um boletim de voto dobrado e já riscado com centenas de outras coisas. Faz lembrar aqueles papelinhos de quando éramos pequeninos e se perguntava: "queres andar comigo?". Claro que eu nunca recebi papelinhos desses.
Mas e onde é que eu risco? Até agora paro para pensar! Porque sou miúda, lá está, e porque sou querida e porque odeio ver as consequências directas das minhas acções e pensar imediatamente no que seria se estivesse riscado o outro quadradinho, custa-me fazer a cruz no Sim. Acho que não sou a única a quem custa fazer essa cruzinha.
Mas depois também paro para pensar, já de forma mais fria e racional, e penso: mas acabou o quê? Nada!
Se me estou a perguntar a mim própria se acabou o que existe na realidade, no dia-a-dia, que até é algo sustentável porque não passa disto que é: duas pessoas que se dão lindamente e que inevitavelmente falam bastante. Então não, claro que não acabou!
Agora que acabou qualquer coisa dentro da minha cabeça que nem existia, lá isso teve que ser. Porque chega sempre o dia, e antes agora que mais tarde, em que levamos com um balde de água fria tão grande que abrimos os olhos e vemos o castelo estúpido que tínhamos construido, sem o sabermos, feito de cartas a boiar sobre claras em castelo que, por sua vez, boiam em cima de água gelada. Gelada!
E o castelo nem era assim tão complexo. Nem exigia assim tanta coisa. Longe de mim! Se calhar era só feito de expectativas que eu não tinha o direito de ter porque, na verdade, ninguém me manda esperar dos outros a mais mínima das coisas. Sobretudo quando fazia parte das regras: não esperar nada.
Mas depois do nada abro os olhos e vejo os sinais todos à minha volta. Ui! Este "nada" que aconteceu desvalorizou-me totalmente como pessoa, porque uma miúda "certinha" não tem coisas deste género. Portanto agora passei da categoria das miúdas que tiveram 2 namorados seguidos de quase 3 anos para a categoria... das outras. Tão bom.


(Tenho que parar para comentar, pela milésima vez, a incapacidade que as pessoas em geral, e os meus pais em específico, têm de virem dizer o que quer que seja e de não olharem para o computador da outra pessoa. Parece impossível!)

Continuando. Se me derem, se me desses, a escolher entre continuar o "nada" ou ficar com o que temos agora. Respondo de olhos fechados: que se lixe o "nada"! Não era nada, pois não?
Mas como essa pergunta nunca irá surgir porque este nada, de tão nada que foi, nunca foi falado senão para estabelecer as regras suficientes para deixar explícito que se eu algum dia me lixasse, a culpa era toda a minha, então tenho que ser eu a criar os diálogos, as questões, os dilemas, tudo sozinha.
Não que isso não me enerve. Não que não me irrite as pessoas fazerem-se de parvas e tomarem-me por parva quando no fundo posso ser rechonchuda, algo tonta, porreira de mais, mas nunca parva! Jamais! (ler o "jamais" com sotaque em francês).
E depois chego ao limite absolutamente estúpido de escrever um texto num blog. Mas tinha que escrever qualquer coisa porque senão ainda me matavam e neste momento, em que devia estar a estudar, não me ocorre mais nada sobre o qual escrever.
Enfim, such a fool.
Já passou.
Uma noite terrível, um dia mau, e do nada, era só isso.

3.4.08

No news

Desculpem não ter escrito nada, não dar notícias...
Mas a verdade é que não tenho nada para contar.
Nada.

Não que isso seja mau, não que seja uma coisa triste. Porque não é. Está tudo bem.
Mas pensar em coisas que me apeteça escrever mas que ao mesmo tempo possam ser lidas por toda gente que as iria ler, seria difícil.
Porque ando a mudar de ideias todos os dias em relação a quase tudo, o que é bom porque não tenho monotonia nenhuma na minha vida, mas que já sei que se o escrever depois me arrependo.

Portanto não consigo prever quando escreverei o próximo texto comprido, profundo e muito sentimental...