25.3.09

abismo

Estou desocupada. A primeira pausa em dias!
Ainda assim, tento não respirar muito fundo. No momento em que o fizer, vai-me cair em cima tudo o que vem atrás de mim, a perseguir-me como uma sombra. Um muro de telefonemas por responder, mails até por ler, pessoas à espera. Um muro de mães e pais que mal me vêm, amigos com quem estou em falta.
E com isso ainda não podia aguentar. Hoje ainda não. Ainda não passou esta fase! A calma é só temporária, é só um bonança antes da tempestade.
Amanhã começa tudo do zero e eu aí é que vamos ver de que estofo sou realmente feita… Se estas insónias todas as noites e as dores de estômago incontroláveis todas as manhãs estiverem para ficar, então está feito, não sou feita do material que é necessário para dar este pulo que querem que dê. Mas tenho esperança que passe, que corra tudo bem. No fundo, segundo me dizem, não há razões para que não corra.
Mas ainda assim não consigo deixar de sentir que há uma estranha sensação de confiança nas minhas capacidades, sentida por toda a gente que me rodeia! Confiança essa que é não só gigante em comparação com a minha confiança em mim própria como também altamente desproporcional em relação às razões que eu realmente dei para que fosse sentida essa confiança em mim.
Às vezes acho que é para despachar. Ah tu és fantástica, assim é que é, vai correr tudo bem. Com isso posso eu bem, também sou muito boa a soltar frases por obrigação. Outras vezes já me assusta mais. Pessoas com ar sério a dizer que acreditam totalmente em mim, que sempre viram que eu tinha asas para voar, que estavam à espera que isto acontecesse a qualquer momento.
Estavam???
Então porque é que eu não estava?
Onde é que isso estava escrito, para ser tão evidente? Se eu soubesse, não tinha achado que me iam despedir, quando ia a caminho do gabinete do director geral, com um andar lento e pesado como quem se dirige para a guilhotina!
Mas enfim, o que interessa é que vem aí uma fase nova.
De uma maneira estranha, acabou por dar uma volta bem grande à minha vida. As prioridades andavam meias difusas e agora, de um segundo para o outro, não há sequer lugar para confusões. Ou estás aqui a 100% Maria Rita, ou estás fora rapidamente!
E na verdade, isso incomoda-me bem menos do que seria de esperar. Não que eu não soubesse que gostava de passar por isto, sempre soube. Sempre quis ter “aquele” trabalho que exigisse de mim uma dedicação total e a verdade é que nunca me tinha sido dado essa oportunidade… exigem sempre de mim um bocadinho menos do que aquilo que eu sou capaz de dar, e isso desmotiva-me e muitas vezes até me prejudica!
Desta vez não há margem para dúvidas… Isto passa à frente do resto da minha vida. É só uma fase, provavelmente. Mas noutra fase, quando eu olhar para trás e me lembrar desta, provavelmente vou saber que seria sempre esta a minha forma natural de reagir neste momento!
Claro que dava jeito, possivelmente, não estar tão perdidamente apaixonada. Tornava mais fácil decidir “Olha agora só me interessa o trabalho e mais nada, mais nada, mais nada.” Mas provavelmente também não tornava esta fase da minha vida uma fase tão completa e tão feliz… a verdade é que se fosse tudo fácil, perdia a piada.
E assim tenho entrado neste momento de gestão de prioridades em que as principais vão sendo geridas dia após dia, com passinhos de bebé e a equilibrar tudo para não deixar nada cair, mas com esta nuvem que me persegue e me diz constantemente que não estou a ser suficientemente boa. Porque se o fosse, conseguia ainda lembrar-me de retribuir todos os telefonemas que recebo ao longo do dia e sei que não posso atender, dar novidades a quem as espera e ainda estar com pessoas com quem não estou… sei lá eu há quanto tempo!
Enfim… Voltei aqui só para dar sinais de vida no meio desta cambalhota na qual estou enrolada.
Não consigo dormir, acordo com dores que às vezes fazem com que não me consiga levantar. Mas no fundo, não estou nervosa, nem stressada. Só quero viver esta fase ao máximo. Sentir a mudança à minha volta, deixar-me levar por ela, ver onde vou parar.
Posso não dormir, posso não acordar bem. Mas quando saio de casa de manhã, no meu carro novo ao longo da marginal, vou de sorriso na cara. E quando volto ao fim do dia, ou à noite, ou mesmo às 2h da manhã como é costume porque a vontade de namorar é mais forte que o cansaço, continuo de sorriso na cara.
Sinto-me à beira de um abismo, do fim de tudo o que ficou para trás até agora, mas sem medo nenhum de saltar. Venha o que vier! O que for importante, quem for importante, eu sei que vem comigo à mesma.