19.6.09

imperiais ao fim do dia

É engraçado como às vezes é tão fácil desabafarmos com aqueles amigos com quem não estamos, ou falamos, todos os dias.
É quase uma injustiça para quem gosta tanto de mim e me acompanha diariamente, sempre disposto a fazer de tudo para que o meu dia corra bem.
Mas a verdade é que mesmo os amigos de fora, e sim, existem amigos de fora e que não deixam de ser amigos por não fazerem parte do círculo mais próximo, conseguem sempre ter uma visão mais imparcial das coisas. E nem é tanto imparcial por não tomarem partidos, é mais pelo facto de não estarem tanto dentro da situação que os seus conselhos acabam sempre por ser genéricos para situações semelhantes e não uma análise aprofundada do meu estado de espírito, que é coisa que nem sempre me apetece.
E portanto uma imperial ao final do dia com bons amigos que pouco aparecem, ou aos quais pouco apareço, transforma-se sem esforço num desabafo inesperado, com direito a olhos húmidos e tudo, que entre golos de cerveja numa tarde de calor tórrido no meio das avenidas cosmopolitas de Lisboa, me alivia tão mais do que eu algum dia poderia ter pensado.
Esquece-se a dor alucinante no pé, esquece-se o aperto desconfortável na barriga que me tem vindo a seguir e contra o qual não estou a conseguir por uma “restraining order” e rapidamente viaja-se no tempo para uma época tão recente como há um ano atrás mas tão remota como outra realidade, porque agora é tudo tão diferente. Fala-se do passado como quem fala dos tremoços que estão à nossa frente e a simplicidade com que a conversa flui deixa-nos sempre a matutar porque será que não estamos todos juntos mais vezes.

18.6.09

sei lá!

“Não sei porquê, não ando nada bem”.
Numa conversa de messenger, vá-se lá ver, sai-me esta frase. Ao menos digo-a à pessoa indicada, a única pessoa com quem converso no messenger no trabalho, um hábito que me ficou dos tempos de ócio do emprego anterior ao anterior e que ainda hoje me faz regularmente por a rodar os bonequinhos azul e verde à volta um do outro para ir mandar um “oi” diário de boa tarde.
Mas pessoa indicada só mesmo por isso porque, de resto, não há pessoa indicada no mundo, ou na minha vida, a quem largar uma bomba assim.
Para mim, que estou sempre bem e que sou normalmente quem consola tudo o que me rodeia, dizer uma pequena frase como esta, inesperadamente e a meio de discussões sobre miradouros e arraiais no Largo do Carmo amanhã à noite, é o mesmo que despejar a pior notícia possível e imaginária.
E agora vem a parte do “não andas bem porquê?????” e eu bloqueio. Sei lá! É isto que me enerva, por isso é que não há pessoa indicada para eu largar uma bomba assim. Toda a gente me faria inevitavelmente esta pergunta e eu, também inevitavelmente, nunca responderia.
Sei lá eu… Só sei que não ando.
Alguma coisa está mal, não sei bem o quê.
Daí que não tenho escrito.
Uma pessoa começa a pensar que não está bem quando vai jantar com as amigas e elas todas dizem “tu não andas nada bem…”. E, sem querer, fica-se a pensar naquilo. Pois não, não ando, como é que elas sabem? Nem estão comigo diariamente, aparecem para tomar um café depois de jantar e em 10 minutos tiram esta conclusão? Ou são perspicazes de mais ou ando rodeada de cegos no meu dia-a-dia que não conseguem ver isso.
Mas depois, pensando um bocadinho mais, óbvio que já não estava bem antes disso, elas podem ser perspicazes mas, que eu saiba, ainda não têm o poder de me induzir estados de espírito com a simples força da palavra.
Enfim, só não estou.
Estou lenta, pensativa, com manias. A tentar não pensar de mais e a pensar de mais nas tentativas constantes que faço para não pensar de todo.
Como se tivesse medo das conclusões a que chegaria se realmente parasse para pensar. E aí é que está. Esse é o busílis.
Por isso não me perguntem o que tenho... porque isso faria com que eu realmente tivesse que arranjar uma resposta e, para isso, teria que a encontrar. E não sei se estaria preparada!
Só não estou bem.
Mas acho, mesmo, e quero mesmo, que já passe.