24.9.07

Ainda a propósito...

Ainda a propósito dos tais meninos feitos de chocolate... aqui estão eles.
Atenção, está é uma foto censurada porque, de facto, na verdadeira fotografia vê-se o pipi da menina de chocolate porque ela estava sentada no penico quando o menino de chocolate lhe veio dar um beijinho só para ver se lhe arrancava aquela bela bolinha das mãos.
Mas não a levou... que eu lembro-me muito bem.

20.9.07

I'm still waiting in line




Nao que eu adore a Natasha, nao adoro, muito pelo contrario ela irrita-me um bocado e acho que tem cara de cavalo.
No entanto, e talvez por ser um bocado aficcionada em The Hills, adoro esta musica, pronto.
O blog esta em grande, hein? Ja nao ha razao para queixas!

(Sorry pela falta de acentos mas e do site).

Era uma vez ...os 4

Porque nem todas as aventuras são a 5 e nem todas imaginadas pela Enid Blyton ou pela Isabel Alçada. Há aventuras que são a 4 e que são tão maravilhosas quanto as que líamos em crianças. Melhores ainda, porque foram verdade.
Se calhar podia escrever um livro sobre elas, ou tantos livros quantos são os livros de Uma Aventura. Já nem sei quantos são, que lhes perdi a conta e o interesse perto do 50, mas as aventuras destes 4 foram com certeza muitas mais.
Talvez não tenham tido bandidos nem pistolas, raptos nem ameaças, mas tiveram a parte boa que nos fazia querer voar para dentro dos livros, e que me fazem a mim, tantas vezes, querer voltar atrás no tempo.

Eles eram 4. Três amigos e um cão. Juntos passaram momentos únicos, que mais ninguém testemunhava porque ninguém acordava tão cedo quanto eles, ninguém nadava tão longe, ninguém subia tão alto.
Eram eles um avô, dois netos e um cão. Numa família de gente, já de si, morena, eles eram os 3 quase negros como carvão. Os dois netos, e melhores amigos, pareciam dois pretinhos de caracóis no ar, com a pele escura do sol e do pó que se agarrava no meio de tantas aventuras.
Chamavam-lhes meninos de chocolate, mas mais a ele que a ela, que o Tico-Tico sempre foi mais moreno.

O palco das suas aventuras era, sem sombra de dúvidas, a Arrábida. Era aí que se encontravam, Verão ou Inverno, fizesse chuva ou fizesse Sol, fossem 4 semanas de férias ou fossem pequenos fins-de-semana alternados.
Eram tantas as madrugadas em que o avô os acordava para irem até à praia ver o Sol nascer no mar... Custava-lhes sempre sair da cama, diziam sempre que não queriam, mas acabava sempre por compensar...
O Cognaque a correr pela areia e nós os 3 a ver a sorte que tínhamos por termos uma casa no paraíso, por termos um sítio onde as aventuras eram ifinitas e, sobretudo, por ainda serem 7h da manhã e o dia ainda mal ter começado!

Fosse nadar até tão longe, fosse construir castelos na areia, fosse subir a serra a pé, até ao convento, para depois descer de rabo e chegar a casa uma bolinha de lama. Fosse ir a Alportuche apanhar pedras para os canteiros da avó, fosse abrir caminhos pelo meio das árvores que a Natureza teimava em fechar.
Nada os parava, nada nos parava. Eramos incansáveis.

Dos 4, já só resta um, só ela.
Uns partiram quando já estava na hora e outro muito, muito antes de ser suposto, mas hão de estar sempre juntos, e a Arrábida vai estar cá para testemunhar.
O dia 20 de Setembro era o dia de anos do Cognaque, mas também o da Rita. E ainda bem que era o dia de anos do Cognaque, senão nunca ninguém se ia lembrar dos anos dela, pelo menos é o que dizem, ainda hoje. E eu não me importo, sempre soube que era a brincar.

Neste dia voltam sempre as saudades das trocas entres ossos e presentes de anos. Voltam também saudades das aventuras a 4, sempre com um misto de pena de não termos aproveitado tudo tanto quanto deviamos e com uma pitada de raiva e dor por nos levarem pessoas que ainda deviam cá estar.

Ainda assim, parabéns Cognaque, que faria hoje 23 anos!

19.9.07

Chega de fingir

Estou farta de fingir. Não sei sequer porque é que tenho tido esta atitude nos últimos tempos, se é uma defesa para aguentar os dias que passam, se é consequência de ter passado tanto tempo com uma pessoa que competia comigo em todos os aspectos da minha vida e me fez não mostrar o que sentia em tantas coisas, para não sentir que estava sempre a perder.

Mas agora não tenho competições na minha vida e neste momento preciso de desabafar, nem que seja só por hoje. Preciso de dizer que chega, que basta de fingir que estou feliz no meu trabalho. Porque não estou. Odeio isto. Odeio.

Odeio tudo aqui. Não odeio tanto o trabalho que tenho, que até é tolerável, mas odeio a forma das pessoas aqui trabalharem. Odeio estar rodeada de gente obsoleta e envelhecida que se recusa a evoluir, que tem técnicas erradas e que vão contra tudo o que eu estudei.
Odeio as conversas, já odeio até os passos, as vozes, os toques do telemóvel. Meu Deus! Os toques do telemóvel! Os telefones que não param e as conversas que são fúteis, vazias e desnecessárias.

Amanhã é o meu dia de anos e eu estou tão agradecida por tudo o que tenho, estou tão feliz por fazer anos, por estar rodeada de bons amigos que me fazem sentir lindamente. Mas tenho mesmo que dizer uma frase que me tem vindo à cabeça cada vez mais frequentemente:
No meu dia-a-dia, no meu trabalho, no sítio onde passo mais tempo acordada do meu dia, eu estou profundamente infeliz. Sou profundamente infeliz aqui sentada nesta cadeira encarnada, nesta sala linda de morrer decorada à minha medida, que eu trocava num abrir e fechar de olhos por um open space partilhado com 50 pessoas, desde que o meu trabalho me motivasse.

Não consigo fingir mais que tudo corre bem.
Tento-me concentrar diariamente nas partes boas, nos meus almoços ao sol, na proximidade de casa, de amigas com quem posso almoçar, do restaurante do meu pai, mas não dá. Todos estes pormenores são apenas suficientes para me darem força para me levantar da cama todas as manhãs e vir para aqui, automaticamente, mas não são suficientes para me fazerem feliz. E eu até achava que tinha o direito de ser feliz!

A minha mãe mudou agora de emprego e é impressionante ver uma pessoa de 52 anos a ir para um emprego em condições absolutamente inesperadas e ainda por cima fazer uma coisa que ela adora, com pessoas de quem gosta e com um ambiente que, finalmente, vai ser maravilhoso. E porquê?
Porque é óptima, claro, mas sobretudo porque teve oportunidade de mostrar que era óptima.
Se calhar eu até sou óptima, não sei, mas eu nem tenho oportunidade de o mostrar a ninguém!
Porque é que ninguém quer sequer tentar ver se eu até tenho jeito para alguma coisa?
Pior ainda, porque é que ninguém, sequer, me diz que NÃO quer sequer ver se eu sirvo para alguma coisa?

Já não me interessa quem é que lê o meu blog, se amanhã chego cá e se todos, por coincidência, até vieram cá ver o que eu escrevi. Nem quero pensar em chegar aqui amanhã.
O que me interessa é que vou fazer anos e que, quando penso no meu trabalho, me sinto a pessoa mais infeliz do mundo inteiro. Apetecia-me levantar agora da cadeira, chegar ali ao gabinete do lado e dizer mesmo: "Sabe uma coisa? Sou completamente infeliz aqui."
Tenho isto entalado na garganta, mas vou-me controlar porque não é assim que as coisas funcionam e, sinceramente, não sei se será muito grande o interesse das pessoas que aqui estão em saber da minha felicidade ou da minha infelicidade.

Vou continuar a concentrar-me nas partes boas da minha vida, a minha família espectacular, as minhas amigas de sonho, os meus anos amanhã, a minha festa na 6ª, o meu dia de anos surpresa no Sábado, o meu globo que estou ansiosa por receber, a minha viagem a Macau, a minha PG já a começar na 2ª...

E da próxima vez que me perguntarem o que é que eu estou a fazer, vou continuar a responder, com um sorriso na cara: "Trabalho numa agência de marketing! Gosto imenso!". Porque é assim que eu sou, porque se deixar de ser assim, deixo de ter força para aguentar o meu dia-a-dia.
Posso apenas rezar e esperar para que não seja assim durante muito mais tempo.

18.9.07

With or without?

Esqueci-me de dizer que, quando disse à minha avó que queria um globo, a única reacção que ela teve, como pessoa absolutamente perfeita que é, foi: "Claro querida. E quer com ou sem luz por dentro?"
- "Sem luz, obrigada, avó!"

17.9.07

Um mundo de presentes



No Sábado, durante um simpático jantar com os meus pais e a minha avó, esta última decide perguntar-me: o que é que a minha netinha quer de presente de anos?
Provavelmente, a pergunta nem foi bem esta mas, passados 2 dias, é assim que a recordo. Mas até podia ter sido, que a minha avó é amorosa e fala mesmo assim.

E esta pergunta, para aqueles que me conhecem minimamente, não é uma pergunta que eu goste de ouvir. Não, claro que não. E porquê? Não gosto de saber o que vou receber, não gosto que me perguntem, não gosto de responder. Aliás, não respondo.
Não vale a pena a insistência, gosto de surpresas.

Gosto de uma coisa embrulhada e de não saber o que vem lá dentro, gosto de saber que tenho um programa Sábado pelas 16h30 e que não faço a menor ideia onde a Filipa me vai levar.
Não acho que seja pedir o fim do mundo, é isso que faço quando os outros fazem anos! Ou já alguém me ouviu perguntar o que é que queria receber de presente? É que, se ainda por cima ouviu, era com certeza a gozar porque eu nunca daria nada que me tivessem pedido.

Não há nada a fazer, sou assim com presentes. Tenho horror à ideia de dar/receber dinheiro e tenho horror a presentes que sejam coisas que eu precise imenso. Coisas que eu preciso imenso, eu compro-as quando preciso, não espero pelos anos ou pelo Natal.
Irrita-me sobretudo haver uma coisa que eu precise imenso e que a minha mãe me daria em qualquer circunstância, porque é daquelas coisas básicas que uma pessoa precisa, mas depois ela aproveita porque o Natal está a chegar e oferece-me de presente de Natal com o maior sorriso do mundo por ter acertado em cheio numa coisa que eu queria.

Fico passada.
Se fosse Outubro, dava-me normalmente num Sábado de manhã porque eu precisava mesmo disso e depois ainda recebia uma surpresa no Natal, mas como é Dezembro "mata 2 coelhos de uma só cajadada" e eu é que fico a arder.
Impossível.

Continuando, a minha adorada avózinha faz-me esta pergunta e eu, qual boneco automático que ouve a mesma pergunta várias vezes, apesar de cada vez menos vezes porque felizmente as pessoas já deixaram de me perguntar, quase que lhe respondo naquele tom que roça os limites da boa-educação: "Não quero nada obrigada avó, não se precupe!".
No entanto, algo em mim me impediu de "cuspir" esta resposta e veio ao de cima um desejo que tenho tido ultimamente que, aliado à proporação gigante de criança que ainda há em mim, me fez abrir os braços em bola, para a frente, e dizer, com o maior sorriso que devo ter feito nos últimos tempos: "Quero um globo!".

Só quem me conhece é que pode imaginar a minha cara de perfeita felicidade ao imaginar a possibilidade de ter um globo enorme para poder viajar em sonhos de dia e de noite.
De facto, tenho falado muito do globo ultimamente e tenho andado algo insuportável a saber de cor todos os Estados Unidos (já sei as capitais também!), todos os países da Europa e as suas capitais e, para mal de quem me rodeia e que acha que estou a ficar ligeiramente demente, os países de África.

Não há nada a fazer, é uma paixão que eu tenho.
Tenho descoberto ultimamente que tenho uma necessidade absoluta de aprender, de saber cada vez mais. Não tenho culpa, não é controlável.

Como se não fosse suficiente já saber a matéria toda que vou aprender no 1º bloco da Pós-Graduação, ultimamente tenho sentido que tenho que treinar a minha memória. E como adoro o mundo e todos os seus países, continentes, mares, rios, pessoas, culturas, religiões... Estou radiante por poder conhecê-lo como a palma da minha mão já que ainda não tenho hipótese de partir à sua descoberta.


Estou ansiosa pelo meu globo. Não preciso que ele seja gigante, só quero que tenha tamanho suficiente para eu conseguir ver todos os países do mundo. E tem que ser actual, fiz questão de dizer isso à minha avó. Não quero cá Jugoslávias, Rússias mil vezes maiores do que são hoje em dia nem países inexistentes.
E depois vou colar com uns autocolantes muito pequeninos que são só umas bolinhas coloridas, que eu tenho lá para casa porque antigamente a minha mãe organizava os CDs por tipos de música, quando os CDs eram novidade. Autocolantes verdes para os sítios onde eu já fui, autocolantes azuis para os sítios onde eu quero ir, autocolantes encarnados para os sítios onde estão os meus pen-friends, que provavelmente também devem ser sítios onde eu quero ir.

Nem sei onde o vou por, porque não tenho mais espaço no meu quarto para o que quer que seja, quanto mais para um globo terrestre!
Só agora é que referi que o globo seria terrestre, mas foi porque me pareceu óbvio... haverá, sequer, mais algum tipo de globo?

Moral da história: tenho falado tanto do globo que, se alguém pensava em oferecer-me um, já não é preciso que a minha avó vai-me dar. Mas obrigada à mesma e podem-me sempre dizer "por acaso até te ia oferecer!" que eu fico radiante por saber a intenção, porque era mesmo aquele presente com o qual eu me iria passar. Desde que seja verdade, claro!

12.9.07

Setembro

Adoro Setembro. Não sei se consigo explicar bem porquê.
Ah, é porque fazes anos!
Não, não é por fazer anos. Se bem que adoro fazer anos.

Setembro sempre foi, para mim, o regresso à vida, à rotina, a Lisboa.
Enche-me uma calma inexplicável que me diz que o Verão já passou mas que nem faz muito mal, porque agora até já apetece um bocadinho de Inverno.
Só um bocadinho, podia ser só um mês, mas apetece.
E é por isso que esta noite está a chover como já não chovia desde o Inverno passado e nem me incomoda. Uma tempestade linda e uns relâmpagos estrondosos que, sem assustarem, assustam sempre um bocadinho.

Talvez seja por eu adorar novos inícios. Novas oportunidades de começar sempre de novo.
Setembro sempre teve, para mim, mais peso como início de um novo ano do que a passagem de ano propriamente dita.
É em Setembro que voltamos a entrar em grande na nossa vida, é em Setembro que fazemos planos para a longa jornada que é o Inverno. Que não passa de uma série de meses em que, ao contrário do Verão, passamos mais tempo a cumprir obrigações do que a descansar.
É quase como se fossemos hibernar. Entrar nesta fase do ano que é mais automática que outra coisa qualquer. A contar os dias para todas as pequenas oportunidades de nos divertirmos um bocadinho mais que o normal. Venha o Natal, venha a Passagem de Ano, venha o Carnaval e depois, finalmente, que comece a vir o bom tempo para que possamos deitar cá para fora o nosso espírito tão português que não é o mesmo quando o sol não brilha.

Ainda assim, e mesmo sabendo que se aproxima a época mais difícil do ano, adoro Setembro.

Para já, Setembro ainda é Verão.
É em Setembro que são aqueles últimos dias de praia em que já vestimos uma camisola antes de o Sol se por. É em Setembro que os banhos quentes começam a saber melhor, logo de manhã, porque já saímos da cama com um bocadinho de frio. É em Setembro que reencontramos toda a gente que não vimos durante o Verão ou, mesmo que tenhamos visto, é em Setembro que nos voltamos a ver em Lisboa, que é sempre totalmente diferente.
Em Setembro gosta-se sempre mais de Lisboa.

E este ano não houve grandes férias em destinos longínquos e ainda assim Lisboa parece-me a cidade ideal para se estar este mês. O movimento aumenta mas ainda não há caos. Os que tiveram férias começam a chegar, uns atrás dos outros, e estranhamente tenho tantas aventuras de férias para contar como as que sempre tive nos últimos anos.
O velho cliché que dizia que o que interessa é a qualidade e não a quantidade faz agora mais sentido que nunca e posso até dizer que cheguei a ficar cansada da verdadeira montanha russa que foi a minha catadupa de fins-de-semana de férias.

Mas, claro, não posso dizer que não esteja feliz por fazer anos.
Adoro fazer anos. Adoro mesmo.
E não adoro por nenhuma razão nobre qualquer como querer partilhar este dia com aqueles que fazem com que a minha vida faça sentido, etc etc, apesar de isso ser sempre verdade.
Não. Adoro mesmo porque sou, e vou ser sempre, uma criança que adora atenção, surpresas e muitos, muitos parabéns.

E se todos os anos fico sempre num constante estado de ligeira histeria quando se aproxima o grande dia, este ano isso ainda é mais evidente. E porquê? Porque temos uma festinha!
De facto, não me dedico minimamente a uma festa de anos para mim própria desde os meus 18 anos e, antes disso, a única festa que tive que adorei foi a minha festa surpresa, quando fiz 16.

Óbvio que por festinha falo simplesmente de um pequeno jantar, mas a verdade é que estou entusiasmada e é a primeira vez que isso me acontece em imenso tempo.
Não me apetece fazer nada de formal nem nada de importante, quero simplesmente poder jantar e saber que as pessoas que estão comigo estão lá porque querem festejar comigo o meu dia de anos (ou o dia seguinte, neste caso). E não é esse o objectivo de qualquer jantar de anos?

Voltando a Setembro.
Quem me dera que este espírito de Setembro durasse mais tempo.
Esta felicidade pelo Verão que passou e esta ansiedade por tudo o que se aproxima.
Tantos projectos, tantas hipóteses.
A Pós-Graduação a começar e eu tão entusiasmada que já estudo como se tivesse exame no primeiro dia de aulas, a viagem a Macau que está à porta e eu que vou finalmente matar esta bola gigante de saudades do meu irmão e da Mary.
Acho que é sobretudo esta vontade enorme de viver todos os dias que me esperam, sempre com força para continuar a aprender à custa de tudo o que me rodeia e sempre à espera daqueles momentos especiais que fazem com que dias inteiros valham a pena. Como um banho quente na primeira manhã fria do fim do Verão.

5.9.07

Ler - Uma ligeira crítica dura e fria

Hoje passei a manhã num evento, mais um lançamento de mais uma linha de cosmética, desta vez dedicada aos homens. Como o evento era organizado por nós passo sempre por aqueles momentos constrangedores em que apesar de me apetecer ficar a olhar para a paisagem (o evento era num barco) tenho que desempenhar relativamente o papel de anfitriã e conversar sobre qualquer coisa.
Rapidamente se acaba o assunto dos barcos, das docas e de Lisboa e suas paisagens e passámos para aquele silêncio constrangedor, sentadas à mesa, em que ainda não se decidiu que assunto se vai abordar.

Eramos 4 mulheres, se já me incluirem nessa categoria, e felizmente uma delas decidiu abordar o tema dos livros.
Que ideia maravilhosa! Resulta sempre, desde que estejamos perto de adultos. Se não estivermos o mais certo é a conversa acabar passado 5 minutos.
Falámos durante horas, comentámos livros que lemos em comum, apontámos recomendações essenciais e combinámos mesmo umas trocas num futuro próximo. Foi excelente. Foi uma óptima manhã a falar sobre um tema interessante com pessoas com as quais tinha, finalmente, algo em comum. Mesmo sem as conhecer. Mesmo sabendo que o mais provável é não chegarmos mesmo a trocar livros.

Não digo que isto seja uma característica exclusiva dos adultos, até porque felizmente conheço algumas excepções da minha idade.
Mas, ainda assim, não posso deixar de sentir uma pena terrível por ver um dos melhores hábitos que existem a cair totalmente em desuso.
E porquê?
Simplesmente porque lhe puseram uma etiqueta que diz: é uma seca.
E pronto. Assim como disseram que a matemática era horrível e todos os miúdos entram no liceu logo a chumbar, sem sequer tentarem, também ler é cada vez mais visto como uma obrigação horrorosa que só é útil através de um computador ou de um telemóvel.

E isso mete imensa pena.
Não mete tanta pena quanto me mete pena o facto de as pessoas que não lêm terem pena de mim, por ler, mas ainda assim, mete pena.
E mete pena porque não percebem o que perdem. As viagens que não fazem, os universos que não descobrem. Até a imaginação que têm e que não sabem que têm, só porque não a exercitam.

E vêm filmes que duram uma hora e meia. E adoram esses filmes e dizem que os filmes os marcam imenso. Mas calma, o filme só durou uma hora e meia e foi-lhes posto à frente, já com a papinha toda feita!
Enquanto que ler um livro nos leva na mesma viagem mas muito, muito mais longe. Com muito mais pormenores. Ainda por cima, ao ler o livro, podemos escolher à vontade a cara das personagens, podemos pintar as paisagens com as nossas cores favoritas.
Acima de tudo, é uma experiência que dura. Seja 3 dias, seja 4 semanas, é uma história que acompanhamos e que, inevitavelmente, passa a acompanhar determinada época da nossa vida. Porque está presente, porque associamos ao que nos rodeia, porque lhe dedicamos momentos que não dedicamos a mais nada.

E acho que é isso que torna a leitura tão complicada aos olhos dos que não lêm. Os momentos que se "perdem", em que paramos e não fazemos mais nada.
Uma seca.

E, assim sendo, é tão raro poder conversar com alguém sobre o que lemos, sobre as pessoas que conhecemos e que adorávamos encontrar na rua, apesar de não existirem. Sobre os filmes que esperamos ardentemente que alguém se lembre de fazer porque precisamos desesperadamente de ver aquele beijo ao vivo.
É raro conseguir explicar como vivo numa aflição constante de não ter tempo para ler tudo o que quero ler.
Todos os livros novos que saiem e que acho que devem ser fantásticos, mas sem deixar para trás todos os grandes clássicos que são obrigatórios e que transformaram a maneira de pensar de milhões de pessoas.

Por onde começar?
Por romances históricos que me levam a viajar pelo passado, para épocas tão remotas que nem acredito que tenham existido? Ou por romances fantásticos onde a magia me transporta para outro universo? Ou, ainda, romances tão parecidos com a realidade que podiam acontecer aqui ao lado? Crimes, paixões, amores perdidos e voltados a encontrar... Impossível escolher.
E em que língua?
Se foi escrito em inglês, ora vamos ler em inglês... Mas e se não for? Terei coragem de começar a ler em francês, finalmente? E em espanhol, agora que descobri que me dou tão bem com a língua?

Tenho um sonho desde sempre e não, não sou doida varrida porque já imensa gente me disse que adorava que lhe acontecesse o mesmo.
Adorava estar, um dia, numa livraria qualquer, por exemplo na Fnac e de repente soava um alarme e diziam qualquer coisa do género: "Há o perigo de estarem todos infectados com um vírus (mas no fundo não estávamos, claro, só que não se sabia), e vão ter que ficar 2 semanas fechados na Fnac em quarentena."

Era o ideal. Livros e mais livros e todo o tempo do mundo para me poder afundar neles sem nada que me interrompesse.
Sem já serem 14h e ter que voltar para o trabalho. Sem os olhos se fecharem de sono, à noite. Sem ter que estudar. Sem os olhares parvos das pessoas que me dizem constantemente "és louca!".

Porque não sou, juro. Loucos são os que acham que dedicar mais do 5 minutos seguidos a uma coisa que exija o mínimo de esforço, é um desperdício de tempo.

Acabando a crítica, vou começar a falar aqui no blog dos livros que estou a ler. Quando achar que estes justifiquem tal publicidade, é claro.
Sei que quem gosta de ler vai gostar e quem sabe, talvez, ainda consiga incentivar alguma alma perdida e preguiçosa.
O Físico, de Noah Gordon.

No outro dia perguntaram-me sobre o que é que era o livro e eu disse que ainda não sabia. Foi um daqueles livros que a minha mãe me recomendou e que eu sabia que ia adorar, mas não gosto de ler a parte de trás dos livros e ainda desconhecia totalmente o conteúdo.
Só sabia que se passava em Inglaterra no sec. X e estava a achar estranho. Estranho porque normalmente tenho tópicos preferidos em dada altura e digo coisas como, por exemplo: "Mãe, queria ler qualquer coisa sobre a 2ª Guerra Mundial" e ela lá me recomenda o que acha melhor.
Era evidente que este livro não podia vir a ser sobre a 2ª Guerra Mundial, senão teria cerca 402998342 páginas para saltar 10 séculos e, por isso, estava a estranhar o início porque já li a minha quota parte de Inglaterra.

E a verdade é que o início era uma grande seca.
Só continuei a ler porque sempre que tirava o livro em alguma ocasião alguém me dizia imediatamente: "Bem! Esse livro é um espectáculo! Não estás a adorar?". E eu encolhia os ombros e continuava a ler.
E ainda bem que continuei, já me lembro relativamente do assunto que devo ter pedido para ler.
O livro passa-se na Pérsia antiga e é fascinante conhecer o mundo como ele era antes do actual Iraque, Irão e companhias.
Uma verdadeira viagem aos mundos do Sindbad, o Marinheiro que fala do esforço de um inglês que quer ser médico (físico) à força toda e que para isso se vê forçado a ir para a única escola de físicos do mundo, que é na Pérsia. Claro que, para isso, teve que renunciar à sua religião e aos seus hábitos de Cristão Europeu e fazer uma longa viagem cheia de romances e aventuras que lhe durou cerca de um ano e meio.

O livro ainda não acabou e eu conto ao pormenor os minutos que faltam para lhe poder voltar a pegar e devorar mais umas quantas páginas da vida alucinante do Rob na cidade de Ispahan.

Recomenda-se!

2.9.07

Ri em Port Vell

Ri
Barcelona - 24 de Agosto