29.12.07

Ainda dizem que não há Pai Natal...

... sou eu!!

(Os meus presentes quase todos)

28.12.07

Fica a tua voz

Estava a chegar a casa do cinema, já a subir a minha rua, quando me deu uma vontade súbita de não parar, de continuar a guiar.
Não foi a primeira vez, já me tinha acontecido isto esta semana mas estupidamente resisti ao desejo, estacionei e subi.
Hoje não. Hoje pensei, porque não? Ainda não é meia-noite, não tenho nada à minha espera em casa e apetece-me tanto guiar e guiar por aí fora, sempre em frente, sozinha comigo e com os meus pensamentos.
Às vezes é preciso reflectir, por as ideias em dia. Este ano foi tão estranho, por um lado passou tão depressa e por outro que durou décadas. Décadas sem fim. Já nem me lembro de Janeiro, de Fevereiro, o que é que aconteceu? Onde é que eu estava? O que é que eu fiz?
Acabou a faculdade, começou a vida a sério e ainda no outro dia tive uma discussão com as minhas amigas que se recusavam a acreditar que a viagem a Praga já tinha sido há um ano e meio. Foi este ano, diziam-me elas! Ainda nem passaram 10 meses! Meu Deus, como a minha vida mudou.
Ainda em Fevereiro estávamos em Praga a passear pelas ruas geladas de gorro e luvas, menos eu que tinha que folhear o guia e não podia ter luvas e quase perdia os meus dedos de fada. Ainda em Fevereiro me diziam que eu era uma estúpida, uma estúpida por ser tão cega ao ponto de não ver que estava a perder tempo com uma pessoa que era tão menos que eu, que era cega por não ver que merecia tão mais, que merecia ser tão mais feliz. E eu dizia que não, estão parvas?, vocês não sabem o que eu sinto, eu sei muito bem o que sinto e digo-vos, com toda a certeza, que é isto que eu quero, que é para sempre! A sério que sim, ele não me foi por ao aeroporto nem certamente me vai buscar porque tem que trabalhar, não percebem? Tudo se vai resolver quando chegarmos a Lisboa.
Que estúpida.
É assim a vida.
Mudei tanto, cresci tanto.
Nem por um dia deste longo, longo ano, fugi ao que estava a sentir. Passei por tudo de olhos bem abertos, até de braços bem abertos. Foi tudo preciso. Sofri tudo. Era a minha vez de sofrer, tinha que chegar a minha vez.
E claro que chegou ao fim, claro que tudo voltou ao normal e quando penso em 2007, estranhamente, já não me lembro desses primeiros meses do ano mas sim dos últimos. Das aventuras, das descobertas de novas e pequenas felicidades em sítios tão simples mas onde já me tinha esquecido de procurar.
A dor, a confusão, parece-me tudo tão distante.

Mas lá está, perdi-me nas minhas palavras. Não foi nada disto que me passou pela cabeça durante a minha viagem de carro até ao Guincho.
A verdade é que já não consigo parar para pensar no passado porque sinto finalmente que não deixei lá nada. É uma certeza calma que já me acompanha há uns tempos e que me faz seguir em frente tão mais leve.
Tenho agora toda a minha vida com que me entreter. E tenho esta necessidade enorme de deixar tudo organizado na minha cabeça para conseguir entrar com o pé direito no novo ano. Sinto-me como quando era pequenina e ia à missa e achava que não devia comungar porque não me tinha confessado. Às vezes precisamos de deixar tudo resolvido para trás para conseguir seguir em frente e isso tem sido difícil para mim nos últimos anos porque há sempre alguma coisa, ou alguma pessoa, que me prendem lá atrás, que me puxam sempre por um cabelo e que me dizem ao ouvido que por muito que me esforce nunca conseguirei seguir em frente, que nunca me deixarão esquecer o passado.

Mas este ano, finalmente, tem sido tudo tão diferente.
As pessoas que me puxavam para trás vêm finalmente comigo, aquelas que ficam para trás é porque foi aí que as deixei. O que estava mal na minha vida acabou e olho para Janeiro e só vejo novas e novas etapas, mais assustadoras que nunca mas para as quais, ainda assim, estão tão ansiosa.

E pode ser Porto, Madrid ou até mesmo com toda a gente cá em casa, o que interessa é que este ano, na passagem de ano, vou fechar os olhos e vou-me concentrar em tudo o que quero para mim em 2008. Em tudo o que desejo, em tudo o que vou concretizar, tudo aquilo por que vou lutar. É a primeira vez em Deus sabe quantos anos que não passo o meu ano de mão dada com outra pessoa, a primeira vez em que o primeiro olhar, a primeira palavra do ano não é dirigida a desejar o melhor ano de sempre à pessoa que está comigo, e de preferência que o passe ao meu lado, claro.
Pela primeira vez, o novo ano vai ser a vida nova. Uma vida nova. Desde o princípio.
Como se alguém me dissesse: "Pronto Rita, aí tens uma nova oportunidade. Começa de novo. Erra de novo. Apaixona-te de novo, magoa-te de novo, recupera de novo."

Fica a promessa de que é isso que farei.


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Este texto chama-se "Fica a tua voz" porque já estava decidido, porque fazia parte de algo que eu queria escrever mas que estranhamente não estou a conseguir encaixar em tudo o que escrevi. Talvez não consiga, talvez não deva. Fica para próxima... não o vou mudar porque para mim faz sentido.

23.12.07

Chili

Sentada no meu quarto cor-de-rosa, em cima da cama e de computador no colo. A cama está feita, claro, mas o quarto nem está muito arrumado. Mas hoje não faz mal.

Agora tenho-me esforçado para ser menos preocupada com esses pormenores. Normalmente nunca estaria dentro do quarto se ele não estivesse perfeito. Normalmente nunca me vestiria de preto mas com botas castanhas, como ontem à noite. Mas apeteceu-me. Apeteceu-me, de propósito, saber que não estava a condizer. Saber que estava mesmo confortável, a sentir-me bem.

E pode ter sido disso, ou não, mas a verdade é que a noite correu lindamente.

Podia, de preferência, não ter acordado 3 horas depois de ter adormecido, com a minha mãe a entrar pelo meu quarto a dentro de Beatriz ao colo, nitidamente a fazer chantagem psicológica para eu não me chatear por me estar a acordar tão cedo, e a conversar com ela a mostrar-lhe inutilidades como: "Aqui está a tia Rita em Praga, aqui está a tia Rita no casamento do tio Quico. Ah! Quem é esta aqui? É a Beatriz!! Não é? Não é?".

Depois de um curto e breve: "Sim mãe, já vou", lá me levantei directamente para uma mesa onde me puseram a comer chili... um prato ideal para quem está relativamente de ressaca.

Sim, mas nada disto interessa, não me vou por a contar ao pormenor o meu dia.

O que interessa é que estranhamente me estava a sentir mesmo feliz e apesar de me virem à cabeça 7 ou 8 razões para isso acontecer, entre elas o facto de ser Natal, ainda sentia que havia alguma coisa que me estava a escapar.

É o que dá acordar à pressa, não me deixam ficar na cama a recapitular todos os momentos da noite passada, de maneira que há coisas que se calhar só me vão surgindo com o passar do tempo. Muitas delas só surgem mesmo passados alguns dias.

Mas estava aqui sentada na minha cama cor-de-rosa, ainda sem computador em cima, quando me lembrei de determinado momento da minha noite de ontem pelo qual estava à espera há meses. Meses!

A verdade é que por muita asneira que façamos na nossa vida e por muito que essas coisas passem, por muito que tentemos esquecer e nos deixemos de dar com pessoas para sempre, há coisas que não nos largam, por mais que tentemos fugir.

E eu tinha decidido, há uns meses, que tinha que pedir desculpa a uma miúda que tinha sido minha amiga e com quem me chateei no longínquo ano de 2000. Ora até à data em que tinha decidido isso via-a habitualmente onde quer que fosse, mas simplesmente ignorávamo-nos. Óbvio que a partir do momento em que tomei a decisão e disse para mim própria (e escrevi 30 páginas sobre o assunto) que da próxima vez que a visse ia resolver esse pequeno dilema, ela nunca mais me apareceu à frente!

É inexplicável e eu sei que também não sou a melhor para encontrar pessoas porque não sou propriamente uma miúda noctívaga nem ando a saltitar de evento em evento a esbarrar em pessoas conhecidas, mas de qualquer forma era estranho.

Mas ontem, do nada, comecei a vir surgir as caras familiares das amigas dessa tal pessoa e procurei-a muito rápido e do nada um momento no qual tinha pensado imenso como sendo um momento terrível e constragedor acabou por ser um momento totalmente descontraído (abençoado seja o alcool, tenho que admitir) em que acabámos a rir às gargalhadas e a desejar Bom Natal. Portanto abençoado seja o Natal, também, que põe toda a gente neste espírito.

Não posso dizer que tenha perdido 10 toneladas de peso na consciência porque só uma pessoa muito parva é que se deixa atormentar pelos mesmos fantasmas durante 7 anos sem fazer nada por isso, mas posso dizer que sim, que se calhar tinha uma pedrinha no sapato, muito muito pequenina e à qual até já estava habituada, por estar lá há tanto tempo, que agora finalmente saiu e me deixou tão, tão mais confortável.

E acho que foi por isso que dei por mim tão contente sentada na cama cor-de-rosa, por me sentir mais confortável. Por isso e, como é óbvio, pelas outras razões todas (7 ou 8 não era?) que fazem com que este Natal esteja a ser óptimo, com que me tenha divertido imenso ontem e com que até me sinta num momento relativamente feliz da minha vida em que se calhar se pudesse mudar qualquer coisa sem ser perder misteriosamente 5 kilos sem qualquer tipo de esforço nem sofrimento nem cirurgias... se calhar não mudava nada. Só se calhar. Também não me apetece pensar muito nesse assunto senão ainda me lembrava de 3 ou 4 coisas e depois ainda acabava chateada.

Mas pronto, como me apetece escrever e como ainda não decidi se vou aqui por ou não uma das belas fotografias tiradas ontem, vou escrever 8 razões (só porque cismei neste número) pelas quais me sinto feliz hoje. Pequenas coisas, provavelmente ridículas aos olhos dos meus atentos leitores, mas que a mim me deixam contente:


1 - Agora bloqueei não me lembro de nenhuma... Já sei. Adoro o meu quarto. Este é o primeiro em muitos anos em que não tem decorações de Natal mas como este ano o meu quarto está cor-de-rosa eu pura e simplesmente não conseguiria ter enfeites de Natal porque seria o cúmulo do mau gosto. Botas castanhas com vestido cinzento, uma vez na vida, ainda vá que não vá, mas uma época natalícia inteira com o quarto encarnado e cor-de-rosa seria o fim do mundo, nunca conseguiria adormecer.

Mas o que interessa é que adoro o meu quarto, agora que finalmente já está todo arranjado depois destas obras/mudanças eternas que a minha casa sofreu.


2 - Apetece-me muito o lanchinho desta tarde.


3 - Estou de férias. Não me sinto minimamente de férias porque mesmo que estivesse a trabalhar não o estaria a fazer hoje, nem ontem, nem amanhã. Mas estou contente por saber que não tenho nada em que pensar, que posso estar a descansar e a olhar para o ar que não há problema, até mereço.


4 - Gostei da noite de ontem. Do jantar que foi cómico de mais, de conhecer pessoas novas, de ir ter com pessoas conhecidas, de estar com toda a gente que ainda por cima faz sempre uma festa enorme por me ver como se eu só saísse à noite 3 vezes por ano, quando no fundo devo sair cerca de 7. E gostei do fim da noite.


5 - Já estou a ficar sem imaginação... agora bloqueei a pensar no fim da noite. Sobretudo no momento em que chego a casa e o meu pai está a sair para ir trabalhar. E ainda por cima, como melhor pai do mundo que é, em vez de me perguntar por onde andei até às 8h30 da manhã pergunta-me apenas: "Então querida, divertiu-se?". Diverti-me. O meu pai é o melhor. Esta é uma boa razão número 5.


6 - Ser Natal. Óbvio. Esta razão é importantíssima. Estou mesmo feliz por ser Natal. Assim que voltar do meu lanche vou começar a embrulhar presentes.


7 - Não sei, não consigo dizer mais, não vou chegar às 8 razões. Estou feliz hoje e estou a adorar toda a gente à minha volta e estou totalmente embebida em espírito natalício e apetece-me desejar bom natal a toda a gente que me aparecer à frente.

Menos a minha mãe. Está chateada e não diz porquê, está a fazer birrinha comigo e a fazer género para eu lhe perguntar o que é que tem mas depois não me conta. Acredito piamente que é só porque estou no meu quarto cor-de-rosa em vez de estar na sala a fazer alguma coisa em conjunto. Diz que ando muito comunicativa, que é o telemóvel, o computador, tudo. Isto é a maneira dela de dizer que já percebeu tudo e que eu ando aí com segredinhos que não lhe quero contar. É a maneira dela de dizer que está quase a desesperar por não fazer parte de tudo e mais alguma coisa da minha vida.

E é por isso que não chego às 8 razões, porque esta agora tirou-me a vontade de continuar a pensar na minha felicidade. Vou lanchar (como se não estivesse ainda a digerir o chili).



Primi power (fiquei péssima mas eles ficaram bem)

Ri, Pi, Zé e Benny

D&D, anos do Zé

21.12.07

Últimos momentos

Os últimos momentos num sítio são estranhos. Desta vez não é o liceu ou a universidade que chega ao fim, não vou de férias de sorriso na cara à aventura por um Verão de 3 meses.
Não.
Desta vez é estranho.

Ter um escritório só para mim durante quase 2 anos faz com que se torne um bocadinho de mim, posso-lhe até chamar um bocadinho de casa. As gavetas têm coisas pessoais onde mais ninguém mexe e tudo à minha volta foi colocado com um cuidado especial. Eu sou assim. Para mim, tudo tem uma ordem, um sítio certo, arrumado.
E acho que tenho evitado ao máximo o facto de ter que desarrumar tudo isto, enfiar em sacos e quem sabe quando voltar a tirar para fora. Mas ontem, antes de sair, decidi que tinha que começar. Decidi que eventualmente não teria força nem vontade de tratar de tudo hoje pelo que comecei à deriva pelas minhas gavetinhas encarnadas à procura de que pequenos tesouros poderia encontrar.

Ir embora é sempre difícil, apesar de ser uma saída boa e de sim, me esperarem 11 preciosos dias de férias. Férias essas que, achei eu, iam ser aproveitadas para me vingar das horas de sono que a vida me insiste em roubar mas que, afinal de contas, já estão todas salpicadas de pequenos programas aqui e ali e que, preenchidas com muitos trabalhos de grupo para as aulas, as deixam já quase preenchidas.

O diploma do ISCEM, que nunca me dei ao trabalho de levar para casa, o meu kit-escritório verde-lima-transparente com todos os acessórios a condizer, as minhas agendas, os meus cadernos de notas, o meu inseparável e essencial creme de mãos que só uso porque está à minha frente na secretária. Tudo coisas que fazem parte desta sala.
Tudo o que aqui está foi trazido para aqui a pensar em mim. Os móveis do Ikea aos quadrados com gavetas ditribuídas aleatóriamente, a secretária gigante, a cadeira de rodinhas, foi tudo comprado para mim e, mais importante ainda, foi tudo montado por mim!

A partir de Janeiro vai tudo pertencer a uma tal de Isabel, que parece simpática apesar de tudo, e que espero que dê valor a este bonito telefone Skype cor-de-laranja, ao meu telemóvel do escritório que irá, inevitavelmente, voltar a tocar com chamadas que ainda serão para mim, enfim, a tudo o que por aqui anda e que, no entanto, só aqui anda porque eu por cá andei.

E agora dou por mim no último dia de trabalho, dividida entre este desejo enorme de entrar de férias e gozar o Natal ao máximo e um pânico absoluto pelo ano que aí vem em que tenho um pavor terrível de falhar e de não corresponder às expectativas.

Hoje cheguei antes das 9h, pela primeira vez em muitos dias e quando todas as outras pessoas chegaram já eu lhes tinha deixado um envelope com um postal de Natal e com um grande chupa-chupa em forma de Pai Natal ou Árvore de Natal.
Escrevi-os todos ontem à noite. A cada um, um agradecimento especial por me terem aturado e ensinado tanto ao longo deste tempo e uma esperança de que não percamos contacto. Um adeus que deixa de ser tanto um adeus porque é sempre enfeitado de um bom natal e feliz 2008, de um até já, volto cá para fazer uma visita sempre que tiver disponibilidade.
Escusado será de dizer que essa disponibilidade será, misteriosamente, sempre reduzidíssima e que provavelmente não farei muitas visitas, mas logo se vê.

De uma pessoa recebi duas beijocas comovidas com o meu belo postal e de outra recebi uma mensagem pelo Skype (Estava mesmo a precisar de um chupa logo pela manhã!! eheheh obrigada Rita por estas palavras tão simpáticas... agora vou ter saudades das tuas histórias a 1.000 rotações que só tu consegues contar sem te atropelares eheheeh desejo-te toda a sorte do mundo quer na shiseido, quer em outro sítio qualquer e para a tua vida :) e claro que não vamos perder o contacto, não há skype há mail... há sempre qualquer coisa :D). De resto, houve quem fingisse que não leu o meu postal e que diz só que come o chupa-chupa logo à tarde e ainda quem não tenha chegado e visto o meu presentinho.

Espera-me um dia com, estranhamente, ainda bastantes coisas para fazer e interrompido maravilhosamente por um último almoço no Chiado em que me vou despedir destes passeios a pé e destas companhias únicas que tornam os meus dias perfeitos.

E a noite?
A noite vai ser estranha.
Tinha dois jantares marcados e acabei por decidir ir a um deles por obrigação quando o outro seria tão mais simpático mas, não vale a pena negar, o que eu queria hoje para festejar o meu último dia de trabalho e de aulas era uma bela noite de ronha a ver um óptimo filme. A festa pode esperar até amanhã. Inconscientemente já decidi que o mais certo é não ir ao jantar que combinei ir, mas também não vão sentir a minha falta porque são dezenas de pessoas, e ir a casa depois das aulas tomar um bom banho com calma e ir ter ao outro jantar que tanta pena tenho de ter dito que não ia. Mas fica prometida uma Tarte de Limão tamanho XL para a próxima oportunidade... e com merengue extra... pode ser?

19.12.07

Bleeding Love




Quao banal sou eu, a por aqui a musica do momento?
De qualquer forma, e linda.

18.12.07

Queens

No outro dia estava no meio de uma aula e, porque a matéria nesse preciso segundo não devia estar a ser por aí além interessante, estava a despejar os cartões todos da minha carteira e a fazer pouco de mim própria nas fotografias ridículas que ainda tenho. Isto, claro, partilhando o momento com as pessoas sentadas ao meu lado.

Até que uma dessas pessoas, vá lá vamos promovê-lo a colega, decide pegar no primeiro cartão do ISCEM e compará-lo com o segundo. E diz assim o colega: "Bem. Grande evolução!".

E isso deu-me que pensar que realmente olho para uma fotografia e para outra e as diferenças são inúmeras. Nem estou a falar dos caracóis ou ausência deles, daquela querida franjinha que tinha no segundo cartão que só pude fazer porque tinha feito o alisamente mais japonês de sempre e tive o cabelo totalmente liso durante aproximadamente um mês até ele começar a crescer e a franjinha ficar descontrolada com as raízes a encaracolar.

Não, nada disso, estou mesmo a falar de mim própria, da pessoa, de tudo.

Por muito pouco gratificante que o ISCEM possa ter sido em termos intelectuais tenho que admitir que foi a época durante a qual acabei por crescer mais, durante a qual passei da miúda do liceu para a miúda que, afinal de contas e felizmente, ainda sou hoje.

Não que esteja adulta ou me sinta muito crescida. Mesmo que me quisesse sentir assim lembram-me diariamente que ainda ontem estava no berço e que não sei o que são imensas coisas desnecessárias como camisolas que aquecem e que têm nomes estranhíssimos e que entretanto, tão desnecessárias que eram, deixaram de existir.

Mas a verdade é que não há comparação entre a miúda insegura e que, sejamos sinceros e a minha mãe que não me oiça porque para ela sou uma beldade incomparável desde que nasci, era feia que dói.

Eu talvez até nem fosse mas a verdade é que acreditava nisso piamente e com todas as minhas forças e, como sabemos que é esta a minha filosofia de vida, é a atitude que reflecte aquilo que mostramos e a pessoa que se acha a mais feia do mundo acaba por transparecer, inevitavelmente, isso mesmo.

A arte de deixar mostrar coisas totalmente diferentes daquelas que pensamos é uma arte maravilhosa que só vim a dominar anos depois de ser essa miúda de liceu. E a verdade é que ponho grandes culpas no liceu e este texto pode acabar por ser um bocado controverso e espero que não seja mal interpretado pelas minhas poucas leitoras que me acompanharam durantes esses anos de Rainha e que, digo já, não incluo nos comentários que farei mais à frente.

Mas a verdade é que sempre houve tanta pressão na minha cabeça em tudo o que dizia respeito àquele liceu. Sempre tinha sido assim e quando olho para trás e penso no Rainha é isso que me vem à memória. Uma pressão constante em conseguir ser tudo o que era esperado de mim, de uma pessoa como eu.

E, verdade seja dita, correu tudo mal desde o início.

Porque queria mais que tudo ir para o liceu onde andavam os meus 2 irmãos mais novos, que eram até à data e eventualmente serão sempre os meus heróis. Porque era na altura o melhor liceu público do país e eu via nos meus irmãos uma vida espectacular em que tinham óptimas notas e o melhor grupo de amigos de sempre, com os melhores programas, com as melhores viagens e ainda assim a serem sempre espectaculares.

Era tudo o que eu queria e disse muitas vezes mais tarde que penso que a maior decepção da minha vida foi compreender que eles eram a excepção e que não, o meu grupo de amigos não seria assim. Porque mais nenhum é. Porque eles eram, e ainda são, únicos.

E no meu primeiro dia de liceu estava tão em pânico, tão desejosa de conhecer pessoas novas e ser tudo o que sempre tinha sonhado que seria que decidi fazer um brilharete e ir ter com o meu irmão Filipe à "zona do 12º ano", verdadeiros deuses na terra para quem tem 12 anos, e inventar que me tinha esquecido das chaves de casa. Já nem me lembro do que ele me disse mas tenho uma imagem nítida de estar no centro de uma roda de pessoas com mais um metro de altura do que eu e de ele ter respondido qualquer coisa horrível para me despachar, como quem pensa o que é que esta miúda de cabelos no ar está a fazer no meio do meu intervalo se já tenho que a aturar em casa?

E o mais engraçado é que ainda assim me devo ter ido embora, nitidamente de rastos para ainda me lembrar hoje dessa situação mas nem por isso sem esperanças de fazer excelentes amigos. Porque eu nem sequer era envergonhada, tímida, fechada ou introvertida. Juro que não era, mas o liceu fez-me ficar assim.

Eu cheguei ali acabadinha de chegar do CISV e a acreditar piamente que todos os meninos e meninas do mundo podem ser amigos, que somos todos iguais e que não tarda vamos fazer um grupo de amizade para todo o sempre.

Mas é incrível como aquele liceu tinha um poder inacreditável de destruir, de corromper a auto-estima de uma pessoa. Do nada havia uma competição feroz nas comparações dos colégios de onde vinhamos. Claro que ninguém vinha de uma escola preparatória... estamos a falar do Rainha! E as meninas das Escravas recusavam-se a dar-se com as meninas das Oblatas (ou lá como é que se escreve) e os do Bom Sucesso eram estranhos porque o colégio deles não era na Lapa. E na minha cabeça nada daquilo fazia sentido, que diferença é que fazia de onde vinhamos se afinal de contas tinhamos vindo todos parar ao mesmo sítio?

Mas ali, tudo fazia diferença. E quando olho para trás acho que nenhuma miúda acabadinha de sair de um colégio onde só via freiras e claustros, com 12 ou 13 anos de idade, tem que ter força para aguentar toda aquela pressão.

E óbvio que comigo tudo tinha que correr pior do que com as outras pessoas. Era facílimo ser o ídolo da turma quando os cabelos têm a facilidade de crescer para baixo e não para cima, quando não parece que acabaram de chover dentes para dentro da nossa boca em todas as direcções possíveis, quando as nossas mães têm a sensibilidade de compreender que, por ter andado mil anos num colégio de farda não tenho, óbviamente, roupa que conseguisse não repetir (factor contabilizado quase matemáticamente) de 4 em 4 dias e acima de tudo quando, por termos andado num colégio de raparigas que só tinha rapazes há 2 anos e cerca de 3 por turma não achamos que os rapazes são verdadeiros bichos de 7 cabeças e seres totalmente desconhecidos.

Não estou a dizer que tenha sido horrível, que tenha corrido tudo mal ou mesmo que eu fosse infeliz. Nunca fui infeliz. Não digo mesmo que logo no primeiro dia de aulas não tenha ficado numa mesa a meias com quem viria a ser a minha melhor amiga até hoje e, creio eu, para muitos anos que estão para vir.

Só digo que aquela pressão constante que nos fazia sentir que a cabeça podia explodir a qualquer momento é algo de inesquecível. Do nada, os amigos que tinham vindo comigo do colégio eram gozados e eu tinha que escolher entre ficar do lado deles, que ficava, ou dar-me com todas as pessoas espectaculares, que também me dava e sentia-me sempre dividida e sempre a falhar em alguma direcção.

E foi esse sentimento que me acompanhou até ao fim dos meus dias no Rainha, não posso negar. Lá está, eu adorei estar lá e foi muito bom, mas sentia-me sempre a falhar. Nalguma coisa, eu não estava bem. Porque era mais gorda, porque tinha aparelho, porque tinha um cabelo incontrolável, porque não tinha namorados, porque afinal já tinha namorado mas não era quem era suposto ter sido, porque não quis começar a fumar no 9º ano, etc.

E se calhar nunca ninguém me disse estas coisas directamente. Nunca ninguém fez de propósito para me reduzir e para fazer com que a minha pessoa cá dentro ficasse totalmente de rastos, mas era isso que acontecia. Foi isso que aconteceu.

E eu às vezes penso que sou envergonhada hoje em dia, que posso ser um bocadinho insegura nalgumas coisas que dizem respeito a mim própria mas bolas, calma! Eu gosto de mim, tenho-me em determinada consideração e acho que tenho até bastantes qualidades que seria totalmente narcisista estar aqui a enumerar, mas tenho!

Mas quando aqueles anos acabaram não havia, mesmo, maneira de me convencerem disso. Por muito que eu mostrasse, que eu tentasse, que eu acompanhasse toda a gente e mesmo os bons amigos que lá fiz, por dentro eu sempre estive um caco. Sempre.

E foi preciso aqueles malditos anos terem chegado a um fim, mesmo com muito choro e com vigílias nocturnas e greves porque nos recusávamos a que fechassem o nosso Rainha (sim, porque o Rainha deixou de existir naquele ano), para eu perceber que, afinal de contas, e quem diria?, eu até sou uma pessoa normal.

Foi preciso mudar para uma escola no fim do mundo para fazer o 12º com 2 amigas para ver que de facto existem mais conversas nos intervalos sem ser a vida das pessoas que me rodeiam, o que vestem, o que fazem e onde passaram a última 6ª feira (na altura, só se saía à 6ª-feira). Foi preciso mudar de ares, de vida, de ambiente para perceber que sim, sou uma pessoa normalíssima com imenso para dar e que não, ninguém no mundo tem o direito de me reduzir a menos do que sou.

Por várias outras razões que evidentemente eu não estou a enumerar aqui, até porque são fases que me custam recordar, o meu último ano no Rainha traumatizou-me gravemente. Foi quando acordei para a vida e compreendi o poder absolutamente espectacular que temos, apesar de apenas adolescentes, para nos magoarmos uns aos outros. E não me estou a fazer de vítima, também magoei muito. Saí de lá com a visão mais pessimista possível sobre a vida, sobre o futuro e sobre mim. Passei por uma fase tão, tão dolorosa à qual, ainda por cima, tive que acrescentar a decepção de não poder desabafar com as minhas amigas porque a elas, pura e simplesmente, nunca lhes interessou perguntar como é que eu estava. Porque as razões pelas quais eu estava como estava implicavam compreender que existiam mais pessoas naquele liceu além do nosso grupinho fechado, implicavam admitir que eu tinha mais amigos no mundo e que elas tinham razão em não se dar com mais ninguém porque afinal esses amigos só servem para decepcionar, e isso era evidente, não se via logo nas roupas deles?

Não interessa. O que interessa é que com o tempo comecei a reconstruir-me do zero, com muita ajuda do meu namorado na altura que era, de resto, a única a pessoa em que eu me podia/queria apoiar e que eventualmente fui capaz de começar a ver a vida com outros olhos. (Destaque para este namorado que, como está escrito já em centenas de posts deste blog, é uma pessoa a quem nunca conseguirei dar valor suficiente na minha vida. E não escrevo isto por ser amorosa e querer impressionar, escrevo só mesmo porque sei que ele vai ler isto e portanto é mesmo de propósito).

Tentando resumir, não era de todo o objectivo do meu texto ter escrito isto tudo. Tinha um textinho muito bem organizado na minha cabeça sobre o meu jantar de 6ª-feira só que entretanto perdi-me e acabei por fazer uma crítica para lá de cruel a um liceu que eu, juro por tudo, ainda me tento convencer a mim própria que adorei e que continuo a defender com unhas e dentes.

A verdade é que tive um grupo de amigas durante todos esses anos. E adoro-as, e adorei estar com elas esta 6ª-feira e espero que estes jantares se repitam, aliás já disse que o próximo é em minha casa. E eu sei que elas não fazem por mal, eu sei que não é de propósito e eu sei que elas nem sonham mas continua a ser mais forte que eu estar ali à mesa e ver em cada pergunta um juízo, em cada comentário uma crítica, em cada olhar uma facada!

Calma, não digo isto de toda a gente mas já chega de fingir e a verdade é que saí de casa a sentir-me giríssima e dei por mim, estupidamente, a meio do jantar a não ir à casa-de-banho porque a minha barriga se ia notar imenso com aquele vestido! Onde, meu Deus, onde é que eu tenho uma barriga que se note?

Vou acabar com este texto antes que ofenda quem quer que seja. Eu adorei o jantar. Houve realmente pessoas de quem eu estava morta de saudades, outras que até acabo por ver frequentemente e outras que espero começar agora a ver muito mais. Mas sim, senti-me, por 3 segundos que fosse, outra vez a pessoa mais horrível do mundo. E claro, mas isto era claro como água que só me iria acontecer A MIM, o meu cartão multibanco tinha que falhar e eu tinha que pedir que alguém me pagasse o jantar e eu tinha que ficar com aquela cara de tonta a fazer contas à vida a pensar se teria abusado assim tanto nos presentes de Natal (não abusei, era do banco e já fiz uma reclamação por me ter acontecido a mesma coisa na 6ª-feira e no Sábado e, como diz certa colega, ou me respondem em 48 horas ou faço uma escandaleira).

E claro que não quis ir sair, claro que quis ir para casa enterrar-me no sofá a ver televisão e esperar que a minha mãe chegasse. Claro que ela chegou, olhou para mim, abraçou-me e disse que estava tudo bem, que já sabia que eu ia ficar assim, que ainda bem que fui à mesma. E adormeci a sonhar com o meu jantar do dia seguinte para o qual poderia até ter ido de pijama que sei que não teria feito diferença.

17.12.07

Recuso-me

Tico e Mia
Arrábida - Maio 2005

Desde sempre que ir à missa com pessoas da mesma idade é um fiasco completo. Para mal dos meus avós, que sempre foram quem nos acordava em qualquer fim-de-semana ou Domingo de férias para nos arrastarem com eles, sempre houve conversas que estranhamente nunca tinham surgido antes mas que eram imprescindíveis ter naquele momento específico. Nem antes, nem depois. O burburinho sempre foi uma constante e era sempre acompanhado daqueles olhares de quem não compreende como é que se vai conversar para a missa.
E não é que se vá. Não se vai, claro que não. A missa não é para conversar. No entanto, a verdade é que momentos destes vão surgir sempre. E hoje não foi excepção. Sobretudo quando há conversas a ter, coisas que se querem saber, sorrisos furtivos que se cruzam entre primos que não se viam há quase um dia!
Que tal essa ressaca? A que horas chegaste, como foste para casa? E tu, porque é que não vieste ter connosco? Foi uma noitada... Estamos todos de rastos.
A tudo isto e a todas as outras conversas ainda relacionadas com o mesmo tema mas que não vou transcrever para o blog, não vá violar a privacidade de alguém com temas como: "Eu disse-lhe que ele tinha sido parvo em não pedir o número dela. Não lho deste?", e eu: "Sim, dei... mas olha que ela não está nada interessada digo-te já", veio acrescer ainda mais um pequeno factor de distracção, que ultimamente ocupa todos os meus pensamentos e que acho mesmo que está a subir e quase a alcançar a posição de pessoa que mais gosto em todo o mundo, sobretudo porque a minha mãe anda meio chata, que é a Beatriz.
É evidente que se vamos para uma missa, a Beatriz vem para o meu colo. Ora também é evidente que as pessoas que me rodeiam querem apertá-la, enxê-la de beijinhos, tentar fazê-la sorrir e tudo o mais que possa estar relacionado.
Até que oiço um berro, na medida em que os berros se podem dar na missa, ou seja, um sussurro quase elevado à condição de voz, a dizer que somos ridículas e que nem na missa conseguimos estar caladas. Sim, caladas, são sempre as raparigas que estão no mexerico, sobretudo quando há bebés envolvidos.
Olha o puto, pensei eu, agora já acha que manda. Até que vejo a cara dele. Está triste. Olho à minha volta e vejo como realmente, e apesar de a missa só ter começado há 5 minutos e de ainda há 10 estarmos todos lá fora a conversar animadamente, de repente está tudo triste.
Do nada há um véu horrível sobre toda a gente e até lágrimas já se vêm.
E eu não percebo, juro que não percebo, o que é que estamos a celebrar naquela missa.
Não percebo o porquê de festejar um aniversário de uma morte quando temos tanta vida à nossa volta para festejar. Não percebo porquê escolher um dia específico para nos concentrarmos nesse assunto e chorarmos, só aí, como se no dia 17 já não fosse verdade, já ninguém se lembra que o Tico morreu.
Recuso-me a celebrar uma data triste.
Recuso-me a lembrar-me do Tico no dia em que ele morreu.
Recuso-me a recordar aquele dia. Porque não me lembro. Porque é uma nuvem na minha cabeça. Porque só me lembro de estar a ver uma peça de teatro de final de liceu da então irmã do meu namorado e de a minha mãe me ligar a chorar. E juro, juro por Deus que não me lembro de mais nada. Tento pensar se fui ter com a minha mãe, com a a minha família e não me lembro.
Uma parte tão grande de mim, de todos nós, morreu naquele dia e eu recuso-me, mas recuso-me mesmo, a celebrá-lo.
Recuso-me a recordar o Tico neste dia quando há tantos outros em que faz mais sentido recordá-lo. Porque não fazer uma missa no dia de anos dele? Porque não festejar a sua vida, o que ele viveu, o que ele alcançou? Não percebo o porquê de se escolher a pior data, a única data na vida dele que foi verdadeiramente horrível, para se fazer uma missa em sua homenagem.
Ah, porque passaram 2 anos. Tudo bem, eu sei e jamais me esqueceria disso. Mas foram 22 os anos que ele esteve vivo e foram milhentas as datas de coisas boas que lhe aconteceram e que merecem mil vezes mais serem celebradas com uma missa.
Porque me recuso a recordá-lo pela sua morte e não pela sua vida.
Porque prefiro lembrar-me dele, como me lembro, nos momentos do dia-a-dia, nas fotografias que vão passando, nas conversas que vamos tendo.
Porque prefiro chorar, como tantas vezes acontece, só porque uma imagem me veio à cabeça, porque passei por um sítio especial e ele não está connosco, porque me lembro dos anos em que andámos juntos na escola ou em que jogávamos ao peão e ele tentava em vão ensinar-me a lançar o peão sozinha apesar de eu nunca ter conseguido.
(E aqui tenho que fazer um parentesis para deixar bem claro, até porque a única pessoa que me conseguia convencer do contrário já não está cá para me contradizer, que: lançar um peão é impossível. Impossível!)
Não estou a dizer que não tenha chorado hoje na missa, que não me tenha comovido, que não me tenha eventualmente calado. Que não tenha agarrado a Beatriz e a mão da Madalena com mais força porque ainda precisamos tanto de saber que estamos todos juntos, que ainda nos temos uns aos outros.
Não estou a dizer que não me tenha ido abaixo com a música que o Manel cantou, tão comovente que por momentos achei que tinha viajado no tempo para o mesmo dia de há 2 anos atrás. E isto apesar de ouvir a Benedita dizer: "Outra vez a mesma música? Ele vai cantá-la todos os anos?".
Claro que sim, claro que a missa foi linda e claro que cantaram lindamente. Claro que é lindo estarmos todos juntos, apesar de estarmos todos juntos tantas vezes e claro que faz parte de tudo isto o Gongas mandar-nos calar, a Benny resmungar com a música e ainda me dizer: "Ri, vais comungar por alma de quem??" e ser sempre o Manel a cantar e a tocar. Porque afinal de contas ainda somos nós.
Mas ainda assim não faz sentido na minha cabeça, não faz sentido só nos reunirmos para celebrar o fim. Para nos lembrarmos da única, a única coisa má que neste momento recordamos sobre o Tico.
Porque já não interessa o seu péssimo feitio quando lhe apetecia, já não interessa a sua mania obcessiva de que mais ninguém podia tocar no computador da avó sem ser ele, já não interessa nada... De qualquer forma agora também não me lembrava de mais nada mesmo que quisesse enumerar imensos defeitos. Porque se varreram da minha cabeça. Porque o que me lembro são as férias, os Verões, os fins-de-semana na Arrábida, os passeios de mota pela serra, nós em pequeninos.
E portanto foi isto que me passou pela cabeça esta noite.
Recuso-me a fazer oficialmente esta celebração do pior momento das nossas vidas. Este não é um dia para chorar, este é um dia para esquecer!
Para lembrar, para recordar, para chorar tudo o que for preciso, temos todos os outros dias da vida dele connosco.
Boa?





Update:
Pronto, cá está, um óptimo momento para chorar seria este em que tento escolher uma boa fotografia para ilustrar este texto (a esta hora a fotografia que está no início).
E existe toda uma pasta chamada TICOTICO na minha pasta de 2005, cheia de fotografias que roubei do computador de alguém já há alguns tempos.
E agora sim tenho vontade de chorar como nunca e de perguntar porquê, porquê meu Deus teve isto que acontecer? Como é que isto pode ser justo? Como é que é possível todos continuarmos a viver e nascerem bebés e casarem-se pessoas e aparecem novas pessoas nas nossas vidas quando ao Tico ninguém lhe perguntou se ele queria ir ou ficar?
Há dias em que é só isso em que eu penso, como é que eu tenho força para continuar se ainda sinto tanto, se ainda penso tanto, se ainda me dói tanto! Acho que acima de tudo é isso. É o que me dói. Porque foi injusto, porque foi mau, porque não devia ter acontecido.
E agora estou aqui, feita parva no meu quarto às 3h da manhã a fazer um anjinho para a festa de Natal à última da hora e nem sequer vai haver o anjo do Tico, ou estrela ou lá o que é que os rapazes têm que fazer. E isso não faz sentido, não faz!
Como é que se faz para passar por cima disto? Quem me dera saber o truque.

14.12.07

Nunca mais é Natal!

Por uma razão qualquer inexplicável apetece-me divagar sobre presentes de Natal.
Adoro oferecer presentes, adoro comprar presentes. Adoro escolher o que quero para cada pessoa com antecedência e ir até ao sítio certo e comprar exactamente aquilo com que tinha sonhado.
Tenho destas coisas, não ando por aí à procura de presentes à espera que montras natalícias me dêm ideias inesperadas. Já sei o que quero e se não o encontrar já sei que vai ser uma dor de cabeça até ter uma ideia nova porque mais nenhuma me vai parecer tão boa.
É como escolher a roupa que vou vestir. Não consigo ser como a maioria das raparigas que sai do banho e fica 3 horas a experimentar todas as hipóteses possíveis de roupa e ver qual fica melhor e às tantas já está estafada de tanto mudar de roupa que já sai de casa de mau-humor. Para não falar do facto de sair atrasada. Not me. Hoje tenho o primeiro de 5 jantares de Natal (por enquanto!) e parece-me óbvio que já parei 2 segundos para pensar e avaliar o conteúdo do meu armário e já sei perfeitamente o que vou vestir.
Mas a verdade é que se por acaso chegar hoje a casa e a roupa que já predefini não estiver disponível, se estiver suja, por passar, para lavar... aí sim, temos drama. Do nada, mais nada me vai parecer giro, mais nada me vai ficar bem e vai ser impossível fazer outra escolha viável.
É assim que eu sou.
E com os presentes foi assim que foi a minha noite de ontem.
Sim, claro que tinha uma lista e sim, já sabia tudo o que queria comprar.
Nunca poderia ter ido às compras com mais ninguém porque estava totalmente decidida a ir aos sítios que já tinha escolhido procurar precisamente aquilo que eu queria.
E para mim é isto que são os presentes de Natal.
Não são obrigações.
São presentes que eu quero dar a determinadas pessoas porque acho que elas vão gostar, porque quero mesmo que gostem! São presentes, ideias nas quais pensei com atencedência e que deixei germinar, aproximadamente entre Setembro e Dezembro, até ter finalmente tempo e disposição para ir à procura deles.
Sim, porque não serve de nada dizerem-me que podia ter feito as compras de Natal em Setembro. Seria impossível. É o mesmo que comprar fatos-de-banho em Janeiro.
Para comprar presentes de Natal é preciso o espírito de Natal, é preciso luzes, presépios e árvores de Natal em todos os lados. E podem dizer que a sociedade se aproveita do Natal para despoletar o consumo que eu não me importo, sei que é verdade mas tenho que admitir que é tão, tão melhor comprar presentes nesta época!
E sim, antes que este texto se alongue, tenho que deixar claro que no Natal se oferecem presentes e não prendas. Prendas, nunca! Não é por achar a palavra pirosa, que acho, mas parece-me errada, incompleta, feia!
Mas seguindo em frente, e porque me pediram um testamento e não um textinho, verdade seja dita que ontem à noite me arruinei totalmente com os presentes e ainda me estão a faltar os dos meus amigos secretos que só vou comprar hoje à hora de almoço.
Já comprei para meus sobrinhos, para a minha sobrinha, para as minhas primas (sorry babes... teve que ser), fui buscar o da minha avó, ainda tenho que ir buscar o do meu irmão/primo secreto Filipe e comprei os dos meus outros 2 primos secretos. Felizmente que não se conhecem e que são de famílias totalmente diferentes senão ficavam a saber que levam presentes iguais.
E arruinei-me a comprar chocolates para toda a gente. Teve que ser. E isto tem uma explicação muito lógica. No ano passado trabalhei para a Milka num belíssimo jogo do Sporting, já não me lembro é com quem é que trabalhei mas pronto, e algumas vacas Milka, outras meninas Milka e eu roubámos centenas de chocolates. Mas centenas ao ponto de ainda não conseguir comer chocolates Milka e já passou um ano. De maneira que decidi na noite de 24, a minha festa de Natal preferida, oferecer a toda a gente um pacotinho Milka.
Sempre quis ser daquelas pessoas que oferecem um presentinho a toda a gente porque a verdade é que quando chego ao meu sapatinho, depois da missa do galo, adoro ver um monte de presentes e há sempre um ou dois mais pequenos em cima que são um chocolate ou algo assim de um tio meu, o Tio Miguel normalmente, que oferece a toda a gente e fica sempre toda a gente radiante!
No ano passado eu fui essa pessoa. Apesar de estar a oferecer chocolates literalmente roubados, ou pronto, vá lá, tirados de caixas Milka. E o que aconteceu é que toda a família ficou radiante comigo e tão, tão feliz. E apesar de eu insistir que não, que não era nada e os chocolates tinham-me sido "oferecidos" num trabalho não havia maneira de tirar os sorrisos da cara de toda a gente que achou que eu era a pessoa mais amorosa do mundo!
Ora, por me sentir mal por terem ficado tão felizes por eu ter dado uma coisa que nem sequer comprei e também porque adoro que me achem a pessoa mais amorosa do mundo e quero que voltem a achar, ontem lá fui eu para a Makro comprar chocolates Milka para a Marçalada toda. Fiz as contas por alto e somos mais de 30... só havia caixas de 20 chocolates e eu nem quero acreditar que vou acabar por ser eu a comer os que vão sobrar. Sou sempre assim, é incrível. Juro que não queria, que ainda estou enjoada de chocolates Milka, mas já sei que os vou comer e não há nada a fazer. Ainda só comi um, ontem, enquanto seguia da Makro para o Ikea e depois para o Stapples (não posso contar porquê senão um leitor do meu blog ficaria a saber o que lhe espera) e depois para o Colombo.
Curiosamente, nenhum destes sítios estava a abarrotar e a minha noite de compras correu calmamente e sem precalços. Comprei tudo o que queria e encontrei tudo o que estava à procura, menos uma coisa que era precisamente a única coisa que eu queria oferecer a essa pessoa mas que está esgotada. Não posso dizer o quê porque essa pessoa também lê o meu blog. Mas leva um "queria-te-dar-isto-e-levas-em-Janeiro" no formato do presente original, porque a intenção é que conta.
A verdade é que adoro oferecer presentes. Adoro a noite de Natal. Adoro o Natal!
Quando chegamos da missa e está toda a sala com centenas de milhares de presentes ao mesmo tempo que centenas de milhares de crianças cantam as músicas natalícias que a minha avó lhe impõe (Glóóó-óóóóóó-óóóóóó-óóóóóó-ri-a!), adoro andar a ver as pessoas que abrem os meus presentes em vez de ir abrir os meus a correr.
Isto tem tanto a ver com estar histérica para ver reacções como com o facto de eu ser, como sempre fui, uma verdadeira "pleasure delayer" (como no Vanilla Sky!) e prolongar o momento de abrir os meus próprios presentes o máximo de tempo possível para ter sempre aquela sensação de que ainda me faltam imensos até ao fim do meu montinho. E quando finalmente vou para o meu sapatinho, demoro horas! Começo por abrir o inevitável chocolate do Tio Miguel e, enquanto o como, vou logo agradecer. Entretanto espreito aqui e ali para ver o que todos estão a receber e quando finalmente volto para o meu sapatinho já passou meia-hora. Começo a ouvir gritos de desespero porque não estou a abrir presentes nenhuns e já se está tudo a passar e lá começo, dos mais pequenos para os maiores, a abrí-los, mas sempre com muitas pausas e muitos "quem é que me deu isto??? sabes? quem foi? quem tem o papel aos bonecos de neve?". E pronto, é uma regra, não passo para o presente seguinte sem saber quem deu o primeiro, sem agradecer devidamente no meio daquele caos de gente e embrulhos e crianças histéricas de felicidade e sem trocar quatro ou cinco impressões sobre presentes alheios.
Com os presentes que eu ofereço não acontece a parte de terem que procurar quem ofereceu. Muito depressa alguém, normalmente a Benny porque faz parte do clube das não-queremos-ir-à-missa-ficamos-a-arrumar-os-presentes, diz: "Os presentes da Ritinha são aqueles com o papel assim e assim e com o laçarote daquela cor". E pronto, acabou-se a surpresa. Os meus presentes são sempre, sempre os mais queridos e todos iguais e muito, muito bonitinhos. Até podem não ser nada de especial mas, verdade seja dita, ainda ontem me disseram que o embrulho conta 50%. Não que tenha sido uma pessoa que eu considere uma expert em presentes de Natal, mas paciência.
E quando finalmente acabamos de abrir todos os presentes e aquela sala está absolutamente caótica, até porque ainda não passou a pessoa que apanha papéis de embrulho do chão, passamos para a melhor ceia do ano. E tenho que admitir que essa pessoa que apanha papéis de embrulho é um verdadeiro mistério para mim porque não sei mesmo quem será. Sei que mal se abrem as porta da proíbida casa de jantar vou muito rápido comer bola e chocolate quante (mistura trágica, mas é Natal) e quando volto para a sala porque na casa de jantar ainda sou considerada uma criança e não tenho lugar à mesa, e nem queria ter tenho que admitir, já não há papéis de embrulho em lado nenhum. A sala já não é um caos mas sim um conjunto de montinhos ordenados de presentes já desembrulhados e salpicada de crianças a experimentarem os seus novos brinquedos, totalmente alheias ao facto de que já devem ser umas 4h da manhã.
Enfim... nunca mais é Natal!

12.12.07

Christmas

Baptizado da Beatriz
8 de Dezembro

Se fechar os olhos com muita força e me concentrar no último fim-de-semana consigo ver, ao pormenor, algumas imagens que me ficaram guardadas na memória.
Fotografias que não foram tiradas por mais ninguém que não eu mesma e que não estão guardadas em mais lado nenhum senão cá dentro.
Os meus sobrinhos, Tiago e Filipe, a correr pelas ruas da Covilhã absolutamente indiferentes ao frio que quase me matava e a rirem às gargalhadas por uma razão qualquer absolutamente insignificante, como um boneco de neve gigante montado no meio da rua cujo nariz era, vá-se lá compreender, uma cenoura.

O Natal tem destas coisas, fazer rir toda a gente um bocadinho mais do que se riem no resto do ano. Pelo menos em mim tem esse efeito e eu até me rio bastante no dia a dia.
E ver o Tiago a rir-se e a brincar, a falar e a dar beijinhos de livre vontade é capaz de ser das coisas melhores que me podem acontecer.

Porque é sempre mais fácil gostarmos mais das crianças mais fáceis, das que se riem mal lhes deitamos a língua de fora e das que se derretem nos nossos mimos sem fugirem de vergonha.
Para mim é tão fácil pegar na Beatriz ao colo e dizer que é minha afilhada e sentir que ela se encosta a mim como se já soubesse como mostrar que quer ser abraçada. É tão fácil fazer uma pergunta ao Filipe e ouvi-lo interminavelmente a responder em catadupas de palavras trapalhonas das quais só percebo metade até que ele fuja a rir às gargalhadas.

Mas são os sorrisos mais difíceis de arrancar, os beijinhos mais esporádicos e as palavras do Tiago que acabam por me trazer maior felicidade. É tão fácil não lhe ligar, dizer que ele é difícil e que não responde quando falamos com ele. É tão fácil admitir que pronto, que ele não quer brincar comigo e dedicar-me a outra coisa enquanto ele se embrenha nos seus cavaleiros e cavalos, perdido no seu mundo imaginário em que tudo é à medida do que ele quer.
Mas quando ele sorri, quando ele diz uma piada, quando ele se ri das minhas piadas. Aí sim, eu fico feliz. E é óptimo lembrar-me que sim, ele é meu afilhado, o meu primeiro sobrinho!, e eu vou querer tomar conta dele toda a vida e ter a certeza que ele vai ser sempre feliz.


E se normalmente eu sou uma pessoa bastante ligada à minha família (e como poderia não ser, com família a transbordar por todos os lados?), diria que no Natal essa ligação triplica e eu sinto-me a pessoa mais completa do mundo.
Tenho uma pena enorme das pessoas que não vivem o mesmo que eu nesta altura do ano. Que não têm gosto, prazer em querer agradar toda a gente com o mais simples presente de Natal. Que não querem dar tudo e mais alguma coisa só para mostrar que sim, que estes dias são um espectáculo e que já estou ansiosa pelo ano que vem.
Que não têm primos e primos que são os melhores amigos de sempre e aquelas pessoas das quais nunca, mas nunca nos haveremos de afastar.

E se calhar muitas vezes até me queixo aqui e ali da quantidade de presentes que acabo por ter que comprar. Ter três famílias implica ter três primos secretos, três festas de Natal e engordar três vezes mais do que o necessário.
Mas três conjuntos de primos, de tios e de festas realmente não poderia ser melhor, mais divertido, mais completo. Seja a consoada, o almoço ou o jantar... Não há dúvida que para mim o Natal ainda é aquela festa única do ano cheia de magia.

E seja porque está a chegar o dia 16 de Dezembro e porque faz 2 anos que aconteceu a coisa que, de longe, mais nos marcou em toda a nossa vida, como família e como pessoas, seja porque é quase Natal ou porque está quase a nascer o meu sobrinho mais pequenino, lá na China, tenho uma vontade enorme de aproveitar estes tempos em que o Natal ainda é tão grande e no meio de tanta gente. Até porque já sei que será dos últimos e que não tarda a grande família já somos só nós os 13, que não há maneira de pararmos de nos multiplicar e que qualquer dia já não cabemos em casa nenhuma.

E vou fazer tudo para que este Natal seja tão inesquecível quanto todos os que temos vivido e tentar combater este pequeno sentimento que insiste em estar presente e que não me deixa esquecer que um bocadinho tão importante da minha família está do outro lado do mundo e que, apesar de sempre tão perto, está tão longe de nós!

Até lá, venham os amigos secretos e os jantares de Natal constantes! Sejam do Rainha com pessoas que mal vejo ao longo da minha vida, sejam da faculdade que já quase é ridículo dizer que somos o grupo da faculdade porque estamos juntos todos os dias e mais dias do que os dias em que lá pusemos os pés, seja do que for. Há quase mais jantares que dias para jantares e mais festas do que tempo para festejar.

E por isso é que o Natal é tão bom. Porque todos festejamos, apesar de se calhar mais de metade já nem saber porquê ou para quê... Seja por que for, seja qual for a razão, a verdade é que me parece impossível não se estar feliz nesta época do ano.

7.12.07

Jacarandás

Vou ter saudades de Santos.
Mesmo em dias como estes em que me sinto a cair para o lado de doente e está mais frio do que eu gostaria que estivesse, sei que vou ter saudades de trabalhar neste sítio maravilhoso.
Vou ter saudades de milhões de coisas.

A começar pelos jacarandás do jardim mesmo à frente do escritório, que estranhamente me continuam, passados tantos anos, a trazer recordações inesquecíveis de namoricos sem igual. E seria inútil tentar mudar um facto tão óbvio, porque há momentos únicos, primeiros beijos únicos, que não devem nunca ser esquecidos.
Tudo bem que era um beijo proibido, tudo bem que eu só tinha 17 anos (ou mesmo 16!), mas aquele banco vai ser sempre aquele banco e o sorriso com que eu olho para ele, até porque passo por ele todos os dias, há de ser sempre o mesmo.
E é-me indiferente que nunca mais me volte a sentar lá, que nunca mais dê um beijo sob os jacarandás, até porque são das árvores mais raras do mundo e a probabilidade de me voltar encontrar debaixo de um com alguém é muito pequena. É-me indiferente que esse beijo nunca se repita. É indiferente. Porque há recordações que valem por mil momentos presentes e futuros.
Vou ter saudades de me lembrar disso.

Acho que acima de tudo vou ter saudades dos almoços.
Fosse uma, duas ou três vezes por semana, há sempre alguém aqui ao lado com quem combinar um almoço. Na Lapa, em Santos ou mesmo nas Amoreiras, ou não fosse as Amoreiras o melhor centro comercial de Lisboa desde sempre e para sempre, vou ter saudades do quão fácil era passar uma hora tão bem acompanhada que parecia que passavam anos luz entre as manhãs e as tardes sentada nesta cadeira encarnada.
Vou morrer de saudades dessas pessoas todas que felizmente conseguia ver tão frequentemente e que inevitavelmente vou passar a ver muito menos. Vou passar a ser aquela pessoa de quem dizem: "A Rita! Não a vejo há 3 semanas, ela trabalha tão longe!".

Vou ter saudades, além dos almoços com toda a gente que por aqui anda, de tudo o que eu fazia durante as horas almoço que passava sozinha.
De ir para o último andar do prédio estender-me em duas cadeiras e adormecer ao Sol, de poder atravessar a linha de comboio e sentar-me com os pés a dar a dar para o rio Tejo e perder-me na minha imaginação, de poder apanhar o eléctrico e ir até à baixa passear e comer castanhas assadas.
Até vou ter saudades da Eva! Estranhamente a depiladora de toda a gente que eu conheço que faça a depilação em Lisboa. Que apesar de ser bruta, rápida e uma verdadeira agência Lusa de todas as minhas amigas e ainda das amigas delas, foi também a única pessoa que eu conheço que foi capaz de me dizer: "Ai Rita tu vê-se mesmo que ainda não arranjaste namorado novo! Andas cada vez mais gorda rapariga tu arranja-me um homem rapidamente! Eu cá quando o meu marido me deixou por outra deixei de comer e fiquei um espeto, obriguei-o a voltar para mim só para lhe dar um pontapé no cú!".

E vou ter saudades da proximidade. Proximidade de casa, do centro de Lisboa, de ir almoçar com o meu pai, dos almoços com a minha mãe onde quer que seja, de poder fazer comprinhas à hora de almoço, do perto que estou das aulas em que podia chegar às 6h10 e ter lugar na 3ª fila!
Agora já sei que por não querer ir para a última fila porque senão desconcentro-me e viajo interminavelmente pelo mundo fascinante que vive dentro da minha cabeça, vou ter que ir para as filas da frente e passar pela maior marrona de todos os tempos.

Vou ter saudades de andar de mota.
Bem sei que a minha mota está parada há dois meses e que tenho sido a maior preguiçosa do mundo mas a verdade é que agora que vou voltar a poder andar nela, não me vai servir de muito para ir para tão longe todos os dias.
Vou ter saudades de não ser dependente do carro. Como nunca fui, como sempre me recusei a ser, como só comecei a ser desde que começaram as aulas e apenas quando há aulas. Saudades de me sentar no comboio a ler um livro ao final do dia e de estar em casa passados 10 minutos. Saudades de todas as pessoas que, por isso mesmo, sempre se cruzaram por mim ao longo dos meus dias e que vão deixar de o fazer porque vou deixar de andar a pé na rua.

Pensando bem, até vou ter saudades de algumas coisas neste escritório. Os mimos todos que nunca me faltaram. O meu computador rapidíssimo e os meus phones enormes e confortáveis com os quais oiço tudo o que quero e quando quero sem ter que dar explicações a ninguém. A minha cadeira confortável e a liberdade que é poder ter uma sala só para mim.
Vou ter saudades do tempo que tenho para as minhas divagações constantes em que me perco de mim própria e quando me reencontro já escrevi centenas de páginas seguidas cheias de nada, ou cheias de mim, não sei.
Saudades deste blog que vai inevitavelmente ser um bocadinho abandonado porque não vou ter tempo sequer para pensar no que gostaria de escrever.

Vou ter saudades de tanta coisa... Quando olhar para trás, para este ano e meio aqui em Santos, vão ser mais as recordações boas que as más.
Mas quando olhar para a frente não vou ter pena de nada disto... Tenho a certeza que o futuro será ainda melhor. Não trocava o que aí vem por nenhuma destas coisas das quais vou morrer de saudades.
E, afinal de contas, em Oeiras também vai haver com certeza muitos almocinhos.

6.12.07

O esfolar da cauda...

Há um ditado qualquer que começa com isto... "O esfolar da cauda..." ..qualquer coisa.
Não me lembro.
Mas sei que é verdade.
O final é sempre o que custa mais. Estou aqui nos meus últimos dias e tudo o que sempre correu tão bem está-se agora a revelar extremamente mais difícil de acabar.
As últimas semanas foram o fechar das minhas duas revistas, da perfumaria Oh! Lá Lá e da perfumaria Balvera e estranhamente deram muito mais trabalho do que as 3 anteriores que eu já tinha feito.
Talvez por ter sido enquanto estava em exames, talvez por se ter tudo atrasado para cima do Natal. Não sei.
Sei que acabaram. Uma já por aí anda e outra deve ser impressa ainda esta semana. E sim, é impressa e não imprimida porque estou a conjugar o verbo com o verbo ser, e não ter.

Assim sendo, e já que nunca partilhei muitos dos conteúdos "aprofundados" que escrevi profissionalmente, aqui ficam os meus conselhos para este Natal, tal como foram publicados na minha última revista Balvera. Quem quiser ver a revista ao vivo basta ir a uma das 19 perfumarias... localizadas no norte do país (nem sei bem onde).


"Fim de ano em beleza

Com a aproximação do Natal, todas as proibições que nos impusemos ao longo do ano tornam-se difíceis de respeitar. Dos incontornáveis fritos aos irresistíveis doces, de festa em festa, rodeados de familiares e amigos que se deliciam como nós nas vitualhas natalícias, a verdade é que a época se transforma em excepção e põe em causa tudo o que conseguimos ao longo dos meses com tanto sacrifício. Época de excepções, o Natal é assim... ou não seria o nosso Natal!


Alimentação equilibrada
As semanas que atravessamos são verdadeiramente diferentes. Ao longo de dias a fio, corremos inúmeras festas, desde as festas de empresa, às festas de família e, após o Natal, ainda nos ficamos a deliciar (se ainda houver apetite para tanto) com restos e sobras, deixando para trás todos os cálculos calóricos que tínhamos aprendido a fazer com tanta eficácia e rigor.
No entanto, em vez de nos culpabilizarmos, talvez seja melhor enfrentar estas provações e encontrarmos formas de atenuar os danos e ficarmos de bem com o nosso corpo, a nossa pele... e a nossa consciência.
Em primeiro lugar, se tivermos em conta a alimentação equilibrada que conseguimos no nosso dia-a-dia, não será certamente uma pequena época de excepção que irá fazer a diferença, desde que saibamos retomar os nossos bons hábitos.
Encaremos pois alguns pequenos truques que podemos seguir, sem sacrificar as nossas tradições de Natal, que podem acabar por fazer uma pequena diferença e ajudar-nos a entrar no Novo Ano com alguma “leveza”.
A regra número um é não exagerar. Apesar da grande quantidade de alimentos tentadores com que convivemos nestes dias, podemos e devemos escolher apenas aqueles de que gostamos verdadeiramente, saboreando-os o mais devagar possível, tendo sempre em conta o especial que é podemos ter estes pequenos prazeres nesta época do ano.
Apesar de ser uma época onde os exageros são mais frequentes, o ideal é tentar manter uma rotina equilibrada como no resto do ano. Nunca deixar de parte o pequeno-almoço, com remorsos dos excessos da véspera, nem passar uma tarde inteira sem um pequeno lanche, uma maçã ou um iogurte, apenas na perspectiva de um grande jantar. O maior erro é deixar que a fome se alie à vontade de comer.
Sem quebrar tradições e mesmo sem que ninguém repare, é possível fazer pequenas alterações nos pratos típicos que podem fazer grandes diferenças. Há muitos alimentos supérfluos que não fazem parte da tradição e que podem ser cortados. Entre eles estão os fritos, como os croquetes e os rissóis, os folhados e os sempre presentes frutos secos.
No que se refere às nossas escolhas, podemos seguir pequenas regras que nos ajudam a não exagerar durante esta quadra. Podemos definir previamente quais as sobremesas de Natal favoritas e destinar uma para cada refeição, não ficar demasiado tempo à mesa e saber pôr fim à temporada de Natal.
A partir daqui não temos necessariamente que entrar numa dieta rigorosa para anular os exageros, mas sim que voltar à nossa alimentação equilibrada habitual. O corpo saberá reagir da melhor forma e procurará queimar as calorias consumidas em excesso.

A beleza em festa
Em tempo de festa, não nos devemos esquecer da nossa própria beleza. Os dias (ou noites) de festa são precisamente aqueles em que procuramos sentir-nos mais bonitas e mais confortáveis, contentes com o corpo, com o rosto e com o aspecto com que nos apresentamos em sociedade.
A perfumaria é o melhor aliado para esta época festiva. É lá que podemos encontrar o último toque de elegância ou glamour que tantas vezes faz falta.
Os tratamentos de beleza, para o rosto e corpo, vão-nos permitir ter uma pele bonita e cuidada. A maquilhagem permitir-nos-á darmos o toque festivo, que fará toda a diferença. E o perfume poderá ser a afirmação da nossa personalidade e do nosso gosto. Quem sabe se o perfume escolhido não será uma forma de sedução ou não deixará em alguém uma memória para não mais esquecer?

O prazer de oferecer
Nesta época natalícia as perfumarias enchem-se e animam-se, o que prova que o perfume é e continuará a ser uma das ofertas mais procuradas. Presente único e inesquecível, o Perfume traduz sentimentos e afectos. Ninguém oferece um perfume qualquer, de qualquer maneira, sem um critério que não seja um critério de intimidade, de conhecimento da pessoa a quem se oferece.
Ao entrar na Perfumaria, nesta época do ano, chama-nos a atenção a quantidade de embalagens natalícias, em que os perfumes são acondicionadas em embalagens irresistíveis, por vezes acompanhados de uma oferta de um produto da mesma linha ou dum acessório a condizer. Sabia que a maioria desses coffrets não custam mais do que o preço do perfume? O melhor é não hesitar muito, porque muitos desses coffrets são edições limitadas, não se repetem, o que faz deles presentes únicos e irrepetíveis.

Maquilhagem de estrelas (de Natal)
Inverno e Natal rimam com maquilhagem de festa (ver pág. 22). Uma maquilhagem de festa distingue-se da maquilhagem do dia a dia pelo seu glamour. As diferentes marcas de maquilhagem sugerem-lhe produtos, tonalidades, texturas e brilhos criados especialmente para brilharem à noite, beneficiando das luzes (mas também das sombras). Uma boa maquilhagem de festa pode fazer toda a diferença num momento especial e fazer-nos sentir mais bonitas e mais confiantes.
O princípio mais básico é o de saber não exagerar. O requinte está muitas vezes na forma discreta de brilhar. O importante é que a maquilhagem se conjugue na perfeição com a sua personalidade. Se for adepta de uma maquilhagem discreta, não precisa de se tornar exuberante para ganhar o seu glamour. Quem a conhece bem, irá reparar certamente nos retoques subtis que fizeram a sua maquilhagem diferente. Só assim se sentirá verdadeiramente confortável ao longo de uma noite de festa.
É importante que utilizemos apenas as cores com as quais nos sentimos melhor, descobrindo os pequenos truques que lhe dão ao mesmo tempo um ar sofisticado e chique. Nunca esquecer o corrector para as olheiras ou para as pequenas imperfeições, um pó uniforme em todo o rosto para que ganhe um toque aveludado, um traço de lápis para delinear o contorno dos olhos e a indispensável máscara para as pestanas. As sombras, o bâton e as unhas devem ser dos tons que dominam a moda da estação ou das nossas cores favoritas, mas devemos ter sempre em conta que um bâton vermelho é um acessório clássico que, apesar de já não ser obrigatório numa maquilhagem de festa, é sempre uma aposta segura que favorece todas as mulheres.
Se tiver dúvidas sobre a maquilhagem que deve utilizar ou pretender descobrir novos tons e texturas, fale com as nossas colaboradoras nas lojas. A missão delas é ajudar as mulheres a serem bonitas. E fazem-no com grande entusiasmo!

O Natal é uma época em que nos podemos permitir a quebrar alguns hábitos e a cometer algumas excepções mas não deverá ser visto como uma época de menor preocupação ou mesmo desleixo. É, pelo contrário, uma época de festa em que devemos estar mais elegantes que nunca e sempre conscientes que a beleza não tira férias. É uma época em que podemos aproveitar para vestir aquelas roupas que nem sempre temos oportunidade de vestir e maquilharmo-nos e perfumarmo-nos como tantas vezes gostaríamos mas como nem sempre fazemos. Todas as desculpas são possíveis, afinal de contas… é Natal!"


Espero que tenham gostado.

Num blog isto fica gigante, mas numa revista são duas páginas de texto.