7.1.09

Goodnight Kiss

Passa da meia noite e a apresentação é amanhã... Mas é sempre assim, até a minha mãe se ir deitar nem penso em começar. Não consigo, nesta casa pura e simplesmente não me consigo concentrar sempre rodeada de gente. Por muito que saibam que estou a estudar ou a trabalhar e que não quero ser interrompida, vêm sempre perguntas e perguntinhas, inúteis e desnecessárias de quem quer mais marcar presença do que realmente obter uma resposta.
Nunca pensei que em toda a minha vida nesta casa, após anos da normal perseguição fraternal e outros tantos de adolescência complicada em que ter favolas e caracóis não faz maravilhas pela nossa auto-estima, nunca pensei que o mais difícil fosse mesmo ficar filha única.
Mas é o que sou.
Manos casados e cheios de filhos e eu de repente sozinha com duas pessoas numa casa que sempre foi de 6 no mínimo.
Mas adiante, que se faz tarde.
As perguntas começam, do outro lado da camilha. Quer companhia? O que é que está a fazer? Já tem tema para a tese? Mas devia pensar nisso, não era? Já tem quem a oriente?
Não é preciso, obrigada. Não estou a fazer nada. Não tenho tema. Sim devia pensar, vou ter orientador mais tarde.
É tudo mentira, estou a fazer várias coisas, incluindo escrever no meu blog e ver a A Patologista, já tenho tema de tese e estou a trabalhar nisso agora mesmo e realmente tenho que pensar no meu orientador. Mas não me apetece responder. Estas conversas já não são o que eram, por muito que me custe admití-lo.
Mas o que me enerva é que quando é mesmo, mesmo necessário, só me consigo concentrar sob pressão. No último momento. O prazo é amanhã e eu escrevo no meu blog. E escrevo porque tinha um pedido para escrever. Porque não tenho escrito e até me tem passado imensa coisa pela cabeça para eu escrever mas nunca pareço ter um computador à mão.
E antes de escrever no blog, antes de ser meia-noite, trabalhei? Não. Fui beber um cházinho à praia e antes disso estive a ver televisão porque me era impossível concentrar-me na minha tese antes de ir beber um cházinho. Primeiro tinha que matar saudades, senão não me conseguia concentrar.
E não matei! Nem por sombras. Mas nunca mato, nunca matamos. São sempre horas que voam em minutos e um "até já" que dura anos a passar. Mas não me posso alongar sobre este tema, que tenho que ir trabalhar. Vou-lhe só escrever um mail, assim pequenino, um goodnight kiss.