14.2.11

worst valentine ever

A solidão é uma coisa estúpida. Aparece de repente e quando se instala na nossa cabeça, é impossível de limpar. Transforma o mais simples dos dias no mais infernal de todos. E então se o dia já não era simples… imagine-se o resultado.

A solidão é infernal.

E coloca-nos questões estúpidas, nas quais nunca ninguém se lembraria de divagar. Qual das duas hipóteses a pior: não ter namorado no dia dos namorados ou ter o melhor namorado do mundo a milhares de quilómetros de distância?

Pronto, eu refaço a pergunta. Obviamente ter o melhor namorado do mundo é sempre melhor que não ter namorado nenhum, não quero parecer ingrata ou inconsciente da minha sorte.

O que pergunto é: qual das duas hipóteses torna mais difícil o dia dos namorados?

Porque para uma pessoa que não tem namorado, este é um dia piroso, de incentivo desnecessário ao consumismo, onde os namorados deviam ter vergonha de sair à rua porque não vêm que vítimas da sociedade que estão a ser. É infantil, forçado e tonto.

Já para quem tem o namorado por perto, tudo é indiferente. Sendo piroso ou não, comprando chocolates e flores ou não, basta esticar a mão e o namorado está lá. E quando está, e quando se troca aquele sorriso especial que diz “que bom que é ter namorado no dia dos namorados”, todas as críticas e gozos são desnecessários porque o que interessava era só isso: só esse sorriso, só essa companhia, só esse beijo.

E é por isso que eu chego a esta conclusão. Provavelmente não há nada mais difícil no dia dos namorados, pelo menos para o coração de uma romântica incurável que aproveita cada pequena ocasião para celebrar as coisas boas da vida, nada mais difícil do que passar o dia dos namorados corroída de saudades do namorado.

E corroída de saudades não é só cheia de saudades. É mesmo a rebentar, é mesmo a pensar que este dia é para esquecer, só quero que acabe.

Mas há sempre Deus, ou o Universo ou alguma força superior que tem a capacidade única de me surpreender e mostrar-me que eu estava a ser egocêntrica. Que podemos sempre bater mais fundo. Que não é preciso grandes mudanças melodramáticas como ser teletransportada para a Somália e transformada numa criança com fome ou ser despedida e despejada de casa num só dia, para conseguir ter um dia ainda bem pior do que imaginámos à partida.

Não. Deus, ou o Universo ou alguma força superior, sabe sempre como jogar com pequenos detalhes que me fazem querer voltar atrás a não me queixar tanto da minha infelicidade. Mostrar-me que o dia não é assim tão mau. Ter o namorado a milhares de quilómetros de distância, sem saber onde esta relação vai parar ou se tem sequer futuro mas a saber que era ele a nossa pessoa, tudo isso de nada serve. E para mo provar: que tal um dia inteiro de chuva interminável, com a nova franja virada para cima para infernizar cada encontro com o espelho. Não chega? Que tal todas as chamadas telefónicas para África estarem com eco e não se conseguir comunicar. Not enough… que tal bater com o carro a caminho de casa? Já fica mais perto.

Nada no meu dia correu bem. Tenho saudades de viver em casa dos meus pais, quando o gás se acaba logo pela manhã a meio do banho e eu podia seguir o meu dia já consciente de que aquilo não ia correr bem.

Maldito gás natural que me tirou esta premonição de uma utilidade extrema e que agora me faz enfrentar cada dia na inconsciência absoluta do que ele me vai trazer.

Só quero que o dia dos namorados acabe, só me quero esquecer que tenho um namorado lá longe que hoje especialmente me tem ligado muito pouco. Só quero esquecer que existo, que me sinto a falhar em tudo o que me interessa. Que estou gorda, que sou feia, que ando desmotivada para trabalhar. Que só consigo ver televisão.

Quero-me esquecer que se eu fosse o meu próprio namorado, também ia para África e me deixava para tras.

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