11.2.11

Estavas cá

Devia pensar em ir dormir mas sinto um vazio enorme. Cortar a franja em acto de rebeldia não me deu assim tanta força quanto isso.
Não sei de ti. Onde estás, se estás a dormir. Se sim, estás a dormir bem? Se não… onde andas? Não tenho bateria no telefone mas nem o quero por a carregar porque já não tolero mais que não toque. Dói-me o silêncio e a forma como a música do teu toque simplesmente não se ouve. Nem uma mensagem eu sei que lá tenho. Nem um mail. Nem um beijo que me venha parar de qualquer forma possível e imaginária.
Estás a sonhar comigo? Nem sei bem o sítio onde dormes. Um estrado e um colchão numa sala de um apartamento. Uma televisão ligada a um computador e séries até adormecer. Sentes a minha falta? Quanto? Cem, mil, dois mil? Eu sinto milhões.
Durante o dia é mais fácil. A trabalhar, com pessoas, ocupada. Há sempre programas. Queixo-me de que nunca consigo estar sozinha em casa a relaxar quando na verdade tenho sorte por ter tanta gente na minha vida, pessoas com quem nem combino nada, simplesmente fazem parte dos meus dias. Mas os meus dias não estão completos sem ti e quando chega uma hora em que finalmente me encontro sozinha o suficiente para pensar melhor em tudo, quando nem a televisão me consegue distrair… aí sim, dói-me a falta que me fazes.
Se estivesses aqui agora, só o teu sorriso iria conseguir aquecer-me. Não pedia mais nada. Talvez um beijo, assim ao de leve. E a seguir adormecer nos teus braços e dormir agarrada a ti como naquelas noites em que está tanto frio que fingimos que é o amor que nos faz dormir colados como peças de Tetris à beira de congelar.
Mas já não está assim tanto frio, sabes? A caminho de casa pela marginal vim de janela aberta e senti o cheio a maresia a entrar pelo carro. Uma delícia. Um sorriso inesperado numa viagem em que as saudades tuas me ocupam os pensamentos. Será que também cheira a maresia em Angola? Será que vês o mar todos os dias? Será que te lembras que é mesmo oceano que me espreita pela janela do carro todas as manhãs?
Adorava ter-te ao meu lado para não ter que te contar estes pormenores tontos do meu dia-a-dia. Adorava que estivesses dentro do carro quando entrou o cheiro a maresia, que eu pudesse apenas sorrir esse sorriso inesperado mas nem ter que dizer nada porque simplesmente… estavas cá.

Sem comentários: