11.2.11

The Black Swan

Se calhar tinhas razão. Sempre que uma mulher faz uma grande mudança de visual, é porque está a passar por uma qualquer mudança na vida dela.

E é por isso que tens sempre tanto medo das minhas mudanças de visual, bem sei.
Mas às tantas já era hora de admitir que esta é realmente uma fase de mudança. Chega de fingir que a minha vida continua a mesma mas sem ti. Tudo é igual, a casa está igual, o trabalho está igual, o caminho não mudou. As ruas que estavam em obras continuam em obras e o mar continua a sorrir-me todas as manhãs.

Mas eu estou diferente. E como poderia não estar?
Num momento em que todos os meus planos de vida já eram pensados contigo ao meu lado, compreendo que estes planos eram apenas uma ilusão e que tu vais viver para África, tomando essa decisão em três segundos sem sequer me incluíres na equação. E eu já percebi, não fizeste por mal. Nem por bem. Não pensaste. Não achaste que houvesse assim tanta importância a dar à situação.

E foste.

E eu fiquei.

Mas era suposto ter ficado igual?
Morro de saudades tuas, mas se calhar ainda não morro assim tanto. Volto a descobrir-me, a encontrar-me nos pequenos pormenores, que é sempre onde me perco.
Volto ao cinema, volto a pensar, compreendo que parte de mim está adormecida há meses, desde o fatídico telefonema em que me anuncias que te vais embora.
Ainda me lembro das palavras, mas estranhamente o que mais me marca foi a sensação que me ficou na barriga. Um vazio. Fiquei literalmente doente, ou já estava? Nem sei. Deve ter sido dos piores momentos de que me lembro. Toda essa noite, o jantar a fingirmos que estávamos bem, a jantar em família mas a querermos ambos explicar o que sentíamos, os dois em lugares tão diferentes apesar de sentados um em frente do outro. Eu a arder em febre, a pensar se estaria a viver um pesadelo.
Durante muito tempo achei mesmo que não era disso que passava, um pesadelo do qual iria acordar eventualmente.
De pesadelo passou a realidade, com mais pormenores mas menos negra. Lá foste, ficámos bem. Estamos bem, somos óptimos.

Mas era impossível dizer que eu não podia mudar. Vou ter que mudar, não percebes?
Tenho que ser mais forte, tenho que me agarrar a mim própria quando antes me encostava tão facilmente a ti. Estavas cá!
E agora estou sentada nesta cama enorme onde vejo agora que tão poucas vezes dormi sozinha.

E portanto cheguei a casa e, qual cisne branco que tenta desesperadamente soltar-se da bolha de tensão e procura de perfeccionismo em que vive, peguei numa tesoura e cortei a franja. Peguei numa escova e fiz risca ao meio. Mudei o meu visual! Mudei-me.
Uma mudança mínima, eu sei. Mas é o significado que interessa. Preciso de me ver ao espelho e ver outra pessoa. É ridículo continuar a ver a pessoa que acorda para passar mais um dia à espera do momento em que vai estar contigo. É ridículo ver a pessoa que tenho sido nos últimos meses porque já não o consigo ser mais!

Chega de esforço, chega de contar os dias que faltam para tu chegares, que são cinquenta sem tirar nem por. Chega. Sabes porquê? Porque quando chegares vais-te embora novamente. E depois novamente. E eu fico sempre aqui a contar os dias até vires. A contar semanas que equivalem a quilos que quero perder. Sete semanas, sete quilos, seis semanas, seis quilos.


E não digo que não continue agradecida por te ter na minha vida. Continuo. Sinto-me uma pessoa abençoada por ter alguém como tu ao meu lado. Cada vez que vejo nos teus olhos que gostas de mim tal e qual como eu gosto de ti, penso que não preciso de mais nada no mundo inteiro para ser feliz. E não preciso mesmo!
E sim, prefiro ter-te longe e quem sabe perder-te por estarmos longe, do que nunca te ter tido.
Mas isso não implica que esta distância não me mude como pessoa. Que não me faça pensar, sentir, avaliar. Em certo momentos desesperar e gritar, noutros simplesmente chorar.

Sabes? Sinto-me como as quatro estações por dia nos Açores: em cada dia sinto tanto e tão diferente, como é que era possível chegar ao final do dia a mesma pessoa que acordou de manhã? Depois de sol, de chuva, de frio, de humidade. Depois me caírem folhas, depois de nevar, depois de um sol tórrido e de mergulhos em mares de lágrimas.

Alguma coisa tinha que mudar e tu tinhas razão!, uma rapariga muda de visual quando sente que muda mais qualquer coisa…

Mas há coisas que nunca mudam. Já passa da meia-noite… já só faltam 49 dias.

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